Fiat Uno Mille Electronic: novos tempos com carburador

O Fiat Uno trazia em 1984 como grande trunfo o bom espaço interno e soluções criativas como cinzeiro deslizante no painel, limpador de para-brisas único e todos os comandos do painel à mão por teclas, que eliminava a necessidade de o motorista tirar as mãos do volante para acionar. Considerado “Carro de Gênio” em sua publicidade, em 1985 foi pioneiro no Brasil em oferecer o computador de bordo como opcional, juntamente com o Fiat Prêmio.

Tratado como um carro “genial” para sua época, o Uno era lançado em 1984 (Foto: Fiat/divulgação)

Dentre tantas versões, o pequeno popular da Fiat revolucionou o mercado no início de 1990 com o lançamento do Uno Mille, e com este, foi o grande responsável pela explosão de carros populares nas ruas das próximas duas décadas, lê-se anos 90 e 2000. Foi uma simples redução de 40% para 20% na alíquota do IPI vigente que viabilizou o lançamento do primeiro carro popular dos novos tempos.

O Mille estreva motor 1.0 e deu início à manada de populares dos anos 90 e 2000 (Foto: reprodução/Quatro Rodas)

Baseado no Uno S, o Uno Mille teve alguns itens retirados, como servo-freio, saídas de ar laterais, câmbio de 5 marchas, reclinador do encosto, apoio de cabeça, tampa do porta-luvas e acionamento elétrico do limpador de para-brisas. Como opcionais, oferecia acendedor de cigarros, protetor para o motor e câmbio, bancos reclináveis com apoio de cabeça, câmbio de cinco marchas, filtro de ar adicional, limpador, lavador e desembaçador do vidro traseiro, protetor do tanque de combustível e servo-freio.

Alguns equipamentos caíam fora, como esperado em um carro simples como ele era (Foto: Fiat/divulgação)

Seu motor era o antigo 1050 do Uno S a gasolina e Fiat 147, mas com a cilindrada reduzida a 994 cm³. Oferecia 48,8 cv de potência a 5700 rpm e 7,4 kgfm de torque a 3000 rpm. Fazia de 0 a 100 km/h em 20,04s e chegava aos 133,1 km/h de velocidade máxima. O consumo era bom, considerando a alimentação por carburador de corpo-simples: 10,8 km/l de gasolina na cidade e 13 km/l na estrada.

Fracasso? Que nada! Logo chegava o Uno Mille Brio, melhor acabado e mais potente (Foto: Fiat/divulgação)

Um carro tão espartano e fraquinho estaria fadado ao fracasso?! O mercado dizia que não, e as vendas disparavam. A Fiat logo lançou a primeira versão especial em 1991, chamada Mille Brio, que trazia, além do acabamento diferenciado, carburador de corpo-duplo (que era de corpo simples da versão comum), maior taxa de compressão (8,6:1 ante 8,5:1) e novo ângulo de abertura e fechamento das válvulas. Agora, o motorzinho tinha 54,4 cv a 5750 rpm e 7,7 kgfm de torque a 2750 rpm.⠀

Mille Electronic tinha ignição eletrônica, mas mantinha o carburador (Foto: Fiat/divulgação)

Sempre inovadora, a Fiat trouxe em 1993 uma importante evolução técnica, a ignição eletrônica do sistema de injeção eletrônica, porém usando o obsoleto carburador. É confuso?! Sim, mas eu explico: Para atender às novas exigências do PROCONVE vigentes, a engenharia da Fiat aproveitou o sistema de ignição eletrônica do Uno 1.5 i.e, lançado em 1991, que usava sensores eletromagnéticos com sensor de detonação, uma espécie de ignição estática, e por sua vez eliminava a necessidade de distribuidor, mantendo o bom e barato carburador.

Na prática essas alterações eliminavam a necessidade do uso do catalisador e permitia partidas mais fáceis. Agora usava carburador de corpo-duplo em todas as versões e a potência subia daqueles números da versão Brio para 56,1 cv a 6000 rpm e 8,0 kgfm de torque a 3250 rpm, muito melhor que os 48,8 cv a 5700 rpm e 7,4 kgfm de torque a 3000 rpm da versão comum com carburador de corpo-simples.

Além da eletrônica já presente em um popular, o que era motivo de publicidade, a versão Electronic se tornava o Mille mais potente até então (Foto: Fiat/divulgação)

O desempenho melhorava: agora completava a prova de 0 a 100 km/h em 16,41s e chegava a bons 150,1 km/h. O consumo pouco diminuía: 10,6 km/l de gasolina na cidade e 13,96 km/l na estrada. Além desta evolução mecânica, no mesmo ano, o agora Mille (sem “Uno” em seu nome), trazia opcionalmente as 4 portas, sendo o primeiro veículo popular dos anos 90 a oferecer tal comodidade. E logo fez sucesso, incomodando bastante a concorrência, que só veio responder com o GM Corsa dois anos depois. Ford e VW vieram demoraram ainda mais.

Logo vieram as quatro portas como opcional, inclusive para o Mille Electronic (Foto: FIat/divulgação)

Outro opcional ao qual reforçava o pioneirismo da Fiat no segmento era o ar-condicionado, oferecido também em 1993. São raros os Mille Electronic com este recurso, mas existem.

A história do Uno durou 37 anos, e teve muitas outras versões icônicas, mas, com certeza, o Mille foi o mais representativo de seu legado. Não para menos, acabou sendo o Fiat mais vendido do Brasil até hoje.

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.