(Avaliação) VW Nova Saveiro Extreme: a tal panela véia que ainda faz comida boa

Não é novidade o retoque de projetos já antigos na indústria automotiva. A própria VW fez durar, e muito, o Fox, e o hatch altinho morreu de forma digna, ainda com um bom pacote de equipamentos, nível de acabamento acima da média, um design agradável e todas aquelas suas virtudes, como o bom espaço interno e a praticidade. Mantendo o preço e fazendo atualizações onde for preciso, um bom projeto rende! Com a Saveiro não é diferente: essa geração ainda é aquela de 2008, mas sempre teve seus predicados com relação as rivais.

História a parte, a Saveiro segue firme e forte após alguns tapinhas no visual que lhe caíram até que bem: um grande conjunto óptico dianteiro, inclusive bastante eficiente, deixa a picapinha com cara de carro maior; lanternas traseiras “decoradas” simulam o uso da tecnologia dos LEDs; e alguns adesivos e emblemas prometem dar um ar mais descolado pela carroceria. A versão das fotos, Extreme, é a topo de linha, de R$115.690, mas a VW vende Saveiro a partir de menos de R$99 mil, na opção Robust, com cabine simples e preço menor que o da Fiat Strada.

Sempre 1.6 16v

O interessante da Saveiro é manter um único motor e transmissão para toda a linha, afinal o antigo 1.6 8v não atende mais as leis recentes do Proconve. Como quem sobrou é o 1.6 16v, inteiro em alumínio e com duplo comando variável (família EA-211, parente do 1.0 MPI), a picape da VW acabou no lucro, no final das contas: com seus 106/116 cv de potência e 15,4/16,1 mkgf de torque, desponta sua rival Strada 1.3 na ficha técnica, e também supera a Fiat no desempenho, até pelo peso menor da carroceria de duas portas da VW.

O 1.6, mais conhecido como MSI, opta por uma entrega melhor de força nas maiores rotações, principalmente a partir dos 3000 rpm, tanto que tem pico de torque aos 4 mil giros, o que explica a escolha da VW pelo curto câmbio manual de cinco marchas. Alavanca está sempre “na mão”, com engates rápidos e precisos, só que faz muita falta uma sexta velocidade, como sobremarcha para trechos planos ou declives, o que traria mais conforto às viagens, já que o 1.6 trabalharia em menores rotações constantes e mais quieto. Em 5ª a 100 km/h, o conta-giros registra 3 mil rpm. Uma condução mais pacata, adiantando as trocas (seguir o indicador do painel é uma boa dica), requer apenas um pouco de paciência para que o 1.6 desenvolva com progressividade.

De, de quebra, se existisse nela uma sexta marcha, o consumo rodoviário cairia, mesmo nessa Extreme que tem um “kit aventura” com rack de teto e santantônio, prejudiciais ao arrasto aerodinâmico. Com ela, foi difícil passar dos 12 km/l de etanol na estrada, enquanto médias entre 6 e 7 km/l na cidade eram comuns com maior trânsito. O tanque de combustível, emprestado do finado Gol, tem vantagem por ser grande, porém se esvazia mais rápido do que o esperado, principalmente se o condutor tiver pressa e pé pesado, exigindo sempre altas rotações do 1.6 16v.

Kit “aventura” é mais discreto que o da antiga Cross, o que faz pesar menos o seu design geral (Foto Lucca Mendonça)

Silêncio e conforto: falta o AT

A versão do teste é a topo de linha, com um cuidado extra no nível de ruídos ouvidos de dentro da cabine: por mais que gire alto lá fora, o som do motor incomoda pouco os ocupantes, assim como o trabalho competente, e silencioso, das suspensões. O câmbio, MQ200, que também é um veterano de respeito (surgiu lá em 2000), é silencioso e bem escalonado, ou seja, não abre espaço para críticas, mas bem que poderia dar espaço a caixa automática Aisin de seis marchas, que já equipou Gol e Voyage acoplada ao mesmo motor MSI. O projeto está pronto, mas por algum motivo não é oferecido na picape. Cairia muito bem, ainda mais como concorrente direta das Strada 1.3 CVT.

