Motores flex: precisamos mesmo deles?

Tecnicamente falando, não. Além de não ser um indicativo de atualidade do projeto, já que um motor concebido originalmente nos anos 1980 ou 1990 pode receber tranquilamente um sistema de alimentação e ignição que permita queimar álcool, gasolina ou uma mistura dos dois, a tecnologia flex não permite extrair o potencial máximo dos motores.

A tecnologia flex, que possibilita o abastecimento com gasolina ou etanol, não consegue extrair o melhor dos motores (Foto: Fiat/divulgação)

A bem da verdade, os motores flexíveis não trabalham de maneira ideal com nenhum dos dois combustíveis. Os sistemas eletrônicos são calibrados para parâmetros médios, que permitem a máquina funcionar com ambos os combustíveis, mas sem estar usufruindo do potencial total de cada um deles.

A taxa de compressão dos motores flex, por exemplo, é aquém do que se utilizaria em um motor a álcool, mas é além do que deveria ser utilizado em um motor a gasolina. Em um motor que utilizasse apenas álcool e com os recursos tecnológicos proporcionados pelos monitores eletrônicos, poderíamos ter uma taxa de compressão ao redor dos 15:1, melhorando a potência, o torque e reduzindo sensivelmente o consumo.

A taxa de compressão de um motor, nada além de um cálculo matemático, poderia ser bem maior em propulsores exclusivamente movidos a álcool (Foto: reprodução/educacaoautomotiva.com)

No caso de motores estritamente a gasolina, utilizaríamos relações de compressão na casa dos 11:1, o que permitiria misturas de combustível um pouco mais magras na câmara de combustão e curvas de avanço mais acentuadas, com respostas mais rápidas do motor ao comando do acelerador e menores riscos de quebra por detonação, ocasionados por gasolina de octanagem inferior ao padrão..

Na realidade, os motores flex são paliativos, criados e desenvolvidos para se adequarem às características do nosso País, que oferece para o consumidor dois combustíveis distintos, cujos preços que oscilam muito em cada região e devido a diversos fatores externos, como a cotação do dólar, o preço do barril de petróleo no mercado internacional e a safra ou a entressafra da cana-de-açúcar.

Na realidade, os motores flex é coisa do nosso Brasil, onde os preços dos combustíveis varia muito (Foto: Aline Massuca/Metrópoles)

E aí fica uma questão para reflexão: será que você, consumidor, estaria disposto a trocar a ‘comodidade’ dos flex pelo melhor rendimento dos motores preparados para queimar apenas gasolina ou álcool?

Compartilhar:
Jornalista na área automobilística há 48 anos, trabalhou na revista Quatro Rodas por 10 anos e na Revista Motor Show por 24 anos, de onde foi diretor de redação de 2007 até 2016. Formado em comunicação na Faculdade Cásper Líbero, estudou três anos de engenharia mecânica na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e no Instituto de Ensino de Engenharia Paulista (IEEP). Como piloto, venceu a Mil Milhas Brasileiras em 1983 e os Mil Quilômetros de Brasília em 2004, além de ter participado em competições de várias categorias do automobilismo brasileiro. Tem 67 anos, é casado e tem três filhos homens, de 20, 31 e 34 anos.