Gasolina premium vale a pena?

Quem nunca ficou tentado a colocar uma gasolina especial, como são mais popularmente chamadas as gasolinas premium (V-Power Racing, da Shell, Podium, da Petrobrás, Octapro, da Ipiranga), pensando em tirar o máximo desempenho dos seus carros ou conseguir uma redução drástica no consumo de combustível? Vamos, então, analisar os mitos e verdades desses combustíveis e saber até que ponto vale a pena financeira e tecnicamente sua utilização.

V-Power é a gasolina premium da Shell (Foto: Shell/divulgação)

Uma coisa deve ficar clara: as gasolinas premium são diferentes das gasolinas aditivadas. Estas  têm exatamente a mesma composição química da gasolina comum (poder calorífico e octanagem) diferenciando-se apenas na colocação de aditivos detergentes-dispersantes, componentes químicos que mantêm por mais tempo livres de gomas as peças do sistema de alimentação, como bomba, tubulações, flauta, e de carvão bicos injetores, válvulas e dutos do cabeçote.

É bom lembrar também que as gasolinas premium também contêm os citados aditivos, mas, além disso, são misturas (blends) de hidrocarbonetos que elevam sua octanagem..Enquanto as gasolinas comum e comum aditivada têm 95 octanas RON, as premium têm 98 octanas RON (Shell V-Power Racing) e 102 octanas RON (Petrobrás Podium e Ipiranga Octapro).

A Podium, da Petrobras, tem 102 octanas ROM e está na Porsche Cup (Foto: Porsche Cup/divulgação)

Se você leu ou ouviu falar em Índice Antidetonante (IAD) para especificar a octanagem da gasolina, esqueça: este é um método de indicar octanagem exclusivo do Brasil e dos Estados Unidos, que em breve dará lugar à octanagem RON, que é a usada em todos os países menos aqueles citados.

Só para entender, o IAD é a média aritmética das octanagens RON e MON. Nos EUA o IAD é o AKI, Antiknock Index. E RON (Research Octane Number) e  MON (Motor Octane Number) são números obtidos por métodos diferentes, o Resarch Method (Método Pesquisa) e o Motor Metthod (Método Motor). Explicar as diferenças, fica para outra coluna, o importante é saber que a grandeza MON é sempre menor do que a grandeza RON, e ficar atento ao reabastecer no exterior para saber qual gasolina está comprando.

Todo fabricante de automóveis mundo a fora informa a octanagem requerida pelo motor, mas como faz um bom tempo que os motores têm sensor de detonação e são gerenciados eletronicamente, o normal hoje é indicar a octanagem mínima e a máxima, sendo esta a que dá a maior potência ao motor com menos consumo de combustível. Essa instrução consta do manual do proprietário e numa etiqueta no lado interno da portinhola do bocal de abastecimento. Por exemplo, Mínimo 91 RON, Máximo 98 RON. Note que nem temos mais no Brasil gasolina 91 RON, que era a nossa antiga gasolina comum (amarela) até o final de 1981.

Nossa gasolina comum, a amarela, tinha 91 octanas RON…lá nos anos 70 (Foto: Demond Henderson)

Infelizmente no Brasil as fabricantes invariavelmente informam apenas gasolina comum ou gasolina aditivada, que não é de muita ajuda quando se vai a um país vizinho onde a octanagem RON é informada na bomba.

Quanto ao teor de álcool anidro na gasolina, a comum/comum aditivada tem 27,5% e as premium, 25%.

Experiência pessoal

Vou contar minha experiência pessoal com esses combustíveis. Há alguns anos, fui proprietário de um BMW M3 1995, que tinha motor de 6 cilindros em linha de 3 litros que produzia 240 cv na versão americana e 286 cv na versão europeia. Esses motores tinham características esportivas com alta potência especifica, altas taxas de compressão e produziam potência e torque em rotações bem altas para a época, sempre ao redor de 7.000 rpm. Por minha conta, fiz alguns experimentos, aproveitando que rodava cerca de 160 quilômetros por dia por estrada de pista dupla e trânsito bastante estável.

