Porsche 911: O esportivo que desafia e supera as barreiras do tempo

Alguns carros podem ser considerados ícones da indústria automobilística mundial. São fabricados há pelo menos 50 anos e, em que pese o fato de cada um ter diversas gerações ao longo de todo esse tempo, eles fazem sucesso até hoje. Já imaginaram um carro produzido por mais de 50 anos que o público ainda quer comprar? Pois é, tudo isso graças à genialidade da equipe que os criou, fazendo ícones que conquistaram consumidores por todo o mundo e obrigaram as fábricas a manterem suas produções por muitos e muitos anos.

Essa tal genialidade pode estar no design, mecânica, confiabilidade ou simplesmente simpatia do carro com o público. Mas claro que todas essas qualidades podem estar juntas em um único produto. Quando pensamos nesses veteranos de produção, alguns poucos modelos vem à nossa cabeça, e um deles é o Porsche 911, que há 57 anos é fabricado com a mesma concepção básica, e até hoje ainda é referência em carro esporte.

Apresentado no Salão de Frankfurt em 1963, o 911 inicialmente se chamava 901 (Foto: Porsche/divulgação)

Apresentado em setembro de 1963 no Salão de Frankfurt, o 911 foi inicialmente batizado de 901, e só teve sua produção iniciada em setembro de 1964. Um mês depois, em outubro de 1964, o novo esportivo alemão foi exposto no Salão de Paris, mas houve um problema: a Peugeot havia registrado na França o batismo dos seus carros com três números (sempre com 0 no meio, como acontece até hoje. alguns com dois zeros). Com isso a Porsche ficou impedida de usar essa nomenclatura naquele país. Assim, a Porsche fez  a pequena mudança para 911, mas 82 unidades do 901 já haviam saído da linha de produção, o que torna os torna uma espécie raríssima entre os colecionadores.

Para aqueles que acham que Ferdinand Porsche foi o projetista desse modelo, um engano: o patriarca da família Porsche morreu em janeiro de 1951, aos 75 anos, com a saúde debilitada por ter sido detido na Alemanha em 1947 em Baden-Baden, na  zona de ocupação francesa, e levado preso para a França sob acusação de colaboração com o regime nacional-socialista alemão durante a guerra como projetista de tanques; ficou preso quase dois anos.

Ferdinand Porsche, um brilhante engenheiro, é marcado por grandes realizações, como o Auto Union P-Wagen, monoposto de Grand Prix, categoria dos anos 1930 que antecedeu a Fórmula 1, carro que em 1933 sinalizaria o futuro com seu motor V-16 de 4,5 litros com compressor em posição central traseira, e outro ícone, o Volkswagen Fusca, apresentado em maio de 1938, mas que só teria vida civil propriamente dita depois da guerra para iniciar a fantástica carreira que conhecemos..

Das criações brilhantes de Ferdinand Porsche podemos citar o Auto Union de corrida (foto) e o VW Fusca (Foto: Porsche/divulgação)

A Porsche foi constituída em 1947 (ano da prisão de Ferdinand Porsche) em Gmünd, na Áustria, estabelecida numa antiga serraria. Quem dirigiu a fábrica foi Ferry Porsche (Ferdinand Anton Ernst Porsche), o único filho homem de Ferdinand Porsche (havia a irmã Louise), que inaugurou a marca com seu sobrenome, um roadster de motor central-traseiro, o 356/1 em exemplar único, seguindo-se o conhecido cupê 356/2.

Os carros logo ficaram famosos, mas a produção era praticamente artesanal. Só quando a Porsche voltou para Stuttgart em 1950 — a família Porsche deixara o país em 1944 para se proteger dos bombardeios —, onde havia o escritório de engenharia Ferdinand Porsche formado em 1930, é que fábrica Porsche ganhou momentum para se tornar o que é hoje.

