(Comparativo) VW Saveiro Extreme vs. Fiat Strada Volcano: as picapinhas cabine dupla
Pepsi e Coca-Cola, Nike e Adidas, McDonald’s e Burger King, Fiat Strada e VW Saveiro. Não há uma forma mais fácil de explicar a rivalidade das duas picapinhas no mercado nacional. A da Volks veio bem antes, em 1982, mas, quando a Strada foi lançada em 1998, as duas já entraram em pé de guerra pelas diversas semelhanças, tanto no preço, motorização, equipamentos e por aí vai. Sem falar que, desde sempre, cada uma delas angaria uma legião de fãs, que sempre estão “batendo boca” pra verem qual é a melhor. Depois que a Fiat ganhou quatro portas, ficou mais distante da Saveiro, porém as duas ainda brigam pelo mesmo consumidor. Em pleno 2024, quem ganha?
Versões e preços
A VW Saveiro começa, simples e só com dois lugares na versão Robust, em menos de R$99 mil, enquanto a Fiat Strada Endurance, opção mais em conta, custa quase R$5 mil a mais, exatos R$103.490. As duas tem linhas pequenas, de quatro opções na Fiat e cinco na Volks (só a Saveiro tem uma configuração pelada com cabine dupla), e, como foco aqui nesse comparativo, temos a topo de linha Saveiro Extreme, de R$115.690, versus sua equivalente Strada Volcano, de R$118.990. A Strada das fotos é uma Ranch T200, com frente um pouco diferente, porém ela guarda várias semelhanças com a Volcano.
Motor, câmbio e suspensões
De cara, a Saveiro Extreme já fica a um passo a frente da sua rival Fiat pelos dados de ficha técnica: ela usa o 1.6 16v MSI, de duplo comando variável, entregando 106/116 cv de potência e 15,4/16,1 mkgf de torque (gasolina/etanol), emparelhado ao confiável câmbio manual MQ200 de cinco marchas. A Strada revida com seu moderno 1.3 8v Firefly, que não é tão rebuscado quanto o propulsor da VW, porém consegue melhor fôlego nas baixas rotações graças as duas válvulas por cilindro. Nesse 1.3 são 98/107 cv de potência e 13,2/13,7 mkgf de torque, também administrados por uma transmissão manual de cinco marchas.
As duas picapinhas usam de uma solução parecida nas molas e amortecedores dianteiros (McPherson, com barra estabilizadora), com foco na suavidade e conforto. A coisa muda de figura quando passamos para as rodas de trás. A VW Saveiro sempre apostou no mesmo sistema do Gol, de quem deriva: eixo de torção, molas helicoidais, mais o amortecedor pressurizado, o que garante a ela o nível de conforto bem próximo ao de um hatch compacto comum. No quesito estabilidade e dinâmica, também tende a superar a rival.
O detalhe é que, também por isso, nunca foi dela o mérito de levar muita carga ou “aguentar o tranco” quando o assunto é encher a caçamba com bastante peso. Falando da Extreme, a VW não declara nada além dos 605 kg de capacidade de carga. Dá para chegar até os 665 kg nas versões mais básicas, e leves, com cabine simples. Ao menos, só ela oferece o refinamento dos freios a disco nas quatro rodas, um belo passo a frente dos tambores traseiros da concorrente.
Enquanto isso, na Fiat Strada, desde sempre, existe lá atrás um eixo rígido com feixes de molas, ou seja, o mesmo esquema construtivo de caminhonetes grandes e até caminhões pesados, que ela “emprestou” da Fiorino. Não é nenhum primor em conforto (pula mais que a Saveiro) nem em estabilidade (não tem barra estabilizadora ali, por exemplo). Em contrapartida, ter uma suspensão traseira de caminhão lhe garante vantagem na capacidade de carga: a versão Volcano, com cabine dupla, pode levar até 650 kg, quase o mesmo que uma Saveiro Robust de cabine simples. A Endurance, que seria rival da VW Robust, chega aos 720 kg, mas é bem comum vê-las levando muito mais do que isso.
Desempenho e consumo
Até pelos números de potência e torque, é fácil saber qual das duas oferece melhores resultados de aceleração e performance: a Saveiro Extreme e seu 1.6 16v, que, apesar de entregar força nas maiores rotações (fazendo valer as relações curtas das cinco marchas), move a carroceria mais leve da picape VW com folga, desde que não se meça esforços para reduzir uma, ou até duas, marchas em busca do seu pico de torque, aos 4 mil rpm. Também pelo motor 16v e câmbio ágil, é fácil realizar ultrapassagens ou retomadas com ela na estrada.
Usando etanol, como no carro avaliado, os dados de fábrica falam num 0 a 100 km/h em interessantes 10,2 segundos. Quem não se sai tão bem nessa história é o consumo de combustível, que dificilmente passou dos 12 km/l na estrada e, nas melhores condições, com trânsito livre e ar-condicionado desligado, beirou os 9,0 km/l na cidade. Na estrada, o câmbio curto, que faz o motor girar a 3 mil rpm a 100 km/h, não permite médias surpreendentes, enquanto o pico elevado do torque do 1.6 pode exigir rotações mais altas na cidade se houver pressa. Com pé leve, vale falar, o motor MSI da Saveiro consegue ser progressivo e suave, mas sem mágica nos dados de km/litro mostrados no painel.