Tive uma BMW M3 1995 que, testando, descobri na prática as diferenças entre gasolina comum e premium (Foto: acervo pessoal)

Com gasolina comum, utilizando o computador de bordo como referência, atingia a marca de 10 km/l, resultado que se repetia durante vários experimentos. Notava que, visualmente, as saídas do escapamento ficavam pretas em um tom aveludado. Indicação clara da presença de material particulado (MP, fuligem) na queima da mistura ar-combustível.

Fiz exatamente o mesmo experimento utilizando a gasolina Podium, na mesma velocidade e utilizando a mesma estrada para ir e para voltar. O computador de bordo do carro passou a indicar a marca de 11 km/l, ou seja, cerca de 10% melhor que o resultado obtido com a gasolina comum. Outro detalhe observado é que a saída do escapamento ficava na cor cinza bem clara e seca, indicação clara de que houve uma sensível redução na emissão de material particulado..

Fica claro, no exemplo acima, que as gasolinas especiais eram de um blend diferente que produziam menos material particulado, resultado também da gasolina Podium ter apenas 30 partes por milhão (PPM) de enxofre contra as absurdas 800 PPM das demais gasolinas de então (a partir de 1º/01/2014 a gasolina brasileira passou para 50 PPM).

E é evidente que o motor ganhava potência, eu percebia isso claramente, pois esses motores do M3 previam uso de gasolina Super Plus europeia, de 98 RON. O gerenciamento do motor já era o Bosch Motronic e determinava o avanço de ignição ideal para a gasolina Podium, superior mesmo em octanagem à gasolina Super Plus da Europa.

A gasolina premium, claro, tem preço mais elevado (Foto: Gerson Klaina/Tribuna)

Contudo, a desvantagem é o preço mais elevado da gasolina premium. Mesmo com um consumo 10% menor, financeiramente não valia a pena, pois o combustível custava cerca de 30% mais que a gasolina comum. Economizava 10% em volume, mas custava 30% a mais para rodar. A conta não fechava.

Mas é claro, que quem compra um superesportivo importado ou uma moto de alto desempenho não vai pensar em economizar no tipo do combustível e deixar de usar o que aquele “supermotor” exige para desenvolver a potência declarada. É a mesma coisa que você organizar um banquete e depois querer fazer economia no palito de dente. Não tem cabimento.

Querer economizar no combustível de um carro com super motor não tem cabimento (Foto: Lotus/divulgação)

Agora, se você tem um carro comum, será que vale a pena gastar com um combustível mais caro? Eu diria que não, Porém, as fabricantes aqui não costumam informar se o uso de gasolina de maior octanagem resulta em aumento de potência, mesmo que saibam que aumenta (e o consumo diminua). Uma exceção foi a Honda, quando do lançamento do primeiro Civic Si, em 2007. A potência declarada era 192 cv, com gasolina comum, mas “apertado” por um colega jornalista, um engenheiro da Honda revelou haver ganho de 4 cv abastecendo com gasolina premium, Podium no caso.

As fabricantes quase nunca divulgam as diferenças de números quando o carro é abastecido com gasolina premium (Foto: Honda/divulgação)

Por isso, o que todos podem fazer é o que eu fiz, experimentar gasolina premium e observar o resultado. Não há o menor risco, nem de o motor “se acostumar” com gasolina de maior octanagem e haver algum tipo de problema. Isso vale especialmente para os motores turbo, em que eventualmente poderá ser vantajoso em termos de desempenho. Consumo, talvez.

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Jornalista na área automobilística há 48 anos, trabalhou na revista Quatro Rodas por 10 anos e na Revista Motor Show por 24 anos, de onde foi diretor de redação de 2007 até 2016. Formado em comunicação na Faculdade Cásper Líbero, estudou três anos de engenharia mecânica na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e no Instituto de Ensino de Engenharia Paulista (IEEP). Como piloto, venceu a Mil Milhas Brasileiras em 1983 e os Mil Quilômetros de Brasília em 2004, além de ter participado em competições de várias categorias do automobilismo brasileiro. Tem 67 anos, é casado e tem três filhos homens, de 20, 31 e 34 anos.