(Comparativo) JAC T60 Plus e E-JS4: idênticos, mas bem diferentes

Interessante a política adotada pela JAC Motors em sua linha eletrificada. No caso específico do T60 Plus (leia a avaliação dele aqui), nome que o SUV médio da marca recebe quando conta com motor a combustão e transmissão CVT, ele é praticamente o mesmo carro quando movido a energia elétrica. Mas, aí, ele ganha outro nome: o E-JS4 (Electric JAC SUV tamanho 4).

Mesma plataforma, mesma carroceria, mesmo aspecto físico e interior praticamente idêntico. A diferença entre os dois está mesmo na propulsão: no T60, um motor 1.5 turbo de 16 válvulas e injeção direta, disposto transversalmente na dianteira, que produz 150 cv de potência (exatos 100 cv/litro) e conta com a parceria de um câmbio CVT que simula seis marchas. A força do conjunto vai para as rodas dianteiras.

O motor 1.5 turbo é moderno (Foto: Lucca Mendonça)

Um legítimo utilitário urbano, igual a muitos outros encontrados no mercado nacional, com conforto, suavidade e boa condução graças ao conjunto bem equilibrado. Seu preço está na casa dos R$150 mil.

A JAC aproveitou esse projeto bom do T60 e simplesmente o eletrificou, nascendo assim o E-JS4. Nada de um conceito novo de carro, com proposta revolucionária, peças sustentáveis ou super tecnologias. Por questões de custo, ele é apenas o T60 com uma propulsão elétrica. Até os equipamentos de série ou paleta de cores são praticamente os mesmos nos dois carros.

Quase gêmeos. A propulsão elétrica exige algumas alterações. Nesse caso, elas já foram feitas sob o guarda-chuva da Sihao, empresa da JAC em parceria com a Volkswagen, que está investindo pesado na eletrificação e viu na China um bom centro de desenvolvimento. No E-JS4 já há um dedinho da engenharia do Grupo VW para afinação de suspensões (recalibradas), direção elétrica (com novo ajuste), freios (discos maiores), rodas (1 pol. maior), pneus (mais largos e de marca tradicional) e por aí vai.

Na realidade, o E-JS4 deveria ser mais leve que o T60, afinal o motor a eletricidade pesa menos que o 1.5 turbo e, no elétrico, não existe câmbio. Mas a história não é assim: ele tem cerca de 300 kg a mais. O culpado é o conjunto de baterias de fosfato de ferro-lítio com 55 kWh de capacidade, aqui instalado sob o assoalho entre os eixos dianteiro e traseiro, que pesa bastante. Ao menos isso garante um centro de gravidade mais baixo, o que se reflete na melhor estabilidade da carroceria.

A complexidade de um motor com duplo comando de válvulas, duplo variador de fase, injeção direta de gasolina, pistões e bielas forjados e outras sofisticações exigidas atualmente, deram lugar à simplicidade e a leveza de um propulsor elétrico com os mesmos 150 cv de potência, mas que mostra uma vantagem gritante do torque máximo acima dos 34 mkgf ao invés dos pouco mais de 21 mkgf que entrega o 1.5 turbo.

Motor elétrico do E-JS4 está instalado na dianteira com os mesmos 150 cv, mas 34 mkgf de torque (Foto: Lucca Mendonça)

E, olha, o torque máximo do motor elétrico é instantâneo, quando ele começa a girar, ou seja, a zero rpm. No outro, movido a gasolina, a força total só vem aos 2 mil rpm. Na prática, isso se traduz em um desempenho totalmente diferente nos dois carros, inclusive eliminando a transmissão automática CVT no caso do E-JS4.

Colocando ambos lado a lado em uma hipotética arrancada, o primeiro chegaria aos 100 km/h em menos de oito segundos, enquanto o segundo levaria quase dez. Uma verdadeira surra. Em contrapartida, o elétrico leva a pior quando se quer viajar com velocidades médias elevadas, situação em que o superaquecimento das baterias pode danificá-las permanentemente. Por isso, o E-JS4 é limitado em 150 km/h.

Nos valores do elétrico E-JS4, podemos falar alguma coisa ao redor dos R$100 mil a mais para termos ao nosso dispor toda essa tecnologia. Ao invés dos R$150 mil do modelo a combustão, precisaríamos desembolsar R$250 mil para termos o mesmíssimo carro, mas elétrico.

Elétrico: mais caro?

Foto: JAC/divulgação

Tem uma infinidade de peças a menos, tanto de motor quanto de transmissão, dispensa filtros de ar, óleo e combustível, qualquer lubrificante, não conta com periféricos como bomba de óleo e água, alternador, correia dentada. Enfim, números indicam que um carro elétrico pode ter até 10 vezes menos componentes que um equivalente a combustão. Agora as perguntas que não querem calar: porque é, então, que o elétrico é tão mais caro? A simplicidade vale mais?

Essas perguntas devem ser respondidas pela indústria automotiva mundial, afinal todos os fabricantes seguem a mesma cartilha cobrando mais caro por seus elétricos. A justificativa é sempre a alta tecnologia e a menor escala de produção, que não permitem um preço tão competitivo quanto aquele dos carros a combustão.

A simplicidade de um elétrico, com menos componentes, vale mais? (Foto: Audi/divulgação)

Além disso, a indústria alega que, quando desenvolve uma versão elétrica, o custo de engenharia e desenvolvimento desses produtos é mais alto até eles chegarem ao grande público, de maneira que sejam confiáveis e duradouros como os carros a combustão. Mas, claro, devemos considerar que os modelos elétricos tem um custo por km rodado muito mais baixo, principalmente se considerarmos os preços altos dos combustíveis.

A própria JAC alega que o custo por km rodado do elétrico E-JS4 é seis vezes menor que o do T60 Plus. Para rodar 10 km com o modelo 100% elétrico, o proprietário gasta cerca de 1 Real. Nos carros a combustão, é difícil conseguir rodar 100 km por menos de 100 Reais, somando combustível e manutenção.

E-JS4: custo por km rodado até seis vezes menor que o de um SUV a combustão (Foto: Lucca Mendonça)

Eu, particularmente, acredito que, na medida que a produção dos elétricos for aumentando mundo afora, e a competitividade entre as marcas for se acirrando, os carros elétricos terão um preço mais honesto. Ou pelo menos custem cifras mais próximas as de um convencional, com motor a combustão. Assim, o consumidor terá a chance de escolha: “elétrico ou térmico?”.

Por enquanto, os carros elétricos estão sendo adquiridos por aquele público mais ousado, focado muito mais nos “prós” do que nos “contras”. Mas tenho que admitir que esses problemas são temporários, e logo terão solução. Queira ou não, os elétricos vão dominar também o Brasil, depois do mundo. Resta nos acostumar com essas tecnologias.

 

Compartilhar:
Jornalista na área automobilística há 48 anos, trabalhou na revista Quatro Rodas por 10 anos e na Revista Motor Show por 24 anos, de onde foi diretor de redação de 2007 até 2016. Formado em comunicação na Faculdade Cásper Líbero, estudou três anos de engenharia mecânica na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e no Instituto de Ensino de Engenharia Paulista (IEEP). Como piloto, venceu a Mil Milhas Brasileiras em 1983 e os Mil Quilômetros de Brasília em 2004, além de ter participado em competições de várias categorias do automobilismo brasileiro. Tem 67 anos, é casado e tem três filhos homens, de 20, 31 e 34 anos.