VW Gol C: a versão de frota substituta do Gol BX

Foto de capa: Fábio Garcia

O Volkswagen Gol é o carro mais vendido do mercado nacional. Ao todo, foram mais de 8.500.000 unidades comercializadas no Brasil e em alguns países mundo afora em seus 42 anos de fabricação. A primeira geração, lançada em 1980 com a plataforma BX, teve três remodelações, sendo a primeira em 1984 com o lançamento do motor refrigerado a água para a linha 1985; em 1986, quando foi apresentada a linha 1987; e 1990 com a chegada da linha 1991, de frente mais baixa e faróis finos. 

Para contar a história do Gol C, precisamos entender alguns cenários econômicos da época, meados dos anos 80. O Brasil estava afundado em uma crise econômica sem precedentes, e os brasileiros viviam a esperança dos novos tempos após o término do regime militar. O presidente eleito através de voto indireto pelo colégio eleitoral Tancredo de Almeida Neves não chegou a assumir a presidência. Seu vice, José Ribamar Ferreira de Araujo Costa, vulgo “José Sarney”, tomou posse em 15 de março de 1985. 

O país vivia uma inflação galopante, quando em 28 de fevereiro de 1986, o então presidente, anunciou o Plano Cruzado. “O plano congelou preços e salários e substituiu a moeda corrente, o velho cruzeiro, pelo cruzado, sendo que o cruzeiro correspondia a um milésimo do cruzado”, recorda o professor de economia Luiz Roberto Azevedo Cunha, decano da PUC-RJ e que atuou como secretário de Abastecimento e Preços nos primeiros meses do plano. Foi desastroso, e para se prover um reajuste, a única saída era apresentar novos produtos, caso da VW. 

A linha Gol tinha as versões BX, Furgão, S, LS, Plus e GT, sendo o BX o modelo de entrada, usando o motor 1600 refrigerado a ar e câmbio de 4 velocidades, com 51 cv de potência a 4400 rpm e 10,5 kgfm de torque a 3000 rpm na versão a etanol. Esta mecânica era compartilhada também com o Gol Furgão.  

Versões como a LS já tinham motor 1600 a água, o famoso AP-600 (Foto: VW/divulgação)

Os S, LS e Plus usavam o motor 1.6 AP-600 e câmbio de 4 velocidades, com 85 cv de potência a 5600 rpm e 12,65 kgfm de torque a 3000 rpm (etanol). No topo, a estrela Gol GT, primeira versão do hatch com motor refrigerado a água, usava o 1.8 AP-800 e câmbio de 5 marchas, rendendo 99 cv declarados a 5400 rpm e 14,96 kgfm a 3200 rpm (na sua versão a etanol). No caso do GT, para pagar menos imposto, a VW sacrificava a ficha-técnica, mas testes da época confirmavam: na verdade ele tinha 106 cv. 

Inédita versão 1.8 veio no Gol GT: um foguetinho que, na verdade, tinha 106 cv (Foto: VW/divulgação)

Ainda em 1986 foi apresentada a linha 87, ao passo que a família Gol recebia o segundo facelift, mantendo o interior intocado. Usando a brecha do plano Cruzado, a VW renomeou as versões de seus produtos, criando assim “novos carros”.  

 

O Gol BX foi descontinuado em novembro de 1986, substituído pelo Gol C, enquanto o S virou CL, o LS virou GL, o Plus também foi descontinuado, e o GT virou GTS. Os Gol C e Gol Furgão ganhavam enfim o motor AP-600, que agora fornecia, a álcool, potência de 90 cv a 5600 rpm e 13kgfm de torque a 2600 rpm, mantendo o velho câmbio de 4 velocidades. Os CL e GL, simultaneamente, recebiam a transmissão manual de 5 velocidades, e o GTS não sofria alterações mecânicas.  

O Gol C, novo modelo de entrada, era extremamente espartano, e compartilhava o acabamento com o Furgão. Seus bancos tinham acabamento em vinil, e o câmbio, como dito acima, era de apenas 4 velocidades. O painel trazia nada além das informações básicas como velocímetro até 190 km/h, odômetro total até 99.999 km, marcadores de temperatura e nível de combustível, luzes-espia e iluminação com reostato de intensidade. 

O Gol C não tinha os frisos externos, mas ao menos trazia ventilação forçada com 3 velocidades, quebra-vento nas janelas, rodas aro 13 tala 4,5” usadas anteriormente pelo Gol BX e pneus 155SR13. Como opcionais, encostos de cabeça nos bancos dianteiros, retrovisor externo do lado direito com regulagem interna e rádio AM/FM.  

O CL tinha um pouco mais de conteúdo: bancos dianteiros forrados com tecido comum, além de câmbio 5 marchas, frisos externos, calota metálica central nas rodas de aço aro 13 tala 5” (as mesmas da linha Voyage) e pneus 155SR13. Como opcionais, rádio AM/FM, ar quente, banco traseiro bipartido, retrovisor do lado direito, desembaçador do vidro traseiro, e pintura metálica. 

O Gol C era figurinha rara, sendo adquirido exclusivamente por empresas e destinado a frotas, enquanto o CL já era o modelo de entrada do consumidor comum. Ambos foram os principais responsáveis pelo marco de carro mais vendido de 1987 do Gol, algo que se repetiria por 27 anos consecutivos.   

Pouco tempo depois, era apresentada a linha 1988, e os modelos ganhavam enfim um novo interior, com painel inédito em plástico injetado, de design atraente para seu tempo. A instrumentação era a mesma do Golf MK2, ainda simples: velocímetro até 200 km/h, odômetro total até 99.999km, marcadores de temperatura e nível do combustível, iluminação verde com reostato de intensidade e luzes-espia no centro, em LED, que eram um show à parte.  

Neste ano, 1988, o Gol C e o Gol Furgão ficaram ainda mais espartanos, perdendo o quebra-ventos, substituído por uma janela fixa no local, vista anos depois no CL básico 1992 e no Gol 1000 1992/1993, enquanto as saídas de ar laterais do painel eram substituídas por tampas. Sua lista de itens de série permanecia a mesma, assim como os opcionais. O Gol CL não tinha alterações em seu conteúdo. 

O modelo das fotos, de propriedade de Fábio Garcia, é um raro exemplar fabricado em 1987. De cor bege, mantém seu interior imaculado, com os bancos de acabamento em vinil, volante de plástico duro, painel sem recortes para instalação de rádio, bem como as rodas e suas características externas. Possui retrovisor externo do lado direito (opcional), e um sistema de alimentação atualizado, mantendo-se 100% operacional. Foi utilizado em uma viagem de 1000 km, como o próprio Fábio diz, “supertranquila”, mantendo média de 110 km/h, com bastante vigor e sem forçar seu conjunto mecânico. Vale falar que, em algumas fotos, o carro ainda usava as rodas da versão CL cobertas por calotas centrais, além dos frisos laterais, acessório de época, porém hoje ele já ostenta o visual 100% fiel ao de quando foi produzido.

A versão C foi descontinuada em 1989, permanecendo apenas um Gol Furgão básico como modelo mais espartano. Já o Gol CL se consolidou, até a chegada da versão 1000 em 1992, como a versão de entrada do carro mais vendido do Brasil. 

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.