VW Gol 1000: o primeiro Gol com motor 1.0 Ford

O Volkswagen Gol vai ser falado por muito tempo. Lançado em 15 de maio de 1980, vendeu mais de 8.500.000 unidades no Brasil e em alguns países mundo afora. É o carro mais vendido do mercado nacional, recorde que dificilmente será batido por outro veículo. Curiosamente, a troca de gerações do hatch sempre aconteceu a cada 14 anos. A primeira, lançada em 1980 sob a plataforma BX, teve 3 remodelações, sendo 1984 com o lançamento do motor refrigerado a água para a linha 1985, 1987 e 1990, com a apresentação da linha 1991.

O bom e velho “Golzinho” é quase como um patrimônio automotivo nacional (Foto: VW/divulgação)

O modelo se tornou popular quando, em 1987, chegou à liderança no mercado nacional, posto este ocupado por 27 anos consecutivos. Verdade seja dita: o carrinho nunca foi tão “popular” assim, tanto que as últimas unidades 2023 ainda à venda tem preço sugerido de salgados R$78.160,00 na versão 1.0 12v sem opcionais. Em 1989 por exemplo, um Gol GL custava NCz$10.687,49, equivalentes hoje a R$101.756,68, e o CL era um pouco mais em conta.

Verdade seja dita: preço baixo nunca foi o forte do Gol, quer seja nos anos 80 ou em 2023 (Foto: VW/divulgação)

Por anos o GM Chevette foi o carro mais barato, e nos anos 90, uma guerra foi feita pelas marcas quando em 1990 o governo fez uma redução de 40% para 20% na alíquota do IPI vigente. Dias depois a Fiat lançou o Uno Mille, e 1 ano e meio depois a GM apresentava o Chevette Junior. A Volkswagen respondeu com o que tinha na prateleira, e mesmo com o projeto da nova geração do Gol a todo vapor (o Bolinha, que chegou em 1994), lançou no final de 1992 o Gol 1000, ainda com carroceria quadrada. Os argumentos eram rasos, mas convenciam os clientes empolgados com o marketing forte e a novidade em si.

A VW não deixou barato e veio com o Gol 1000 no final de 1992 (Foto: VW/divulgação)

O carro nasceu com um conjunto mecânico bastante antiquado, mas elogiável por sua confiabilidade e suavidade de funcionamento. Batizado de AE-1000, o motor, criado a partir do AE-1600, que por sua vez era a evolução do CHT da Ford, superou o projeto original. Tinha 997 cm³, gerando 50 cv de potência a 5800 rpm e 7,3 kgfm de torque a 3500 rpm. Sua potência específica era superior à versão 1.6: 50,1 cv/litro, ante 46,3 cv/litro.

Motor AE-1000 nada mais era que um CHT modificado (Foto: VW/divulgação)

Os pistões tinham menor diâmetro, e as camisas dos cilindros eram as mesmas do finado Ford Escort 1.3. O curso do virabrequim também foi reduzido, e as bielas eram 10 mm mais altas para compensar a diminuição de curso, o que proporcionou menos vibrações ao motor. Além disso, a engenharia da Volkswagen reduziu os dutos do coletor de admissão e as válvulas de admissão, garantindo maior eficiência na queima de combustível.

A transmissão de cinco marchas, de origem VW, tinha novo escalonamento: 1ª e 2ª curtas, exclusivas da versão 1000, 3ª igual à versão 1.6, 4ª do Gol GTS e a 5ª era reaproveitada do antigo AP-1800 do Gol GT, mais longa. A relação de diferencial era bem reduzida, com 4,78:1.

Tais alterações garantiam ao carro, que mais parecia um “bloquinho de rapadura”, um desempenho aceitável se comparado aos seus concorrentes diretos: fazia de 0 a 100 km/h em 20,04s e chegava aos 136,4 km/h de velocidade máxima. Com 1 litro de gasolina, percorria 10,24 km na cidade e 14,16 km na estrada. Comparado com a versão CL, o 1000 era mais espartano: nada de frisos laterais ou retrovisor do lado direito (ambos opcionais). Seu logotipo era em adesivo, e, de acordo com a marca, buscava uma identificação com os jovens. O “festival” de cores parava por aí.

