O sumiço misterioso do motorista do Karmann-Ghia TC

O Mílton, carinhosamente chamado de Ruivo pelos mais íntimos, é um amigo de longa data. Um cara que conheci quando cursava meu segundo grau de técnico mecânico e que, depois de alguns anos cursando engenharia, acabou se transformando em um mecânico e preparador de carros de corrida de mão cheia. Além de ser um dos meus grandes amigos, de grandes aventuras mecânicas, o Ruivo tinha uma característica que, para nós, era muito engraçada, mas ele não apreciava nem um pouquinho: o cara era muito azarado.

No tempo que cursávamos juntos engenharia, na Faculdade de Engenharia Industrial-FEI, o Ruivo tinha um Karmann-Ghia TC 1972. Para quem não sabe, era um esportivo que utilizava mecânica Volkswagen com uma carroceria estampada pela Karmann-Ghia e que tinha sérios problemas de corrosão. Por isso, eles hoje praticamente não existem mais, mesmo tendo sido fabricados de 1971 até 1975. Esse esportivo do Ruivo, em um reluzente amarelo, era a condução que ele usava na época para se locomover para todos os cantos. E a manutenção preventiva e corretiva era feita por ele mesmo, às vezes com a minha ajuda.

Karmann-Ghia TC e o Ruivo formavam duplo
Karmann Ghia TC (Volkswagen | Divulgação)

Ele tinha uma avó doente, e a velhinha sempre pedia a ele que fosse a farmácia buscar um profissional para aplicar injeção que tirasse suas dores. Um dia, a vó reclamou e pediu um farmacêutico. E lá foi ele, com o reluzente Karmann -Ghia amarelo, buscar o profissional. Depois da aplicação da injeção contra as dores, o Ruivo foi devolver o profissional à farmácia. Foi nessa volta que ocorreu uma das histórias mais engraçadas desse meu amigo.

Chegando à farmácia, o Ruivo não percebeu que havia estacionado bem ao lado de um bueiro, desses que drenam as águas das chuvas, e tem uma tampa retangular. Mas, para o azar do nosso amigo, essa “boca de lobo” estava sem a tampa.

Imaginem a cena: ele descendo de uma lado e o farmacêutico descendo do outro. Quando ele girou o corpo e pulou para descer, caiu no buraco aberto do bueiro, que deveria ter cerca de 1,70 metro de profundidade. Ele praticamente sumiu de cena. O farmacêutico, quando desceu do lado do passageiro, não viu o Ruivo, abaixou-se olhou dentro do carro e ele também não estava. Deve ter pensado por instantes: “será que foi abduzido?”. O carro estava com a porta do motorista aberta e o motorista não estava dentro e nem fora dele. Sumiu!

Depois de detalhar o ocorrido ao farmacêutico, a coisa ficou esclarecida. Nosso amigo voltou para casa em uma fedentina que nem ele aguentava e sem o par de sapatos que ficaram atolados naquele mar de lama. Precisou contar a história para a vó, tomar um banho e pedir uma grana extra para a velhinha para comprar outro par de sapatos “Conquistador” (um calçado esporte produzido pela Alpargatas) para repor aquele que se perdeu na lama.

Muita gente vai duvidar da veracidade dessa história , mas tenho a certeza que se eu contasse meia dúzia dos “causos” do meu amigo Ruivo, tão esquisitas como essa, acreditariam que tudo foi verdade e aconteceu no final dos anos 70 no bairro da Mooca, em São Paulo.

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