(Comparativo) Renault Megane E-Tech enfrenta Chevrolet Bolt EUV na disputa dos elétricos de R$280 mil

Dois crossovers 100% elétricos metidos a SUV, com dimensões parelhas e o mesmo preço: R$280 mil. O primeiro é o Renault Megane E-Tech, com todo arrojo e futurismo que se espera de um projeto francês de última geração, enquanto o outro, Chevrolet Bolt EUV, aposta mesmo na funcionalidade e praticidade, sem inventar moda nem tentar ousar. Apesar das peculiaridades de cada um, ambos brigam por um público parecido, que quer partir para um carro 100% elétrico espaçoso, com bom alcance e recheado de equipamentos. A briga é boa, e aqui foi dividida em cinco rounds: motorização/desempenho, alcance/consumo, dirigibilidade, espaço interno/porta-malas e itens de série. 

Potência, torque e desempenho 

De fato, desempenho é um ponto que os dois definitivamente não tem em comum. Ambos, claro, oferecem torque instantâneo e toda aquela agilidade de um EV, porém em diferentes formas, e fórmulas. O Megane conta com 220 cv de potência e pouco mais de 30 mkgf de força extraída de seu motor dianteiro, ganhando do Bolt EUV nos cavalos e perdendo nos quilos de torque. Mesmo no modo Eco de condução, que prioriza o menor consumo de energia, suas respostas são mais vivas e imediatas ao comando do acelerador, quase sempre remetendo a pegada esportiva.  

Combina com seu visual arrojado e a proposta de ser o Renault mais rápido da história da marca no Brasil: menos de 7,5 segundos no 0 a 100 km/h. No modo Sport, o “coice” aos ocupantes é forte, e é nele que as diversões ao volante são garantidas, quer seja pela rapidez que o carro ganha velocidade ou a disposição para arrancar de forma imediata aos menores comandos do acelerador.  

O Bolt EUV, com seu propulsor elétrico também acoplado ao eixo dianteiro, entregando pouco mais de 200 cv de potência e nada menos que 36,5 mkgf de torque instantâneo, pode até ter um peso parecido e impressionar com a quantidade de força disponível, mas não pretende ser esportivo. Pelo contrário: ele aposta no conforto, por isso reage de forma mais suave ao comando do pé direito. Com isso, acelera de forma mais progressiva, menos brusca, mesmo quando seu modo Sport é ativado. Ao contrário do Megane, que parece buscar performance já na arrancada mais forte, o Chevrolet permite uma aceleração contínua também nas médias e altas velocidades, sem perder o pique.  

“Lentidão” é uma palavra abolida pelos dois carros. Na prática, o Bolt EUV não fica muito aquém dos números de aceleração do Renault (são 7,7 segundos no 0 a 100 oficial), em que pese os 6 quilos a mais de torque, importantes nos momentos de ultrapassagem ou retomadas com o carro cheio de pessoas e bagagens, por exemplo. Para se ter uma ideia, um Renault Sandero R.S., esportivo nato, levava 8 segundos na mesma prova, enquanto o VW Polo GTS cumpre a prova em quase 8,5s: querendo ou não, Megane E-Tech e Bolt EUV são dois dos mais rápidos do segmento de SUVs compactos no mercado nacional.  

Alcance e consumo 

Com 60 kWh de capacidade das baterias, o Renault se mostrou mais eficiente durante nossos testes, apesar da pegada mais apimentada: utilizando o modo Eco e aproveitando a regeneração máxima de energia (que, ainda assim, não chega a ser a tecnologia One Pedal do Bolt EUV), não ficou tão distante dos 600 km de alcance no uso urbano pesado, aquele cheio de trânsito, evitando ligar o ar-condicionado. Ou seja, cerca de 10 km/kWh, mas isso em momentos de uso ideais para um EV. No dia a dia, foram mais comuns os registros ao redor dos 8,3 km/kWh, combinando com o alcance de 500 km pelo ciclo WLTP. 

Já na estrada, algo que vale muito para sua eficiência em viagens é justamente o modo Eco, que não o deixa ir além de 115 ou 117 km/h de velocidade máxima. Exigindo menos do motor elétrico, claro, a demanda de energia cai: nessas situações, foi possível viajar fazendo até 7,3 km/kWh, o que se traduz em cerca de 438 km de alcance. Pelo PBEV (Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular), são até 337 km com uma carga completa no Megane E-Tech.

Talvez, nesse caso, faça falta ao Bolt EUV um modo de condução mais econômico, coisa que ele não dispõe. Porém, mesmo no uso normal, ele também vai longe com seus 66 kWh: em nossos testes, conseguiu rodar mais de 8,3 km/kWh, beirando os 550 km de alcance nas melhores condições de trajetos na cidade. Porém, no geral, as marcas eram de 7,3 km/kWh ou até um pouco menos se o trecho urbano não tivesse muitas desacelerações, regenerando menos. Ou seja, nesse caso, algo próximo dos 480 km de autonomia, número que pode cair para cerca de 400 km no uso rodoviário mais moderado.  