Opção Extreme, a topo de linha avaliada, não desapontou no conforto e silêncio a bordo, mas cadê o câmbio automático? (Foto Lucca Mendonça)

Uma Saveiro automática seria até melhor de dirigir. Explico: por conta da cabine dupla, que toma um pouco do espaço da caçamba e tem um banco traseiro elevado, o trilho dos bancos dianteiros se torna bastante curto, para não apertar ainda mais quem viaja atrás. O resultado é que, quem tem mais de 1,80 m e vai dirigir a picape da VW, precisa se acostumar com o volante e pedaleira próximos do banco do motorista, por mais que ele seja deslocado para trás. Com 1,87 m de altura, eu guiava com os joelhos encostados na coluna de direção (o banco do motorista também é alto) e, por conta do pouco espaço na região dos pedais, acionar a embreagem não era das tarefas mais ergonômicas.

Ergonomia deficiente a parte

Percalços com uma ergonomia já deficiente a parte, além do motor forte na sua faixa ideal de rotação e do câmbio curto que se traduz em agilidade, a Saveiro aproveita todo aquele know-how da VW do Brasil, que sabe bem fazer carros nacionais para os brasileiros, na hora de conseguir um acerto ímpar de sua mecânica. A fórmula aplicada nas suspensões dessa linha, por exemplo, é mais do que tradicional e comprovada, com itens compartilhados há quase 25 anos com diversos carros do Grupo VW mundo afora: além de robusta, na versão Extreme avaliada supera as expectativas no nível de conforto e absorção de impactos, sem prejudicar muito na dinâmica do carro. Já que existe uma generosa altura com relação ao solo com relação a outras versões, é fácil enfrentar solos ruins, esburacados e até alguns off-road com a picapinha, que encara aventuras leves sem reclamar.

Como grande diferencial estão os freios com disco nas quatro rodas, que, vale falar, é item de série para todas as Saveiro vendidas hoje, que agem rapidamente e com segurança na hora de parar o carro. Existe o contraponto da obsoleta direção hidráulica, que é mais pesada e rouba potência do motor a combustão, só que há quem ainda prefira a solidez e tradicionalismo dessa assistência ao invés da elétrica. Tirando um pouco mais de esforço nas manobras, o sistema é direto e preciso, como se espera de um carro de fabricante alemã.

As versões com cabine dupla da Saveiro, como a Extreme, não são as campeãs no tamanho da caçamba, já que o compartimento traseiro cede um pouco de seu espaço para a segunda fileira de bancos (lá atrás, aliás, só se vão se acomodar sem aperto crianças ou pessoas pequenas). Os 580 litros de capacidade, distribuídos em um espaço com não muito mais que 1 metro de comprimento por 1 de largura e 50 cm de altura, ainda assim são decentes para levar itens menores de até cerca de 600 kg. Durante o uso em estradas de terra e cascalho, só ficou claro que sua proteção contra poeira e água é pequena, mas, até aí, isso não é um “problema” só da picape da VW.

Só ela tem

Bacana notar que, mesmo pesando contra o projeto de mais de 15 anos da Saveiro, seu recheio de série ainda pode superar o de modelos mais recentes. Nessa faixa de preço, falando das picapes, só ela entrega retrovisor fotocrômico sem borda, sensores de chuva e crepuscular, piloto automático e controle eletrônico de descidas, mesmo que opcionalmente. De série, sem pagar nada a mais, também são atrativos o ajuste de altura e profundidade do volante e os quatro freios a disco. Quando chegou, lá em 2008, alguns desses equipamentos inclusive já existiam nela, mostrando que, ao menos, o “passo a frente” lá no lançamento lhe rendeu pontos positivos hoje. Faltar, ainda falta: apoio de braço dianteiro, ar-condicionado automático e faróis em LED, por exemplo, ainda não estão nos seus itens de série.

