O curioso caso do Bumba Meu Uno

Esse causo, absolutamente verdadeiro, aconteceu lá pela metade dos anos 80. Os personagens foram o consagrado jornalista automotivo Marcus Zamponi, que já partiu dessa vida terrena pra outra melhor, e, na época, seu Uno SX, a primeira versão esportiva do hatch da Fiat.

Zampa, como era carinhosamente chamado nosso amigo jornalista no meio, sempre foi muito envolvido com as competições, tanto que uma época aqui no Brasil foi o assessor de imprensa do nosso Tricampeão Nelson Piquet. Talvez pelo fato de estar sempre ligado a corridas, tinha um tremendo pé de chumbo e sempre acelerava mais do que deveria.

Carioca, Zampa morava em São Paulo, pois trabalhava na Revista AutoEsporte, sediada na capital paulista. Mas nosso amigo jornalista morria de encantos por sua cidade natal e, sempre que possível, viajava ao Rio nos finais de semana.

Em uma dessas idas à Cidade Maravilhosa, ele estava com sua mais recente aquisição: O esportivo Uno SX completinho, inclusive com teto solar, algo incomum naqueles tempos. E vale lembrar também que Zampa não era um cara pequeno: tinha cerca de 1,90 m de altura e beirava os 150kg. Bem crescidinho! Mesmo assim, ele se ajeitava bem e ficava feliz no seu novo carro.

O que um Uno SX e o Bumba Meu Boi têm em comum?

Nessas viagens de bate e volta, em um domingo a noite já na Marginal Tietê, chegando em São Paulo, ultrapassando um caminhão pela esquerda, Zampa levou uma leve fechada do caminhoneiro. Isso foi suficiente para que ele perdesse o controle do seu Uninho em plena Marginal e em alta velocidade.

Zampa bateu por duas vezes na lateral da carreta e rodou na frente do caminhão, que levemente bateu com o parachoque dianteiro na lateral esquerda do Uno. Uma catástrofe! Como ele bateu duas vezes com o lado direito na lateral do caminhão, rodou, e depois tomou uma batida do lado esquerdo, as duas portas do carro travaram. Com isso, nosso protagonista estava preso no interior do seu automóvel.

Por mais que outros motoristas tenham tentado, ninguém conseguiu abrir a porta do Uno acidentado. Zampa, apesar de não ter sofrido ferimento algum, estava preso lá dentro. Nesse momento, veio a ideia brilhante: Abrir o teto solar e sair por ele. Genial! Marcus abriu o tal teto e começou a sair por ele, como havia pensado.

Foto: Fiat/divulgação

Mas lembram que contei que ele era meio ”fortinho”? Pois bem, ele conseguiu sair até a altura da barriga e, nesse momento, travou: Não conseguia sair e nem sequer voltar pra dentro do carro. Entalou!

Com as duas mãos apoiadas no teto do Uninho, meio corpo para fora e a outra metade para dentro, Zampa transformou seu Uno SX no Bumba Meu Uno, parodiando a famosa figura maranhense do homem que veste um boi figurativo e fica dançando nas festas folclóricas, o tal Bumba Meu Boi.

De acidentado a lenda do folclore nacional

Depois de ter ficado um bom tempo parado no meio da Marginal com aquele Uno SX entalado em sua parte inferior, os bombeiros chegaram para o socorro. Os profissionais de salvamento conseguiram abrir as portas, trouxeram o Zampa para dentro do carro de novo e o retiraram daquela situação ridícula.

Zampa, nessa época, deu uma verdadeira aula de como transformar o simples Bumba Meu Boi do folclore Nordestino em um moderno Bumba Meu Uno. Depois desse perrengue, o carro foi consertado e vendido, e nosso saudoso amigo Zampa passou a fazer parte do folclore nacional pela criação da famosa figura do Bumba Meu Uno. Dizem que essa foi a única apresentação desse peculiar folclore nacional, o Bumba Meu Uno…

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Jornalista na área automobilística há 48 anos, trabalhou na revista Quatro Rodas por 10 anos e na Revista Motor Show por 24 anos, de onde foi diretor de redação de 2007 até 2016. Formado em comunicação na Faculdade Cásper Líbero, estudou três anos de engenharia mecânica na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e no Instituto de Ensino de Engenharia Paulista (IEEP). Como piloto, venceu a Mil Milhas Brasileiras em 1983 e os Mil Quilômetros de Brasília em 2004, além de ter participado em competições de várias categorias do automobilismo brasileiro. Tem 67 anos, é casado e tem três filhos homens, de 20, 31 e 34 anos.