A vantagem é que dá para chegar com o Chevrolet elétrico em sua velocidade máxima sem mexer nos modos de condução, só que esgotando a carga das baterias em distâncias bem menores. Oficialmente, pelo PBEV, sua autonomia é de 377 km, curiosamente bastante superior à do rival da Renault. O motivo? Difícil saber, mas talvez tenham a ver as limitações de velocidade máxima no modo Eco do Megane (para viajar em velocidade de cruzeiro, a 120 km/h, é preciso desligar o modo de condução econômico, o que aumenta bastante seu consumo de energia). 

Dirigibilidade 

São dois perfis: um mais esportivo, baixo, acanhado e no melhor estilo de cockpit, caso do Megane E-Tech, e outro altinho, arejado, com boa visibilidade e amplitude, como é experimentado no Bolt EUV. O Renault é um carro mais “afiado”, digamos assim: ele tem direção muito direta e rápida, comandada pelo ergonômico volante oval, que requer poucas voltas de batente a batente para esterçar bastante as rodas (a famosa direção “multiplicada”), freios a disco com comportamento exemplar, de pedal sensível e com pouquíssima lentidão aos comandos. A sensação, dependendo do estilo de condução, é de se estar a bordo de um carro alemão, tamanha sua precisão de condução e acertos competentes.  

Entra para o time o conjunto de suspensões mais durinhas, porém sem castigar os passageiros, que vão confortáveis em seu interior. Os bancos baixos, envoltos pelo painel, laterais de portas e console elevado, garantem também uma direção mais esportiva. As janelas pequenas e colunas largas são os lados ruins, afinal reduzem o campo de visão de quem está guiando o carro, sem contar que deixam os movimentos de entra e sai mais complicados (apesar das portas de tamanho normal, os vãos para acessar o interior desse Renault são pequenos). No geral, ainda que tenha comandos voltados ao motorista, ele pode ser mais “estético” do que “funcional”, dependendo do uso.  

Já o Bolt EUV é o tradicional SUV familiar: altinho, cheio de janelas e áreas envidraçadas, com posição de guiar mais elevada e muito conforto a bordo, tanto para quem dirige quanto para quem vai de passageiro. Além de não abrir espaço para críticas quanto a ergonomia dos bancos dianteiros ou traseiros, o Chevrolet é mais macio no comando da direção, frenagens, ao passar por buraqueiras ou absorver irregularidades do solo. Ainda assim, mostrou um ótimo comportamento em curvas rápidas ou desvios bruscos de trajetória, com mínima rolagem lateral da carroceria e nenhum indício de descontrole, inclusive superando o rival da Renault em alguns pontos de dinâmica da carroceria.  

O motorista encontra muita praticidade e conforto nesse Chevy EV, o que inclui o assoalho plano e na mesma altura das caixas de ar, facílima operação das telas da multimídia e instrumentos, comandos diretos e fáceis de serem operados. E nem é por sua produção em Detroit, mas realmente o Bolt EUV parece ser um carro mais adequado ao consumidor norte-americano tradicional, que busca algo prático, macio, suave e espaçoso, enquanto o francês que compra o Renault pode querer outra pegada, mais arisca e voltada para a experiência de direção.  

Foto: Lucca Mendonça

Espaço interno e porta-malas 

Sem dúvidas, vitória do Chevrolet Bolt EUV, que mais uma vez confirma seu lado familiar, se concentrando mais na “razão” do que na “emoção”. Ele empata com o Megane E-Tech na distância entre-eixos, praticamente, apesar de ter 10 cm a mais de comprimento da carroceria (4,31 m de ponta a ponta, com 2,67 m entre os eixos). Porém, por dentro, ganha na altura do teto, vão para as pernas de quem viaja atrás, espaço para os pés dos passageiros traseiros, e permite até uma movimentação mais livre por dentro da sua cabine. Ganha, também, no espaço para bagagens graças ao porta-malas mais amplo e de “boca” grande. 

O Megane E-Tech também é espaçoso, tanto que conta com 1 cm a mais no entre-eixos e dispõe de rodas posicionadas nos extremos da carroceria (menores balanços dianteiro/traseiro), só que é mais baixo que o Chevrolet. Também, por questões de arranjo interno, oferece um pouco menos de folga para pernas, pés e cabeça de quem se acomoda no banco traseiro. A mobilidade, até na frente, onde no meio dos bancos vai um enorme apoio de braço, é um pouco pior que a do Bolt EUV, assim como o movimento de entra e sai. Por consequência do tal arranjo interno mais esportivo e acanhado, sobra menos ao porta-malas, também. 

