Stellantis e a compra da DPaschoal vão além da distribuição de peças

Foram longos treze meses de negociação até que fosse concretizada a compra de 70% do grupo Comercial Automotiva, que, para muitos, é mais famoso pela rede DPaschoal, fortíssima no ramo de autopeças, pela Stellantis, dona de Fiat, Jeep, Ram, Peugeot, Citroën, Abarth e por aí vai. Os outros 30% continuam sob posse de Luís Norberto Pascoal, filho do fundador da DPaschoal e então presidente do Comercial Automotiva (na foto de capa, a esquerda, junto de Emanuele Cappellano, presidente da Stellantis South America). Ele seguirá, a partir de agora, como vice-presidente do conselho de administração.

Compra dos 70% da DPaschoal levou 13 meses e teve até aprovação do CADE (Foto: Stellantis/divulgação)

O grupo, porém, ainda é dono de outras marcas, como a DPK (focada em distribuição de autopeças para clientes finais), KDP (também com foco na distribuição de autopeças, mas para lojistas), AutoZ (lojas físicas situadas no ABC Paulista), KMaxx (plataforma de gerenciamento de peças para lojistas e revendedores), RecMaxx (especializada em pneus recapados para caminhoneiros e frotistas), Autocred (destinada a viabilização de crédito a lojistas, revendedores e até clientes do ramo), Maxxi Training (divisão que prepara futuros profissionais para o setor de autopeças e serviços pós-venda), além da Maxxipel (focada na evolução, inovação e tecnologia do grupo).

Grupo Comercial Automotiva é formado por diversas empresas menores, sempre girando em torno do ramo de autopeças (Foto: Stellantis/divulgação)

O intuito da Stellantis é crescer no ramo de pós-venda e nos serviços regionais do meio. Tanto que, na Argentina, deu um passo parecido com a aquisição da Norauto, uma equivalente a DPaschoal dos Hermanos, em meados de 2023. “A operação está em linha com o objetivo estratégico de expansão regional, além de fortalecer a capacidade para responder às demandas mais complexas dos consumidores”, diz ainda a dona da Fiat.

E a escolha pela DPaschoal por aqui não foi em vão, afinal o grupo conta com nada menos que 3 mil funcionários, 120 lojas em 14 estados, 28 centros de distribuição e 75 anos de história. Só no último ano, o grupo Comercial Automotiva superou os R$2,5 bilhões em lucro, incluindo suas atuações no meio institucional e nos negócios de autopeças de carros pequenos, utilitários, caminhões, ônibus e máquinas agrícolas.

Foco é crescer no ramo de pós-venda, e atender consumidores de outras marcas (Foto: Stellantis/divulgação)

Com essa “compra”, somada a da Norauto, a Stellantis passa a ser a maior distribuidora de peças multimarcas da América do Sul, em um mercado bastante promissor: em 2022, na América do Sul, foram movimentados mais de R$96 bilhões no ramo (dos quais 61 só no Brasil), com maior giro das peças de fabricantes independentes (80% do montante). Essas peças são mais conhecidas como “paralelas”, ou “recondicionadas”.

Grupo dono da DPaschoal é poderosíssimo no setor, e, com mais de 75 anos de história, fechou 2023 com lucro bilionáro (Foto: Stellantis/divulgação)

E, além de capilarizar a distribuição das peças dos veículos novos de sua própria linha (carros da Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën, especialmente), a Stellantis quer atender os proprietários de carros mais antigos de suas próprias marcas, em caso de manutenções em pontos de reparo independentes (oficinas menores e afins), ou no fornecimento de peças não mais encontradas nas concessionárias. Hoje, a lei determina que a fábrica forneça peças de um determinado carro por até cinco anos depois do fim da sua produção, enquanto em uma busca rápida pelo site da DPaschoal, foi possível encontrar componentes de carros fabricados há 30 anos ou mais.

E, para a Stellantis, é um ótimo negócio atender os clientes de Fiat’s, Jeep’s, Citroën’s e Peugeot’s com mais do que os cinco anos fora de produção, sem contar que eles terão “nas mãos” um leque com milhares de componentes de carros da concorrência (o Comercial Automotiva lida com mais de 65 marcas diferentes). Isso, sem dúvidas, se torna uma fonte inesgotável de acesso as tecnologias exclusivas de outras fabricantes, ou é até mesmo uma forma de “manipular” o fornecimento de componentes de determinados modelos ou marcas. Sem contar no lucro que esse mercado todo gera.

Além de atender consumidores de carros Stellantis mais antigos, o grupo passa a ter acesso a milhares de tecnologias da concorrência (Foto: Stellantis/divulgação)

Além disso, ter nas mãos uma estrutura tão grande de distribuição e venda de autopeças acaba ajudando, e muito, a rede de concessionárias das fabricantes que integram a Stellantis. O objetivo breve é aumentar a rede DPaschoal espalhada pelo país, e quem terá a preferência na inauguração desses novos pontos serão os concessionários do grupo (lojistas da Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën e Ram). Sem dúvidas, uma aquisição pra lá de importante, com poder enorme…

Compartilhar:
Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.