Escort: o primeiro Ford mundial, um clássico atemporal

Foto de capa: Daniel Lopes Honorato

Em processo de tropicalização desde agosto de 1981, o Ford Escort MK3 (que já estava em sua terceira geração na Europa) foi lançado no Brasil em agosto de 1983. O carro causou frisson quando chegou aos concessionários da marca por seu estilo moderno “2 volumes e meio”, por seu acabamento esmerado, mecânica moderna e principalmente por ser o primeiro carro atuando no segmento de entrada e de projeto mundial da marca fabricado no Brasil, argumento em alta nos anos 80.

Lançado em agosto, o primeiro Escort nacional deixava a linha de produção ainda em julho de 1983 (Foto: Ford/divulgação)

Com carroceria de 2 ou 4 portas e disponível nas versões Standart, L, GL e Ghia, o carro global da Ford oferecia 3 anos de garantia contra corrosão, 1 ano de garantia sem limite de quilometragem para motor e câmbio, além de ar-condicionado e teto solar opcionais para as versões GL e Ghia, itens bastante raros na categoria até então.⠀

A carroceria tinha opção de três ou cinco portas (Foto: Ford/divulgação)

Sua mecânica incluía motor 1.3 e câmbio de 4 marchas para a versão Standart (com a 5ª opcional), e motor 1.6 com câmbio de 5 marchas para as versões L, GL e Ghia (opcional no Standart). Foi dele também o mérito de inaugurar no Brasil o motor CHT, uma evolução dos motores Cléon-Fonte dos Ford Corcel e Del Rey, com melhor rendimento e maior torque em baixas rotações.

Foram modificados o comando de válvulas, além de pistões, novo bloco e novo cabeçote, conseguindo extrair uma curva de torque bem mais plana, privilegiando seu funcionamento em baixas rotações, e tornando-se assim referência em economia de combustível por quase uma década.

O Escort foi o responsável por estrear o motor CHT no Brasil (Foto: Ford/divulgação)

Para o Escort, a Weber desenvolveu também à época um novo carburador de corpo duplo, que funcionava tanto em motores transversais ou longitudinais. Denominado DMTB (Duplo Manual Transversal Brasil), este carburador possibilitou à Ford equipar também as linhas Corcel/Del Rey/Pampa com o novo motor CHT logo após o lançamento do Escort. O motor 1.3 equipava Escort e Corcel em suas versões mais baratas, enquanto a versão 1.6 era destinada aos Escort e Corcel mais caros, além de Belina, Del Rey, Scala e Pampa.⠀

Fora o moderno sistema de ajuste automático da folga da embreagem deste novo motor, que eliminava a necessidade de constantes regulagens, o Escort tinha também suspensão independente nas quatro rodas, elogiada por sua maciez, mas criticada pelos apressadinhos que gostavam de contornar as curvas em altas velocidades.

De concepção interessante e moderna, o popular da Ford contava com suspensões independentes nas quatro rodas (Foto: Ford/divulgação)

O compacto da Ford desbancava até mesmo seu irmão maior Corcel no quesito manutenção, com trocas de óleo realizadas a cada 10.000km (até então o padrão era 5.000km), e sem a necessidade de troca de óleo do câmbio, que era do tipo long-life. Seus pneus eram exclusivos, na medida 165SR13, que garantiam o conforto em sua rodagem.

Em um primeiro teste para a Revista 4 Rodas, o carro, equipado com motor de 1,6 litro a álcool com 73 cv a 5.200 rpm e 11,6 kgfm de torque a 3.600 rpm, fez de 0 a 100km/h em 13s58 e atingiu 160,7 km/h de velocidade máxima. O que impressionou foi seu consumo, fazendo 9,63 km/l no circuito urbano e 14,59 km/l no circuito rodoviário, com velocidade média de 80 km/h. A 100 km/h, ainda tinha média excelente de 12,20 km/l de álcool.

Chamavam a atenção o conforto e silêncio a bordo do Escort (Foto: Ford/divulgação)

A versão 1,3 também foi testada pouco tempo depois, e seu motor a álcool de 62,8 cv a 5000 rpm com 10,5 kgfm de torque a 2.800 rpm foi capaz de levar o Escort de 0 a 100km/h em 18s22 e atingiu 149,377 km/h de velocidade máxima. Ainda nos testes da revista, o carro fez 9,07 km/l no circuito urbano e 13,98 km/l no circuito rodoviário, com velocidade média de 80 km/h. A 100 km/h, ainda tinha média de 10,93 km/l. Com números inferiores ao 1.6, essa versão básica não sobreviveu mais que 1 ano e meio em produção.⠀

Ainda no final de 1983, chegava o marcante Escort XR3 (Foto: Ford/divulgação)

Em dezembro de 1983, foi lançada a versão XR3, um cobiçado esportivo com motor recalibrado, intitulado CHT HP (High Performance). Com seus defletores aerodinâmicos, rodas aro 14 com pneus 185/60, teto-solar e bancos esportivos, trazia uma receita apimentada para render mais desempenho, além de opcionais como ar-condicionado e rodas de liga-leve, já que, básica, a versão trazia de série rodas de ferro com as belíssimas e hoje extremamente raras calotas alemãs.

O CHT HP presente no XR3 trazia mudanças no diâmetro das válvulas e novo comando, além de inéditos coletores de admissão e escape. Exclusivamente a álcool, possuía suspensão mais estável graças a sua calibragem rígida, priorizando a estabilidade da carroceria.