Itens de série 

As aparências podem sugerir o contrário, porém, na prática, o Bolt EUV traz quase tanto conteúdo de série quanto o Megane E-Tech. O acabamento, no geral, é parelho nos dois carros, com bastante capricho e poucos deslizes (peças plásticas em excesso, ou alguma montagem desalinhada, por exemplo), porém o Renault atrai mais olhares pela ousadia e linhas modernas de painel e bancos, por exemplo, enquanto o Chevrolet segue uma linha mais tradicional e comum, até por conta do projeto mais antigo.  

Além do excesso de menus de personalização do Megane, que permitem mudar desde o modo de condução até o som da seta ligada, conquistando os motoristas que gostam de deixar o carro com a sua cara, o Renault ainda é o único a trazer saídas de ar-condicionado traseiras, câmera no retrovisor interno, luzes dinâmicas nas setas, luzes ambientes em LED, duas zonas do ar-condicionado automático, retrovisores externos rebatíveis, carroceria pintada em dois tons, maçanetas dianteiras retráteis, função de anda e para no piloto automático adaptativo, sensores de estacionamento dianteiros e laterais, sensor de chuva e rodas maiores, de aro 18.

O Bolt EUV compensa com bancos forrados em couro, ajustes elétricos para o banco do motorista, ajuste de altura para o banco do passageiro dianteiro, teto panorâmico, sistema de som mais potente (assinado pela Bose), 10 airbags (incluindo dois laterais traseiros e dois para os joelhos de quem vai na frente), câmeras 360º, bancos dianteiros com aquecimento, apoio de braço traseiro, multimídia maior e com mais funções (10,2”, com apps integrados e conexão com a internet) e possibilidade de roteador 4G a bordo. 

Em comum nos dois carros, freios a disco nas quatro rodas, vários assistentes de condução, painel de instrumentos digital, conjunto óptico em LED, pneus runflat + kit de reparo, chave presencial, partida por botão, volante e retrovisores externos aquecíveis, carregador de celular sem fio, volante ajustável em altura e profundidade, antena tipo barbatana de tubarão, freio de mão eletromecânico, multimídia com conexões sem fio, entre outros. 

Entre França e EUA… 

Todos têm suas vantagens. O Megane é nitidamente um carro mais moderno, jovial e com pegada “hi-tech”, enquanto o Bolt EUV aposta no lado racional de um carro elétrico, com força de sobra e praticidades para um uso cotidiano com menos limitações. Nas tecnologias, equipamentos e níveis de segurança, ambos se garantem, cada um ainda focado na sua proposta inicial. Por R$280 mil, há um elétrico para cada gosto e preferência! 

Ficha técnica e fotos Megane E-Tech:

Concepção de motor: elétrico, dianteiro, refrigeração líquida de baterias e propulsor, conjunto de baterias de íon-lítio instaladas no assoalho, capacidade de energia de 60 kWh
Carregamento 0 a 100%: entrada Tipo 2, recarga via eletropostos (de 1h10min a 8h00min, dependendo da força), wallbox (cerca de 8h00 min) e tomadas 220V (cerca de 32 horas). Regeneração de energia configurável durante condução
Potência: 220 cv
Torque: 30,6 mkgf
Suspensão dianteira: independente, McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: independente, Multilink, com barra estabilizadora
Direção: com assistência elétrica progressiva
Freios: discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira
Pneus e rodas: Continental EcoContact 6, medidas 195/65 e rodas de liga-leve aro 18
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,20 m/1,77 m/1,52 m/2,68 m
Porta-malas: 440 litros
Alcance: 495 km (ciclo WLTP) ou 337 km (ciclo PBEV)
Peso em ordem de marcha: 1.680 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 7,4 segundos
Velocidade máxima: 160 km/h (limitada eletronicamente)
Preço básico: R$279.900

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Ficha técnica e fotos Bolt EUV:

Concepção de motor: elétrico, dianteiro, refrigeração líquida de baterias e propulsor, conjunto de baterias de íon-lítio instaladas no assoalho, capacidade de energia de 66 kWh
Carregamento: entrada Tipo 2, recarga via eletropostos (de 1h45 min a 11h00min, dependendo da força), wallbox (cerca de 11h00 min) e tomadas 220V (cerca de 40 horas). Regeneração de energia durante condução e modo One Pedal
Potência: 203 cv
Torque: 36,7 mkgf
Suspensão dianteira: independente, McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: eixo de torção com molas helicoidais
Direção: com assistência elétrica progressiva
Freios: discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira
Pneus e rodas: Michelin Primacy 3, medidas 215/50 e rodas de liga-leve aro 17
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,31 m/1,77 m/1,62 m/2,67 m
Porta-malas: 462 litros
Alcance: 456 km (ciclo WLTP) ou 377 km (ciclo PBEV)
Peso em ordem de marcha: 1.711 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 7,7 segundos
Velocidade máxima: 154 km/h
Preço básico: R$279.990
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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.