A receita da Fiat Strada Volcano é parecida: câmbio bem curto para garantir agilidade, especialmente no dia a dia na cidade. Ela, aliás, também crava seu conta-giros ao redor dos 3.000 rpm a 100 km/h nas rodovias, e entrega o torque máximo aos 4 mil giros, igual a Saveiro. A vantagem do Firefly é sua força prematura: bem antes do pico de torque já é possível acelerar a picapinha sem sofrimento, claro que dentro das suas limitações (são 2,5 mkgf a menos que na VW, e o modelo da Fiat ainda pesa mais). No uso comum, sem muita carga a bordo, o 1.3 Firefly da Strada dá tranquilamente conta do recado, e até transmite um pouco mais de sensação de progressividade nas acelerações.
Também com etanol no tanque, seus níveis de aceleração são sensivelmente piores que os da rival Volks: 0 a 100 km/h em 11,8 segundos, se intimidando também na velocidade máxima (cerca de 10 km/h a menos). Porém, o Firefly nela segue a fama de econômico, ou seja, em matéria de consumo a Strada vai além da Saveiro: dá para passar dos 13 km/l na estrada, ou chegar perto dos 10 km/l na cidade em condições mais favoráveis, sempre com o combustível de cana. Apesar de ter também 55 litros de capacidade no tanque, como a VW, a picape da Fiat consegue ir mais longe sem precisar reabastecer.
Dirigibilidade, espaço e caçamba
O projeto de quinze anos da Saveiro, que foi adaptado para receber essa cabine dupla, já tem lá seus percalços de ergonomia, o que a coloca numa situação complicada frente a Fiat Strada, concebida há bem menos tempo e já com as quatro portas. O que acontece é que, na picapinha da VW, o trilho dos bancos dianteiros são bem limitados, justamente para não apertar ainda mais quem vai na segunda fileira. Para motorista e copiloto pequenos, sem problemas, mas quem tem mais de 1,80 m de altura já fica desconfortável, com o volante, painel e pedais muito pertos do banco. E, como sua posição de guiar é elevada, faz falta um console central mais alto, ou até um apoio de braço central.
Ao menos, a picapinha da VW usa e abusa do know-how da VW brasileira, e das suspensões similares a do Gol, para oferecer níveis agradáveis de conforto e estabilidade (seu comportamento em curvas, por exemplo, é tão bom quanto o de hatches compactos). Completando o time, seu volante tem ajustes de altura e profundidade, o câmbio é extremamente justo e preciso, e todos os comandos e botões ficam ao alcance do motorista. O teto alto, incluindo o ressalto para a segunda fileira (montada sob o assoalho da caçamba, portanto mais alta), não faz com que ocupantes de maior estatura fiquem curvados ou encolhidos. Atrás, no pequeno banco traseiro, só vão bem crianças: é complicado entrar e sair de lá, e o espaço é bem limitado.
Como já nasceu assim, pensada para ter uma carroceria de cabine dupla com quatro portas, a Strada Volcano é mais espaçosa e acomoda com melhor competência seus ocupantes, de preferência quatro dos cinco possíveis. Não é nenhuma sala de estar: há certa limitação no vão para as pernas, tanto de quem vai na frente quanto de quem vai atrás, e, por conta das portas de tamanho limitado (só um pouco maiores que as do subcompacto Mobi), o movimento de entra-e-sai não é tão fácil quanto parece, também pensando em adultos mais altos. Ainda assim, é infinitamente superior ao da Saveiro, que segue com duas portas.
Mesmo lidando com o volante sem ajuste de profundidade, que pode ficar longe do motorista caso o banco seja colocado mais para trás, e o câmbio de alavanca longa e trambulador “molenga”, os ajustes para o motorista são amplos, evitando justamente aquele problema de aperto encontrado na Saveiro. Graças a uma posição também alta de guiar, alguns componentes podem ficar um tanto longes de quem dirige, mas aí é questão de costume. A versão Volcano também dispensa o apoio de braço central, que faz falta, porém conta com bancos macios e ergonômicos. Os freios são bons, mesmo dispensando os discos traseiros, e, compensando os feixes de molas, o conjunto de dianteiro trata de garantir equilíbrio e bom comportamento da picapinha da Fiat. A assistência da direção aqui é 100% elétrica, muito mais leve.
A caçamba da Strada cabine dupla também é bem maior: comporta até 844 litros num compartimento de 1,17 m de comprimento por cerca de 1,00 m de largura entre as caixas de roda, permitindo o transporte de objetos maiores e até altos, graças ao assoalho fundo e paredes elevadas nas laterais. O compartimento da Saveiro Extreme é menor, quase quadrado, com aproximadamente 1 metro de comprimento por 1 metro de largura, e não é tão fundo quanto o da rival Fiat. A VW declara até 645 litros se todo o espaço for utilizado, até o limite das paredes. Na lista de equipamentos de série das duas rivais estão a capota marítima, iluminação própria para a caçamba e ganchos para fixar a carga.