A tal da “panela véia”

O peso da idade já chegou faz tempo para ela, o que é inegável quando se olha portas e janelas (por dentro e por fora), ou itens ausentes na segurança (mais airbags além dos dianteiros obrigatórios), porém nem por isso a VW Saveiro cabine dupla deixou de ser um carro interessante, que cumpre o propósito de levar cinco ocupantes mais carga com conforto, robustez e confiabilidade. Talvez, para quem não precise das quatro portas, sua compra seja mais interessante que a de uma Fiat Strada Volcano, por exemplo. As vezes, a tal máxima da “panela véia que faz comida boa”, tem mais sentido do que se imagina.

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Ficha técnica:

Concepção de motor: 1.598 cm³, flex, quatro cilindros, 16 válvulas (quatro por cilindro), aspiração natural, injeção indireta de combustível, comando de válvulas duplo no cabeçote, variador de fase na admissão e escapamento, bloco e cabeçote em alumínio
Transmissão: manual de 5 marchas + ré
Potência: 106/116 cv a 5.750 rpm (gasolina/etanol)
Torque: 15,4/16,1 mkgf a 4.000 rpm (gasolina/etanol)
Suspensão dianteira: independente, tipo McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: eixo de torção com molas helicoidais
Direção: com assistência hidráulica
Freios: discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira
Pneus e rodas: Goodyear EfficientGrip Performance, medidas 205/60 e rodas de liga-leve aro 15
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,49 m/1,72 m/1,56 m/2,75 m
Caçamba: 580 litros
Capacidade de carga: 605 kg
Tanque de combustível: 55 litros
Peso em ordem de marcha: 1.135 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 10,2/10,8 seg. (etanol/gasolina)
Velocidade máxima: 174/178 km/h (etanol/gasolina)
Preço básico: R$115.690 (carro avaliado: R$119.100)

Itens de série:

ABS” Freios com função antitravamento, “ESS” – alerta de frenagem de emergência, “I-System com Eco-Comfort” – computador de bordo, “Keyless” – sistema de alarme com comando remoto, “RKA” – Indicador de controle da pressão dos pneus, 2 Luzes de leitura dianteiras e 2 luzes de leitura traseiras, 2 airbags (passageiro e motorista), 5 apoios de cabeça (2 dianteiros e 3 traseiros), 4 alto-falantes e 2 tweeters, Alerta sonoro e visual para não utilização do cinto de segurança do motorista, Alça de segurança no teto para o passageiro, Antena no teto, Ar-condicionado com filtro de poeira e pólen, Bagageiro longitudinal no teto, Banco do motorista com ajuste de altura, Chave tipo “canivete” com controle remoto, Cintos de segurança dianteiros com pré-tensionador, Cintos de segurança traseiros de 3 pontos (inclusive o central), Coluna de direção com ajuste de altura e profundidade, Colunas centrais externas com aplique em preto fosco, Console central com porta-copos, Câmera de ré, Decoração especial EXTREME, Desembaçador do vidro traseiro, Direção hidráulica, Espelhos retrovisores externos com ajustes elétricos e função tilt-down no lado do passageiro, Espelhos retrovisores externos com luzes indicadoras de direção integradas, Espelhos retrovisores pintados em preto e maçanetas na cor do veículo, Faróis com função “Coming & Leaving home”, Faróis de neblina, Faróis halógenos, Freios a disco nas quatro rodas, Ganchos para amarração de carga e capota marítima, HHC (Hill Hold Control) – Assistente para partida em subidas, Iluminação da caçamba, Limpador do para-brisa com temporizador, Luz de freio elevada (brake light), Painel de instrumentos com conta-giros, velocímetro, marcador do nível de combustível e nível de temperatura do motor + tela multifuncional, Para-sol com espelho iluminado para motorista e passageiro, Pedaleiras esportivas em aço inox, Porta-revistas no encosto do banco do passageiro, Regulagem do facho do farol, Revestimentos dos bancos em vinil, Rodas de aço aro 15″, Sensor de estacionamento traseiro, Sistema de som touchscreen “Composition Touch” com APP-Connect. Tomada 12v no console central, Travamento elétrico das portas com controle remoto, Vidros elétricos dianteiros, Vidros basculantes traseiros, Volante multifuncional em couro

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.