(Avaliação) Mercedes-Benz A250 é um hatch médio com vocação esportiva que custa R$320 mil
A Mercedes prefere chamar com um nome diferente, mas esse A250 nada mais é do que a atual geração do Classe A. Sim, aquele mesmo modelo altinho e com estilo diferentão, que até chegou a ser produzido em Juiz de Fora (MG) entre o final dos anos 90 e meados dos anos 2000, só que três gerações adiante. Desde 2012 ele se tornou definitivamente um hatch médio, concorrente de Audi A3 e BMW Série 1, e assim permanece até hoje.
Essa carroceria vendida atualmente é a W177, vendida há cerca de dois anos no mercado nacional, e trouxe como principal inovação o MBUX (Mercedes-Benz User eXperience). Mas o que é isso? Nada além de um sistema que controla várias funções do carro por comandos de voz, à la Google Assistente, como temos na maioria dos smartphones nos dias de hoje. É só dizer um “Olá, Mercedes”, que o carro logo responde. É possível abrir/fechar a persiana do teto-solar panorâmico, comandar o ar-condicionado, ouvir dados do computador de bordo e por aí vai, tudo pedindo carinhosamente ao tal MBUX. Um recurso muito interessante e inusitado, que causou um rebuliço (talvez desnecessário) na época da sua estreia.
Voltando ao nosso assunto principal, o A250 é um carrinho bem bacana. Leve, compacto, gostoso de guiar, e com a dinâmica que se espera de um hatch médio. A posição do motorista é baixa e confortável, com tudo a mão, como é de praxe nos MB. Seu rodar áspero e no chão deixa a dúvida se estamos falando de um modelo dois volumes de luxo ou então de um pequeno esportivo. Essa dúvida cresce ainda mais quando se olha os números de desempenho: 0 a 100 km/h em nada além que 6,2 segundos, com a velocidade final limitada em 250 km/h. Quem vê, nem imagina que anda tão bem.
Quem move essa ferinha que posa de carro elegante é um 2.0 turbo a gasolina de 224 cv e 35,7 mkgf de torque. Duplo comando de válvulas com variador de fase na admissão e escape e a injeção direta de combustível não poderiam faltar nesse conjunto, assim como uma transmissão automatizada de dupla embreagem com 7 marchas (a consagrada DCT – Dual Clutch Transmission, ou Transmissão de Dupla Embreagem numa tradução para o português brasileiro).
Para você, leitor, ficar mais familiarizado com isso tudo, estamos falando de um trem-de-força bem similar ao que usava o lendário VW Golf GTI vendido no mercado nacional, inclusive com números próximos de potência e torque. Aqui no Classe A também temos o sistema de suspensões independentes nas quatro rodas, eixo traseiro com fixação do tipo multilink e rodas aro 18 com pneus de perfil 225/45. Agora passo a dúvida para você: esse Mercedes é um esportivo ou não? Olhando esses dados, tudo indica que sim. Os mais puristas vão dizer que o verdadeiro Classe A esportivo é o A45 AMG, mas aí já partiríamos pra outro naipe de automóvel.
Como já dito antes, o que faz dele um carrinho legal de se dirigir é a carroceria baixa e com suspensões bem durinhas, priorizando a estabilidade e dinâmica em curvas. Problemas por isso temos vários: não temos tanta suavidade no rodar diário, e uma boa parte das imperfeições do solo são descontadas nos ocupantes. Também é missão difícil passar por uma lombada ou valeta sem raspar o parachoque, por mais cuidadoso que você seja na condução. Quem quer conforto e maciez provavelmente parte para uma Classe C ou o SUV GLB200, seu parente próximo.
No interior do A250 cabem confortavelmente até quatro pessoas adultas e uma criança no meio do banco traseiro, com um espaço bom para pernas e ombros, graças aos generosos 2,73 m de entre-eixos e 1,80 m de largura. A mesma carroceria baixa que ajuda na aerodinâmica (inclusive, fica aqui o registro do seu cx de apenas 0,25), também prejudica o espaço interno, então não podemos esperar que os ocupantes mais altos se acomodem tão bem, principalmente atrás. Vai ter aquela clássica cabeçada no teto vira e mexe, mas tudo isso é perdoável, afinal estamos falando de um hatch “pequeno” de entrada, um Classe A. Ao menos, o espaço para a bagagem está garantido, já que no porta-malas vão bons 370 litros.
Pois é, um hatch “pequeno” de entrada, mas com preço de sedan premium intermediário. Os valores do site da Mercedes não mentem, e, por mais assustador e surpreendente que seja, esse A250 é vendido por nada menos que R$319.990. É um Classe A pelo preço de Audi A4 top de linha, e muito mais caro que um Classe C topo de linha. Parece totalmente sem sentido, e realmente é, mas são estratégias de mercado da fabricante, e não cabe a nós ficar tentando entender. Como a vida dos hatches médios não anda fácil pela invasão dos SUVs no Brasil, hoje esse Mercedes tem apenas um concorrente: a BMW Série 1, que é vendida em versão única por R$260 mil (118i Sport GP). Ela não tem o mesmo pique de “semi-esportivo”, já que é equipada com um modesto 1.5 turbo tricilíndrico de 140 cv, mas traz uma lista de equipamentos mais interessante.
Inclusive, tocando no assunto dos conteúdos de série, é aqui que esse hatch premium da Mercedes-Benz pisa na bola. Por mais de 300 mil reais, falta bastante coisa. Na realidade, é tudo perdoado na medida do possível, porque voltamos a bater na tecla que o Classe A é um hatch “popular”, e foi assim que ele foi projetado, desde a concepção estrutural até o nível do acabamento interno. E é nesse segmento que ele entra em boa parte do planeta, menos no Brasil: por aqui, ele é mais caro até que a Classe C.
Fazendo um apanhado de itens ausentes nesse A250 de R$320 mil, vamos desde um simples retrovisor interno fotocrômico, passando pelas saídas de ar-condicionado traseiras (até isso ficou de fora), uma segunda zona de temperatura para o ar-condicionado principal e, se não for pedir demais, seriam muito bem-vindos controle de cruzeiro adaptativo (ACC), bancos dianteiros com resfriamento/aquecimento, monitor de ponto-cego, alerta de tráfego cruzado traseiro, tampa do porta-malas com abertura/fechamento elétricos e um sistema de som assinado. Não seriam equipamentos nem um pouco extraordinários em um hatch desse preço, não é mesmo?
Para sermos justos, vamos também falar alguns dos seus itens de destaque, dentre eles o sistema Park Assist, conjunto óptico full-LED, alerta de colisão com frenagem autônoma de emergência, alerta de saída de faixa, teto-solar panorâmico, painel de instrumentos digital e multimídia de 10,2” cada um, bancos dianteiros com ajustes elétricos e memorização de posição, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, 7 airbags (dois frontais, dois laterais, dois de cortina e um de joelhos para o motorista), rodas de liga-leve diamantadas aro 18 com pneus run-flat e por aí vai.
O carro, em si, é muito bem resolvido. Querendo ou não, caro ou barato, popular ou executivo, ainda estamos falando de um Mercedes-Benz, nada menos que o inventor do automóvel. Mas R$320 mil é um preço, digamos…complicado, ainda mais faltando tantos itens básicos, que hoje vemos até em populares. Se fosse mais recheado e custasse menos, o A250 seria um tremendo páreo para a onda dos SUVes. Tudo uma questão de reposicionamento do produto no mercado…