(Avaliação) Peugeot 208 Style tem mecânica de Fiat e toma lugar do Argo

Bonito, compacto, econômico, completíssimo e com preço que não assusta tanto assim: palavras que resumem a proposta do 208 Style, o Peugeot com mecânica Fiat. O hatch hoje é vendido por R$90 mil (é…acabaram os incentivos do governo), e traz tudo aquilo que já era virtude no “leãozinho” desde 2020, quer seja nas versões mais caras como a Griffe, as intermediárias como a Active, e as de entrada como a extinta Like 1.6.

Esse 208 é um filho da gestão Stellantis, e tem a missão importante de desbancar qualquer preconceito que ainda sobreviva contra os carros franceses atuais. Sua produção continua lá em Palomar, na Argentina, mas nessa versão Style ele é movido pelo motor 1.0 6v Firefly nacional, câmbio C513 manual de cinco marchas, além de contar com alguns acertos especiais para receber o novo powertrain. Nada de seguir os protocolos franceses: ele é abrasileirado sem perder o espírito europeu, como deve ser.

Essa versão Style já é fruto da gestão Stellantis: tem motor e cãmbio Fiat, nacionais (Foto: Lucca Mendonça)

Na verdade, são duas missões, já que ele também toma do extinto Argo S-Design o título de hatch 1.0 aspirado mais completo do Brasil. Bota completo nisso: quem olha a carroceria em cor metálica, com rodas aro 16 black piano com pneus 195/55 (até surpreende essa medida num 1.0, que quase sempre busca o menor atrito), faróis escurecidos com LED em todas as lâmpadas, lanternas escurecidas, retrovisores e teto em preto brilhante, mesma grade enfeitada das versões topo de linha e até um aerofólio, nem imagina que ali, debaixo do capô, vai um “milzinho” de meros 75 cv de potência máxima e 10,7 mkgf de torque.

Firefly debaixo do capô: aqui no 208 ele fica mais “bonitinho” e bem montado (Foto: Lucca Mendonça)

Isso com etanol, combustível que o Firefly consegue seus melhores números. No caso de gasolina, como no carro avaliado, são 71 cv e 10 mkgf, mais tímidos. Esse motor é extremamente simples na concepção (duas válvulas por cilindro, comando simples no cabeçote, sem variador de fase), mas troca a tecnologia pela manutenção descomplicada, economia de combustível e robustez (o uso de corrente ao invés de correia dentada já diz bastante), assim como nos Fiat. Seu trabalho no 208 é elogiável: suave e silencioso.

Agilidade é uma coisa que o francês com sotaque mineiro tem bastante, principalmente no uso dentro das cidades e centros urbanos. As primeiras marchas tem relações curtas exatamente para dar fôlego nas baixas e médias velocidades: mesmo com um ou dois passageiros a bordo, se comporta até melhor que o esperado, como geralmente acontece nos 1.0 modernos. E, como tem só duas válvulas por cilindro ao invés de quatro, é justamente nas rotações (e velocidades) menores que o Firefly trabalha com mais rapidez. O consumo urbano, enquanto isso, foi alegrando com médias de 14 km/l ou mais.

Para a estrada, uma quinta alongada ajuda no silêncio e conforto (são cerca de 3 mil giros a 100 km/h), mas numa ultrapassagem rápida ou redução mínima ele permite uma redução para a 4ª sem esforço: o motor grita mais alto, com barulho invadindo a cabine, mas assim ele consegue extrair seu máximo. Nesse caso, as duas válvulas por cilindro, com fluxo menor dos gases, não ajudam. Pelo contrário. Bebendo gasolina ao redor dos 110 km/h, o computador de bordo cravava 20,6 km/l de gasolina, o que permitiu uma viagem de 100 km gastando menos de seis litros (nem 1/8 de tanque).

Câmbio da Style tem as primeiras marchas curtas, para ficar rápido na cidade, e uma quinta longa para o conforto das estradas (Foto: Lucca Mendonça)

Prazer ao volante também é um ponto forte: o 208 é o hatch melhor elaborado nesse ponto, afinal é o único inovador com o iCockpit, de volante pequeno e ovalado, instrumentos elevados, comandos voltados ao motorista e posição baixa de direção, e também ajustes corretos dos pedais e direção elétrica (o volante diminuto deixa o carro ainda mais “na mão”). Graças a um novo trambulador, um pouco mais justo e objetivo, o câmbio Fiat é melhor de manusear no 208 do que nos Argo, por exemplo, mas não livrou a caixa do problema típico da ré que arranha e as vezes nem entra como deveria.

