Fiat Uno Mille EX: o popular para o novo milênio

O Mille, ou mesmo Uno em suas demais versões, é outro carro que falamos sempre, e não só por gostarmos dele, mas sim por sua representação na história do carro nacional brasileiro. Lançado em 1984, o hatch Uno revolucionou o mercado no início de 1990 com o lançamento da sua versão 1.0, o Uno Mille. A partir dali, ele foi o grande responsável pela explosão de carros populares nas ruas das próximas duas décadas, lê-se anos 90 e 2000.

Uno Mille foi o pioneiro dos carros 1.0. Chegou num tempo recorde… (Foto: Cláudio Larangeira/Quatro Rodas)

A primeira versão era baseada no Uno S, e seu primeiro motor era o antigo 1050 do Uno S a gasolina e Fiat 147, mas com a cilindrada reduzida a 994 cm³. Oferecia tímidos 48,8 cv de potência a 5700 rpm e 7,4 kgfm de torque a 3000 rpm. Acreditem, tinha potência suficiente até mesmo para viajar, graças ao seu baixo peso e ao câmbio de quatro marchas bem escalonado.

Primeiro Mille, baseado na antiga versão S, tinha motor do 146 reduzido (Foto: Fiat/divulgação)

Para ficar barato, era desprovido de servofreio, saídas de ar laterais, cambio de 5 marchas, reclinador do encosto, apoio de cabeça, tampa do porta-luvas e acionamento elétrico do limpador de para-brisas. Como opcionais, oferecia: acendedor de cigarros, protetor para o motor e câmbio, bancos reclináveis com apoio de cabeça, câmbio de cinco marchas, filtro de ar adicional, limpador, lavador e desembaçador do vidro traseiro, protetor do tanque de combustível e servofreio.

Interior era simples e barato, porém prático e espaçoso (Foto: Cláudio Larangeira/Quatro Rodas)

Um carro tão espartano e fraquinho estaria fadado ao fracasso? A resposta é um sonoro “não!”, e muitas versões do popular Uno Mille começaram a surgir. Dentre elas, Brio, Electronic, a luxuosa ELX, a simplista I.E que substituía a Electronic, EP em substituição ao ELX, e, quando a Fiat lançou o Palio em 1996, cogitou-se a despedida do Mille, com o lançamento da versão SX, de pacote único e totalmente espartana. Mais uma vez o mercado surpreendeu, e o bom e velho Uninho chegou ao 2º lugar em vendas, ficando atrás apenas do VW Gol e seguido do Fiat Palio.

Vendendo bem assim, ainda ia sair de linha? Que nada! O simples, porém eficiente, Mille SX (Standart eXtra), que depois, em julho de 1997, até ganhou uma opção mais descolada batizada de SX Young (“Jovem”, em inglês), trazia parte dos equipamentos e opcionais disponíveis na antiga versão EP, porém com algumas propostas interessantes de personalização com adesivos (alguns nunca vistos na prática, aliás). Sua convivência com o Palio logo tornou-se pacífica: cada modelo atingia um público.

Mas a Fiat ainda tinha planos de descontinuar o Uno Mille quando foi apresentada a linha 1999. Ali chegava o inédito Mille EX (EXtra), que deu as caras nas primeiras matérias junto a imprensa já em janeiro de 1998. Esta versão, inicialmente disponível como uma opção mais em conta frente as SX e SX Young (depois as sucedeu), era o carro mais barato do mercado nacional, custando R$9.990 na sua configuração mais simples, com duas portas. Com quatro, saltava a R$10.690, em valores da época. Um SX não saía por menos de R$11.132, enquanto o Young básico era tabelado em R$11.473, para efeito de comparação.

Versão EX nascia como uma opção mais em cona a SX, e por isso era o carro mais barato do Brasil na época (Foto: Caio Mattos/revista Oficina Mecânica)

Até por essa proposta de custar pouco do Mille EX, sua lista de equipamentos de série era pequena: bancos dianteiros reclináveis, para-brisa laminado, vidros verdes e volante espumado. A calota integral de série nos SX era substituída por outra de cubo (o famoso “copinho”), e as rodas estampadas em aço calçadas com pneus 145/80R13 vinham na cor prata. Também havia simplificação no acabamento interno, em especial no forro de portas mais grosseiro, enquanto o termômetro do motor não era oferecido sequer como opcional, e o velocímetro ganhava novo grafismo, com fundo cinza e ponteiros laranja. A essa altura do campeonato, ao menos, o Mille já oferecia de série os dois retrovisores externos, direito e esquerdo.

O bom e velho ar-condicionado seguia como item opcional, e o discreto emblema traseiro identificava a nova versão (Foto: Fiat/divulgação)

Na lista de opcionais figurava o ar-condicionado, além de vidros elétricos dianteiros, limpador e lavador do vidro traseiro, vidro traseiro térmico (com desembaçador), travas elétricas, desembaçador com ar quente, ajustes internos dos retrovisores, além das 4 portas e pintura metálica. As cores acompanhavam as da linha Palio, mais elegantes que as do antigo SX e seu derivado SX Young: na ocasião da estreia, só estava disponível o branco, preto e vermelho, mas depois vieram novos tons.

Acabamento mais simples era uma das formas de baixar seu preço. Motor 1.0 SPI garantia economia (Foto: Caio Mattos/revista Oficina Mecânica)

Mecanicamente, seguia nele o 1.0 a gasolina dos primeiros Mille, porém com maior taxa de compressão (9,5:1), 58 cv de potência a 6000 rpm, 8,2 mkgf de torque a 3000 rpm, junto de um câmbio de cinco marchas, que lhe garantiam o nome de SPI (“Single Point Injection”). Em testes da imprensa, o hatch popular conseguia resultados até interessantes na aceleração e desempenho (17,1s no 0 a 100 km/h e máxima de 149,4 km/h), porém brilhava com médias baixas de consumo, principalmente na cidade: 12,9 km/l, ou 14 km/l na estrada.

No decorrer de 1999, a concorrência começou a atualizar seus modelos, quando o VW Gol ganhou um facelift, intitulado de nova geração, e eram retocados Ford Fiesta e GM Corsa. O Fiat Uno Mille EX virou o milênio emplacando super bem, mesmo que suas vendas fossem quase sempre sob encomenda. Ainda assim, para acompanhar a concorrência e o novo milênio, um discreto facelift, primeiro desde 1991, foi desenvolvido, mas essa é outra história do Fiat mais vendido do Brasil, que falarei em breve.

Simplicidades a parte, o Mille foi longe: depois ainda vieram os Smart, os Fire, e os Flex, mas essas são outras histórias (Foto: Fiat/divulgação)
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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.