Assim como o pai, Ferry foi um engenheiro criativo que impulsionou a ideia de que um carro rápido não precisava necessariamente ser potente, mas apenas leve, o que melhora o desempenho, facilita o contornar curvas em maior velocidade e freia em espaços mais curtos. Nesse conceito, os primeiros Porsche já eram monobloco com carroceria de alumínio utilizando componentes mecânicos — motor, transeixo e eixo dianteiro completo — de Fusca.

O 356/2 tinha receita diferenciada: Motor de potência razoável, mas carroceria extremamente leve (Foto: Porsche/divulgação)

O motor 1100 (1.131 cm³)  de 25 cv teve a cilindrada reduzida para 1.086 cm³ para enquadramento na classe esportiva 851-1100 cm³ e teve alguma preparação, como a adoção de dois carburadores,  elevando a potência para 40 cv.. O resultado prático disso  foi o Porsche 356 A se destacar  nas competições e ficar bastante conhecido e respeitado em todo o mundo..  Depois das vitórias nas competições, sua fama começou a se espalhar por todo o mundo e, já em Stuttgart,o pequeno coupé 356 B, agora com carroceria de aço, ganhava notoriedade. Ainda nos anos 1950 vieram os spyders, carros esporte bipostos como o 550, que tinha um potente motor 1500, sempre arrefecido a ar, com duplo comando de válvulas e dois carburadores duplos, de 130 cv.

No final da década de 1950, Ferry viu que era chegada a hora de um substituto para o 356 e com sua equipe começou a trabalhar  no projeto do  901 (que virou 911), maior que o 356 mas mantendo a filosofia Porsche Uma das decisões-chave foi o motor ser boxer  de seis cilindros, cujo “pai” foi Ferdinand Piëch, neto do Prof. Porsche, filho de Louise e Anton Piëch..

O primeiro 911 chegava oficialmente em 1963 (Foto: Porsche/divulgação)

O modelo, que está na sua oitava geração nesses 56 anos, foi adquirindo tudo o que existe de moderno na indústria automobilística a cada reestruturação. O interessante é que suas linhas básicas são mantidas desde 1963: se você confrontar um com o outro, vai ver com facilidade que o 911 atual é praticamente tataraneto daquele lançado em 1963. Na mecânica, também pouco mudou, com motor traseiro de 6 cilindros contrapostos, câmbio manual ou automático de dupla-embreagem e tração traseira — até mesmo tração integral —, além de modernas e eficientes suspensões independentes e potentes freios a disco nas quatro rodas.

Mas, claro, essa concepção mecânica do 911 atual traz todas as tecnologias da indústria automobilística atual. O modesto motor 2-litros carburado arrefecido a ar de 130 cv da primeira geração deu lugar a um 3-litros biturbo arrefecido a líquido de 450 cv da atual oitava geração.. É bom lembrar também que a estrutura dos modelos atuais evoluiu bastante quando falamos de resistência contra impactos, preservando o habitáculo de passageiros em acidentes.

Hoje na geração 992, o Porsche 911 mantém a mesma concepção construtiva desde sua estreia, mas hoje está repleto de tecnologia (Foto: Porsche/divulgação)

Custando pouco mais de meio milhão de reais iniciais aqui no Brasil atualmente, não há como negar que o 911 é (e sempre foi) um carro exclusivo para poucas pessoas, que também podem ser chamadas de felizardas. E mesmo com outros modelos superiores e mais caros na sua linha, o 911 sempre terá seu lugar de destaque dentro da Porsche, sendo considerado um dos esportivos mais cobiçados do mundo. Um típico clássico esportivo.

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Jornalista na área automobilística há 48 anos, trabalhou na revista Quatro Rodas por 10 anos e na Revista Motor Show por 24 anos, de onde foi diretor de redação de 2007 até 2016. Formado em comunicação na Faculdade Cásper Líbero, estudou três anos de engenharia mecânica na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e no Instituto de Ensino de Engenharia Paulista (IEEP). Como piloto, venceu a Mil Milhas Brasileiras em 1983 e os Mil Quilômetros de Brasília em 2004, além de ter participado em competições de várias categorias do automobilismo brasileiro. Tem 67 anos, é casado e tem três filhos homens, de 20, 31 e 34 anos.