Fiat Uno Mille EP: o 1.0 com viagra

Dentre tantas versões ao longo de seus 37 anos de produção, o Fiat Uno revolucionou o mercado no início de 1990 com o lançamento do Mille, e com este, foi o grande responsável pela explosão de carros populares nas ruas das próximas duas décadas, lê-se anos 90 e 2000. Seu motor era o antigo 1050 do Uno S a gasolina e 147, mas com a cilindrada reduzida a 994 cm³. Oferecia 48,8 cv de potência a 5700 rpm e 7,4 kgfm de torque a 3000 rpm, competente em desempenho e consumo.

Uno Mille foi o pioneiro dos carros 1.0. Chegou num tempo recorde… (Foto: Cláudio Larangeira/Quatro Rodas)

Tudo nele era opcional: acendedor de cigarros, protetor para o motor e câmbio, bancos reclináveis com apoio de cabeça, câmbio de cinco marchas, filtro de ar adicional, limpador, lavador e desembaçador do vidro traseiro, protetor do tanque de combustível e servo-freio. Imagine a versão básica sem servo-freio, sem reclinagem do banco dianteiro, sem tampa do porta-luvas e com câmbio de 4 marchas…complicado. Sua primeira versão especial foi lançada em 1991, o carismático Uno Mille Brio, e as vendas cresciam cada vez mais.

A Fiat foi responsável por lançar tecnologias e tendências do segmento de populares, que ela reinaugurou. A primeira delas foi em 1993, quando trouxe uma importante evolução técnica – ignição eletrônica do sistema de injeção eletrônica, porém usando o carburador. Para atender às novas exigências do Proconve vigentes, a engenharia mineira aproveitou o sistema de ignição eletrônica do Uno 1.5 i.e., que usava sensores eletromagnéticos com sensor de detonação, em uma espécie de ignição estática, e por sua vez eliminava a necessidade de distribuidor, mantendo o bom e barato carburador.

Mille Electronic tinha ignição eletrônica, mas mantinha o carburador (Foto: Fiat/divulgação)

Na prática essas alterações eliminavam a necessidade do uso do catalisador, permitia partidas mais fáceis, além de alguns cavalos a mais no motor, que saltava para 56,1 cv a 6000 rpm e 8,0 kgfm a 3250 rpm. Além desta evolução mecânica, no mesmo ano, o agora Mille (sem “Uno” em seu nome) trazia opcionalmente as quatro portas e ar-condicionado, sendo o primeiro veículo popular dos anos 90 a oferecer tais comodidades.

Logo vieram as quatro portas como opcional, inclusive para o Mille Electronic (Foto: FIat/divulgação)

De olho nos lançamentos da concorrência como GM Corsa (este fez muito barulho) e novo VW Gol – o famoso “bolinha”, além dos então importados Ford Fiesta, Renault Twingo, Peugeot 106, entre outros menos famosos, a Fiat inovou mais uma vez em 1994 ao apresentar àquele que seria, de uma maneira forçada, o primeiro popular de luxo: o Mille ELX.

Era um carro pequeno para andar na cidade, mas com conforto. Trazia nova frente mais baixa (igual as demais versões da linha Uno), novo painel, volante de 4 raios espumado e acabamento bem mais caprichado.

Como itens de série, já vinha com pneus 165/70R13, rodas de ferro com calotas integrais, vidros verdes, termômetro do motor, câmbio de 5 velocidades, retrovisores externos com comando interno, limpador e desembaçador traseiro, além de vidros traseiros basculantes – exclusivo para a versão de 2 portas. Como opcionais, 4 portas, vidros dianteiros elétricos, travas elétricas, relógio digital, ar quente e o ar-condicionado.

No ELX, o sistema de ar-condicionado era mais moderno, e foi chamado pela marca de “inteligente”. Quando se exigia potência do carro, o compressor se desligava sozinho, poupando energia e mantendo a performance dos 56,1 cv do motor. Na prática, o modelo com o equipamento desligado fazia de 0 a 100 km/h em 18,19s, contra 18,93s com o A/C ligado, segundo testes da imprensa na época. A velocidade máxima era a mesma em ambas as situações, chegando a 148,5 km/h, já que em regime de potência máxima, o ar-condicionado tinha seu compressor também desligado.

Era um dos populares mais caros da época, principalmente quando completo, mas valia a pena (Foto: Fiat/divulgação)

Silencioso, apresentava média de 70 decibéis dependendo do uso, mas cobrava caro no consumo quando se utilizava o ar-condicionado. Com gasolina, fazia média de 8,68 km/l na cidade, número que subia para 11,21 km/l. Na estrada, o eficiente Mille rendia excelentes 17,44 km/l.

Economia era foco do ELX, mas ele cobrava caro com maior consumo quando o ar-condicionado opcional era ligado (Foto: Fiat/divulgação)

Os números melhoraram ainda mais quando depois foi apresentada a versão EP (“Extra Power”), em 1995 como linha 1996. O “popular de luxo” agora tinha a tão aguardada injeção eletrônica monoponto, que aposentava de vez na Fiat o uso do carburador, adotado também na versão básica, agora identificada como Mille i.e. Poluía 5% menos, e seu novo cabeçote possibilitava o enchimento mais rápido das câmaras de combustão com a mistura ar/combustível, o que aumentava a eficiência da queima e o rendimento do motor. Agora eram 58 cv a 6000 rpm e 8,2 kgfm a 3000 rpm.

Com o ar-condicionado desligado fazia de 0 a 100km/h em 17,64s, e com o ar-condicionado ligado, em 18,64s. Uma diferença irrisória, até mesmo se comparado ao ELX, mas agora a velocidade máxima era de 151,4 km/h. Na cidade, consumia bem menos que o antecessor, chegando a 11,81 km/l de gasolina com ar-condicionado desligado (10,49 km/l com ele ligado). Já no uso rodoviário, mantinha-se quase inalteradas as médias de 17,58 km/l.

O Mille estava cada vez mais luxuoso. De série, a EP trazia lanternas fumê traseiras, pneus 165/70R13, rodas de ferro com calotas integrais, vidros verdes, termômetro no painel, câmbio de 5 velocidades, retrovisores externos com comando interno manual, limpador e desembaçador traseiro, temporizador do para-brisas, antena embutida no para-brisas, além de vidros traseiros basculantes – exclusivo para a versão de 2 portas.

Como opcionais, 4 portas, alarme antifurto, vidros dianteiros elétricos, travas elétricas, relógio digital, pré-instalação para rádio, rádio/toca-fitas, rodas de liga-leve, ar quente e o ar-condicionado. A direção hidráulica não era oferecida sequer como item extra. E, acreditem, não era necessário, dada a facilidade de esterçá-lo.

Custando 12% a mais que a versão ELX, o Mille EP era vendido a R$9.900,00 em agosto de 1995, equivalentes hoje a R$91.735,87 de acordo com o IGPM, e não fazia feio nas portas de lugares chiques como um compacto premium que se presava. Mas isso logo mudaria: em meados de 1996 chegava o Fiat Palio, que “matou as versões mais caras do Uno, como a EP. Sobrou só a SX, simplória, em uma história que conto aqui.

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.