Por dentro era cinza claro, e trazia o básico do básico: câmbio de 5 marchas, bancos reclináveis com revestimento em tecido navalhado, encostos de cabeça nos bancos dianteiros, cobertura do porta-malas, ventilação forçada de três velocidades, esguichador e temporizador do limpador de para-brisas. Como opcionais, pintura metálica, ar quente, frisos laterais, limpador/desembaçador do vidro traseiro e espelho retrovisor do lado direito. As rodas, de ferro, tinham aro 13 e vinham do antigo Santana CL e Passat GL Village, porém com estreitos pneus de perfil 145.

A receita deu certo e o modelo agradou em cheio, pois mesmo com a chegada da nova geração em meados de 1994 e do novo Gol 1000i no início de 1995, o modelo de geração antiga foi oferecido como carro de entrada até meados de 1996. Falando da nova geração, o Gol 1000i era muito mais espaçoso e oferecia mais opcionais.

Gol 1000i de nova geração tinha o mesmo motor, mas maior potência e opcionais (Foto: VW/divulgação)

O motor era o mesmo, porém dotado de injeção eletrônica monoponto, o que melhorava e muito a eficiência do jurássico CHT “fantasiado”. Identificado como AE-1000i, tinha 49,8 cv de potência a 5800 rpm e 7,3 kgfm de torque a 3500 rpm, permitindo acelerar de 0 a 100 km/h em 19,95s, chegando aos 145,3 km/h.

Seu câmbio tinha as mesmas relações de marcha, mas com diferencial mais longo, com relação de 3,76:1. A melhora em desempenho se dava, em grande parte, à aerodinâmica mais eficiente da nova plataforma, onde surgia o apelido “Gol bolinha”, quando comparado ao “Gol quadrado” da primeira geração. Seu consumo de gasolina era surpreendente para os padrões da época, atingindo 13,44 km/l na cidade e 15,96 km/l na estrada.

Interior continuava simples, mas menos que o da carroceria quadrada (Foto: reprodução/Armazém do Vovô)

Agora o Gol 1000i tinha duas versões, sendo a 1000i a básica e a 1000i Plus mais equipada, logo se tornando a queridinha do público. Esta versão tinha como itens de série banco traseiro bipartido, catalisador, desembaçador e limpador do vidro traseiro, janelas laterais basculantes, porta-copos na tampa do porta-luvas, retrovisores externos com comando interno e vidros verdes. Como opcionais, ar-condicionado, direção hidráulica, vidros, elétricos, travas elétricas, alarme, calotas e pintura metálica. Os para-choques não tinham pintura da cor do veículo, o que mudaria dois anos depois, e as rodas, exclusivas do modelo, eram aro 13 com pneus 155SR13. 

1000i Plus era a versão mais luxuosa de um popular, algo como a Fiat fez com o Mille ELX (Foto: VW/divulgação)

Bastante silencioso e moderno, carecia de mais desempenho, já que a concorrência atacava forte. O problema foi sanado com a extinção da Autolatina – Joint venture firmada entre VW e Ford de 1987 a 1996, quando a Volkswagen lançou em 12 de outubro de 1996 uma nova fábrica de motores e um novo propulsor para sua gama mais vendida: o motor AT-1000, a primeira versão do EA-111.

Novo motor AT1000 do Gol foi muito bem recebido (Foto: VW/divulgação)

Dotado de injeção eletrônica multiponto, 54,4 cv a 5.000 rpm e 8,5 kgfm de torque a 3500 rpm, logo ficou famoso como “motor Mi”, tendo desempenho bastante digno e mantendo as boas médias do antigo AE-1000i.

Mi Plus era a versão de estreia do novo motor (Foto: VW/divulgação)

Como havia estoque remanescente, algumas unidades do Gol 1000i (já sem a cilindrada no nome a partir de 1996, apenas “Gol i” e “Gol i Plus”) foram fabricadas em 1997 com o motor AE. Em março daquele ano, saía oficialmente de linha a família de propulsores AE, que entrou para a história como uma das principais alavancas de venda do carro mais comercializado da história do Brasil.

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.