Além do visual apimentado, o XR3 trazia importantes mudanças mecânicas (Foto: Ford/divulgação)

Seu motor de 1,6 litro fornecia 82,9 cv a 5.600 rpm com 12,8 kgfm de torque a 4.000 rpm, capaz de levar o esportivo de 0 a 100km/h em 14s34 e atingir 165,138 km/h de velocidade máxima. Fazia 8,02 km/l no circuito urbano e 11,69 km/l no circuito rodoviário, com velocidade média de 100 km/h.

Não era um carro ágil, em muitas vezes até mais lento que a versão Standart ou L (mais leves), mas era mais veloz que as demais, ganhando principalmente com maior velocidade final. Seu estilo marcou gerações, e o carro virou sonho de consumo de muitos endinheirados da época. No lançamento, o Escort XR3 custava Cr$8.117.039,00, equivalentes a R$120.696,37 atuais, em conversão pelo INPC.

Série especial, a GL Special chegava com equipamentos da Ghia (Foto: Ford/divulgação)

Em 1984 foram lançadas as versões especiais como a GL Special, com calotas da versão Ghia, filetes nas laterais e carroceria na cor Prata, ou XR3 Pace Car, esta última limitada a 350 unidades fabricadas entre fevereiro e março daquele ano, em alusão ao GP Brasil de Fórmula 1, ocorrido em 15 de março daquele ano. Ayrton Senna chegava à F1 neste GP, e depois virou inclusive garoto propaganda da Ford no Brasil.

O XR3 Pace Car exibe faixas azuis laterais com o nome da edição especial, parachoque traseiro da versão L, carroceria branca e rodas de liga-leve na mesma tonalidade. Sua mecânica é a mesma do XR3 comum, diferentemente do Pace Car que apareceu nas telas do GP Brasil de Fórmula 1, que trazia motor turbo com 200cv.

Primeira série especial da XR3, a Pace Car era baseada no XR3 com motor turbo de 200 cv que serviu de carro de segurança (Pace Car) durante o GP Brasil de Fórmula 1 de 1984 (Foto: Ford/divulgação)

Ainda em 1984, o Escort recebia o título de Carro do Ano pela revista Auto Esporte. Em 1985 foi lançado o XR3 Laser, edição limitada a 1000 unidades. Sempre na cor Branco Andino, o carro trazia de série filetes coloridos nas laterais e rodas de ferro com as calotas alemãs, sem a possibilidade de opcionais.

Mais uma série especial do XR3 chegava em 1985: a Laser, equipada com as raras calotas importadas (Foto: Ford/divulgação)

Em abril do mesmo ano, chegava nos concessionários o XR3 Conversível, fabricado em parceria com a Karmann-Ghia do Brasil, que de imediato se tornou o modelo mais desejado dos consumidores brasileiros e, até então, o carro nacional mais caro.

Sua construção era um pouco trabalhosa, pois a montagem inicial se dava na fábrica da Karmann-Ghia do Brasil (Em São Bernardo do Campo, SP), depois o monobloco era levado à Ford para receber a proteção anticorrosão e ser pintado, e, em seguida, retornava à Karmann-Ghia para o acabamento, até finalmente ser devolvido à Ford para a comercialização.

Grande novidade: o caríssimo e complicado de se produzir XR3 conversível (Foto: Ford/divulgação)

Com poucas alterações do projeto original, mas com importantes melhorias, tinha uma eficiente vedação contra poeira, vigia traseiro de vidro com desembaçador (não de plástico como os conversíveis fora-de-série da época) e capota submetida a tratamento antifogo, com manta termoacústica e estabilizador térmico.

Seu motor de 1,6 litro produzia os mesmos números de potência e torque do XR3 convencional, e era capaz de levar o esportivo conversível de 0 a 100km/h em 13s95 e atingir 162,162 km/h de velocidade máxima. Era ligeiramente mais ágil e menos veloz se comparado a versão com capota rígida. Falando de consumo, fazia 6,79 km/l no circuito urbano, graças principalmente ao maior peso, mas mantinha praticamente a média em estrada com 11,47 km/l, sempre a 100km/h. Os opcionais também eram os mesmos da versão com capota, que incluíam as rodas de liga-leve.

Seu motor 1.6 era o mesmo do XR3 convencional, bem como todo o restante da mecânica. Em valores atuais, um XR3 conversível superaria a casa dos R$218 mil (Foto: Ford/divulgação)

Tudo isso tinha seu preço, e em abril de 1985, um XR3 conversível sem opcionais custava Cr$72.000.000,00, equivalentes hoje a R$218.257,31 em conversão pelo INPC.

O “Escortinho”, como os íntimos o chamavam, era muito gostoso de dirigir. Em 2018, tive a oportunidade de guiar um modelo L de 1986 a álcool do meu amigo Daniel da Classic Customs, restauradora de clássicos de Uberlândia/MG, e fiquei impressionado à época com o torque e o silêncio a bordo. Como o carro era original e estava imaculado, consegui me transportar aos anos 80 e ter a mesma experiência que o meu médico particular, o Doutor José Roberto Andrade Pinto, tinha ao dirigir o seu Ghia quando começou a me atender nos idos de 1986.

Foto: Ford/divulgação

Visto como clássico moderno, hoje um Escort MK3 L, GL ou Ghia em bom estado podem ser encontrados de R$12.000,00 até R$40.000,00. Se for o XR3, seu preço parte de R$25.000,00, podendo  passar dos R$100 mil dependendo do estado de conservação e nível de raridade. Eu sou fã assumido dos carros da Volkswagen, mas um Ford Escort Mk3 está sempre na minha lista.

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.