E, mesmo com os ajustes feitos pela Fiat de Betim, o 208 1.0 continua aquele carro pequeno, ágil nas manobras, com comportamento macio e suave, e que faz feliz os motoristas que curtem um estilo de direção mais esportivo. Não nas acelerações, lógico, mas sim na dinâmica e em curvas rápidas, por exemplo. De longe, é um dos hatches mais gostosos de guiar do mercado nacional, e mesmo com a performance tímida ele dispõe de vários ajustes do banco e volante. O cinto, pena, é fixo, mas não chega a incomodar.

Só que a cabine é apertada: se espaço for uma das suas necessidades básicas, é melhor olhar o 208 com mais cuidado. Típico projeto francês que coloca o estilo na frente da usabilidade, tem menor área envidraçada que seus rivais (o teto panorâmico salva), colunas mais largas, teto baixo e ovalado, fora o estilo hi-tech e engrandecido da cabine, que limita seu vão para pernas, ombros e cabeças. Em nada ajuda uma minúscula porta traseira, também.

208 é pequeno, ainda mais no banco traseiro. Basta ver o quão próxima fica a maçaneta traseira da dianteira: a porta é pequena (Foto: Lucca Mendonça)

Isso se deve principalmente ao painel longo e bancos grandes, que transpiram conforto aos passageiros dianteiros, mas apertam quem vai atrás. O porta-malas também fica na lanterninha do segmento, seja pela capacidade limitada ou pela tampa alta, com “boca” pequena. Não tem jeito, é um carro pequeno.

Por sorte, todo aquele requinte de topo de linha segue no interior, que mima os passageiros com multimídia de 10”, câmera 180º, sensores de estacionamento traseiros, um sistema de som agradável, ar-condicionado digital, carregador de celular sem fio, o teto-panorâmico com persiana, black piano nos apliques, cromado nos detalhes e até imitações de fibra de carbono, na mesma linha dos Griffe topo de linha: nunca tivemos um 1.0 com esses níveis de esmero no Brasil. E pensar que os “milzinhos” de poucos anos atrás dispensavam até ar quente e limpadores traseiros…

Focando nos outros hatches compactos mais simples, existe também o 208 Like 1.0, bem mais simples que esse Style, e que também custa menos. O casamento do carro francês com motorização mineira deu muito certo na prática (completão assim…). Nas vendas, por outro lado, o pequeno Peugeot ainda tem sete outros hatches a frente no ranking, precisa caminhar: ele aparece hoje como o 22º carro mais vendido do Brasil. Talvez falte propaganda. Beleza, recheio, requinte, dirigibilidade e economia de combustível ele já tem.

Ficha técnica:

Concepção de motor: 999 cm³, flex, três cilindros, 6 válvulas (duas por cilindro), aspiração natural, injeção indireta de combustível, comando de válvulas único no cabeçote, bloco e cabeçote em alumínio
Transmissão: manual de 5 marchas + ré
Potência: 71/75 cv a 6.000 rpm (gasolina/etanol)
Torque: 10,0/10,7 mkgf a 3.500 rpm (gasolina/etanol)
Suspensão dianteira: independente, do tipo McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: eixo de torção com molas helicoidais
Direção: com assistência elétrica progressiva
Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira
Pneus e rodas: Pirelli Cinturato P7, medidas 195/55 e rodas de liga-leve aro 16
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,05 m/1,74 m/1,45 m/2,54 m
Porta-malas: 265 litros
Tanque de combustível: 47 litros
Peso em ordem de marcha: 1.102 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 13,4 segundos (etanol)
Velocidade máxima: 162 km/h (etanol)
Preço básico: R$89.990 (carro avaliado: R$91.940)

Itens de série:

4 airbags, Central Multimídia PEUGEOT Connect 10,3”, Espelhamento sem fio via Android Auto e Apple CarPlay, Luzes DRL “Dentes de Sabre” em LED, 2 entradas USB, Alarme perimétrico, Retrovisores externos elétricos, Vidros elétricos nas quatro portas, Travas elétricas, ESP + TC, Faróis Full LED com ajuste automático de alturam, Grade exclusiva em Dark Chrome, Rodas 16” Dark Style com pneus 195/55, Aerofólio traseiro, Wireless charger (carregamento de smartphone por indução), Bancos e tapetes exclusivos Style, Teto panorâmico, Visiopark 180º (câmera + sensores traseiros), Ar-condicionado digital, Ponteira cromada na saída de escapamento, Abertura dos vidros elétricos com função “um toque”, Volante regulável em altura e profundidade, Fixação Isofix para cadeirinhas, Indicador de trocas de marchas, Computador de bordo, Volante multifuncional

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.