Itens de série e opcionais
Bom saber que a picapinha da Volks não fica muito aquém da Strada nos conteúdos de série, mesmo sendo bem mais antiga nessa geração. Na VW está a multimídia Composition Touch de 6,5” com conexões via cabo com smartphones Android e IOS, que é mais rápida, direta e fácil de operar que o sistema UConnect de 7” da Fiat. Como destaques da Saveiro, as rodas de liga-leve aro 15 (16” na Strada), indicadores para redução de consumo no painel (Eco-Comfort), freios a disco nas quatro rodas, pedaleiras em aço inox, bancos revestidos em vinil, volante em couro, câmera de ré e mais, enquanto a picape da Fiat dá um passo além com os faróis em LED, airbags laterais, função de bloqueio eletrônico do diferencial e vidros elétricos nas quatro portas.
Só que, além das cores metálicas (R$2,3 mil na Fiat e R$1,6 mil na Volks), cada uma das picapinhas tem seu pacote de opcionais: o Tech da Saveiro, que custa R$2,2 mil extras, adiciona itens que a Strada nem sonha em ter, como o controle eletrônico de descidas, retrovisor interno fotocrômico, além de piloto automático, sensores de chuva e crepuscular. O modelo rival tenta fazer menos feio com o kit Volcano Plus, de R$3,5 mil, que agrega ao seu conteúdo os importantes ar-condicionado automático digital e carregador de celular sem fio (que não existem na Saveiro), fora o banco em vinil, volante em couro e câmera de ré que a picape da VW já traz de série.
As duas quase se igualam na lista de equipamentos e opcionais, com uma trazendo o que não existe na outra, só que a Strada Volcano, completinha e equipada, termina bem mais cara: quase R$125 mil. A Saveiro Extreme, também pintada de cor metálica e com o pacote extra, não passa de R$120 mil. Quem precisa de mais espaço, caçamba e das portas traseiras, precisa ir de Fiat, porém há quem goste mais do 1.6 16v, do conforto ou dos itens que só o carro da VW oferece. O duelo, que já dura 26 anos, aparentemente vai longe.
Fotos e ficha técnica Saveiro
Concepção de motor: 1.598 cm³, flex, quatro cilindros, 16 válvulas (quatro por cilindro), aspiração natural, injeção indireta de combustível, comando de válvulas duplo no cabeçote, variador de fase na admissão e escapamento, bloco e cabeçote em alumínio |
Transmissão: manual de 5 marchas + ré |
Potência: 106/116 cv a 5.750 rpm (gasolina/etanol) |
Torque: 15,4/16,1 mkgf a 4.000 rpm (gasolina/etanol) |
Suspensão dianteira: independente, tipo McPherson, com barra estabilizadora |
Suspensão traseira: eixo de torção com molas helicoidais |
Direção: com assistência hidráulica |
Freios: discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira |
Pneus e rodas: Goodyear EfficientGrip Performance, medidas 205/60 e rodas de liga-leve aro 15 |
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,49 m/1,72 m/1,56 m/2,75 m |
Caçamba: 580 litros |
Capacidade de carga: 605 kg |
Tanque de combustível: 55 litros |
Peso em ordem de marcha: 1.135 kg |
Aceleração 0 a 100 km/h: 10,2/10,8 seg. (etanol/gasolina) |
Velocidade máxima: 174/178 km/h (etanol/gasolina) |
Preço básico: R$115.690 (carro avaliado: R$119.100) |
Fotos e ficha técnica Strada
Concepção de motor: 1.332 cm³, flex, quatro cilindros, 8 válvulas (duas por cilindro), aspiração natural, injeção indireta de combustível, comando de válvulas único no cabeçote, bloco/cabeçote em alumínio |
Transmissão: manual de cinco marchas + ré |
Potência: 98/107 cv a 6.250 rpm (gasolina/etanol) |
Torque: 13,2/13,7 mkgf a 4.000 rpm (gasolina/etanol) |
Suspensão dianteira: independente, tipo McPherson, com barra estabilizadora |
Suspensão traseira: eixo rígido com feixes de molas |
Direção: com assistência elétrica progressiva |
Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira |
Pneus e rodas: Goodyear Wrangler Territory AT, medidas 205/55 e rodas de liga-leve aro 16 |
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,45 m/1,73 m/1,60 m/2,74 m |
Caçamba: 844 litros |
Capacidade de carga: 650 kg |
Tanque de combustível: 55 litros |
Peso em ordem de marcha: 1.174 kg |
Aceleração 0 a 100 km/h: 11,8/12,7 seg. (etanol/gasolina) |
Velocidade máxima: 166/171 km/h (etanol/gasolina) |
Preço básico: R$118.990 (carro avaliado: R$124.780) |