Mille SX Young: a versão de “quase despedida” do Fiat Uno no Brasil
Considerado carro de gênio em seus anúncios de lançamento, o Fiat Uno trazia em 1984 como grande trunfo seu espaço interno e soluções criativas como cinzeiro deslizante no painel, limpador de para-brisas único e todos os comandos do painel a mão por teclas, que eliminava a necessidade de o motorista tirar as mãos do volante para acionar, isso sem falar no pioneirismo em oferecer o computador de bordo opcional.
Dentre tantas versões, o Fiat Uno revolucionou o mercado no início de 1990 com o lançamento do Mille, e com este, foi o grande responsável pela explosão de carros populares 1.0 nas ruas das próximas duas décadas, lê-se anos 90 e 2000. Uma simples redução de 40% para 20% na alíquota do IPI vigente viabilizou o lançamento desse primeiro popular dos novos tempos.
Baseado no Uno S, o Mille teve alguns itens retirados, como servo-freio, saídas de ar laterais no painel, câmbio de 5 marchas (usava um de 4), reclinador do encosto, apoio de cabeça, tampa do porta-luvas e acionamento elétrico do limpador de para-brisas. Em contrapartida, oferecia parte destes itens opcionalmente, além de acendedor de cigarros, protetor para o motor e câmbio, apoios de cabeça dianteiros, filtro de ar adicional, limpador, lavador e desembaçador do vidro traseiro e protetor do tanque de combustível.
Seu motor era o antigo 1050 do Uno S a gasolina e Fiat 147, mas com a cilindrada reduzida a 994 cm³. Fornecia 48,8 cv de potência a 5700 rpm e 7,4 kgfm de torque a 3000 rpm.
Um carro tão espartano e fraquinho estaria fadado ao fracasso? A resposta é um sonoro “não!”: Muitas versões começaram a surgir, entre elas Brio, Electronic (responsável por inaugurar o ar-condicionado no segmento), ELX, I.E, EP e, quando a Fiat lançou o Palio em 1996, cogitou-se a despedida do Mille com o lançamento da SX. Mas o destino quis fazer diferente…
O Mille SX era equipado com motor injetado de 58 cv a 6000 rpm e 8,2 kgfm de torque a 3000 rpm. Era 10 cv mais forte que o primeiro Mille de 1990. Nos equipamentos trazia apenas o básico: bancos dianteiros reclináveis, calotas, para-brisa laminado e volante espumado – sim, as montadoras enchiam muita linguiça ao falar dos equipamentos de série.
Existiam opcionais como ar-condicionado, rádio toca fitas, vidros verdes, retrovisores externos com regulagem interna, vidros elétricos, limpador e desembaçador do vidro traseiro, travas elétricas, vidros laterais basculantes (para os carros de 2 portas), desembaçador com ar quente e protetor do cárter, além das 4 portas e pintura metálica. Tal estratégia não abalou suas vendas.
Custando R$9.950,00 zero Km (equivalente hoje a R$ 86.664,45), um Mille SX 2 portas tinha consumo médio de 11,31 km/l gasolina, provando ser um modelo bem resistente e ainda econômico. Aí a Fiat se deparou com algo inesperado: tinha dois produtos bons de venda na prateleira, onde o Palio ganhou seu público próprio, enquanto o veterano Mille manteve seus fiéis clientes. Para confirmar tal teoria, ainda em 1997 chegava a SX Young, versão intermediária com 2 portas e adesivos alusivos na carroceria.
Trazia de série revestimento exclusivo dos bancos e forros de porta, painel de instrumentos diferenciado com fundo branco e termômetro de temperatura, tabelier cinza, pneus 165-70R13 (o SX comum ainda trazia os pneus 145SR13), para-choques cinza, vidros verdes, retrovisores externos com regulagem interna, limpador e desembaçador do vidro traseiro, travas elétricas, vidros laterais basculantes, desembaçador com ar quente e protetor do cárter.⠀
Tinha disponíveis os mesmos opcionais da versão SX comum, e uma proposta interessante de personalização com opções de adesivos de carroceria, algumas desconhecidas na prática. Um tanto raro, principalmente hoje em dia, o Mille SX foi sucedido pela versão EX no final de 1998 e o SX Young foi descontinuado no início de 1999.
Contrariando as vontades da Fiat de 1996 (que pretendia tirá-lo de linha para abrir espaço para o Palio), o modelo “raiz” do Uno deixaria as linhas de produção apenas em 2013 por conta de incompatibilidades com as leis de segurança. Seu nome sobreviveria até 2021 na geração seguinte. Até o próprio Palio saiu de cena bem antes, ainda em 2017. No final, o “Uninho” durou além das expectativas, e acabou se consagrando como o segundo carro mais vendido da história do Brasil, com 3,2 milhões de unidades comercializadas.