VW Gol G4: o último Gol raiz
Foto de capa: Leonardo França
Em 2013 se despedia do mercado a segunda geração do Volkswagen Gol, intitulada de G4. Na realidade, aquela era a segunda reestilização da geração 2 do hatch da VW. Oferecia resistência, robustez, baixo custo de manutenção, revenda garantida e confiabilidade como seus principais atributos. Considerado “raiz”, sua plataforma era a AB9, uma evolução da BX dos Gol quadrado, mas com elementos da base B2 do Santana nacional, além do motor em posição longitudinal. Foi a carroceria mais vendida da história do Gol (somando G2, G3 e G4), que por sua vez ainda é o carro mais vendido da história do mercado nacional com mais de 8.500.000 de unidades.
Morreu 1.0 flex, com 71 cv (E)/68 cv (G) de potência a 5750 rpm e 9,7 kgfm (E)/9,4 kgfm (G) de torque a 4250 rpm, nas versões Ecomotion, City e City Trend e com opcionais triviais oferecidos nos dois modelos. Leia-se ar-condicionado, direção hidráulica, vidros e travas elétricas.
As versões City e City Trend faziam 7,6 km/l de etanol na cidade e 12 km/l na estrada. Se fosse com gasolina, 11,1 km/l na cidade e 16,2 km/l na estrada. Era rápido, principalmente se considerarmos as limitações do pequeno motor EA-111 de 1 litro e 4 cilindros. Fazia de 0 a 100 km/h em 12 segundos (o mesmo que um VW Quantum CL 2.0 de 1989 a gasolina), e atingia os 171 km/h de velocidade máxima, segundo dados oficiais.
Já o Gol Ecomotion focava em eficiência energética, com pneus de aro 13 verdes de alta calibragem para melhor rolagem, indicador de troca de marchas, diferencial longo do câmbio e mapeamento da injeção exclusivo. Suas molas foram recalibradas para não comprometer o conforto já que os pneus usavam 39 libras na dianteira e 32 libras na traseira. O desempenho era praticamente o mesmo da versão Trend.
O “topo de linha” City Trend era racional, oferecendo melhor acabamento (dentro do possível), mais conforto ao rodar graças a suspensão muito macia (a mesma dos Ecomotion e City, porém com pneus comuns), acessórios da linha Power 1.6 (descontinuada em 2009), porta-malas acarpetado e iluminado, dentre outras sutilezas não encontradas em veículos de entrada.
As rodas eram aro 14 com pneus 185/60, e podiam vir com rodas de liga-leve como opcionais. Ar-condicionado, direção hidráulica, vidros elétricos e travas elétricas também eram itens a parte, mas é raro achar um City Trend sem eles. O ronco do motor era gostoso de se ouvir, e sua agilidade fazia do carro uma opção muito interessante para a cidade e para a estrada.
Sua suspensão, apesar de antiga na concepção, era muito resistente: não são raros os casos de troca de amortecedores só depois dos 150 mil km. O que demandava atenção era o alinhamento, pois devido sua construção, requeria conferências periódicas.
Toda a linha G4 tinha acabamento bastante simples, com plásticos de baixa qualidade e muito finos, o que irritava seus proprietários. Para reduzir seus barulhos internos, certeiros em carros com montagem simples, poderia se usar feltros e fitas-feltro, deixando-o silencioso como os carros mais modernos (de sua categoria, é claro).
No final de vida do Golzinho G4, a imprensa automotiva nacional justificava, à época, que o modelo saía de linha por conta da obrigatoriedade de Airbags frontais e freios ABS para 2014. Mas a realidade é que o modelo poderia ter tido uma sobrevida, pois em 1998 o Gol de segunda geração, o G2 ou Bolinha, já oferecia tais itens de segurança como opcionais. O mesmo aconteceu com o G3 e com o próprio G4, que até 2009 poderia contar com o par de bolsas infláveis e freios antitravamento, sempre dotado à época com o motor AP-1600.
As unidades do G4 que oferecem Airbags frontais e freios ABS, que inclusive são raríssimas, tinham cabine quase completa do finado G3, eleito por muitos o Gol com interior mais bonito da história do modelo. Associando a beleza interna do G3 com a carroceria mais moderna do Gol G4, o conjunto era muito bonito.
Com o fim do modelo em dezembro de 2013, a Volkswagen perdia a oportunidade de oferecer um produto resistente e muito barato para os brasileiros, que usam carros como “pau para toda obra” (servem para trabalho diário, lazer nos finais de semana, viagens e por aí vai).
Seu substituto foi o up!, que, apesar de muitos predicados, incluindo seu projeto europeu moderno, apresentava pontos fracos, inexistentes no Gol, como suspensão frágil para o uso em terrenos acidentados ou um custo de manutenção muito acima da média. Com a experiência de ter sido proprietário dos dois modelos, digo que a manutenção do up! era literalmente duas vezes mais cara que a do Gol G4.
Especula-se que, se o Gol G4 tivesse tido mais alguns anos de vida trazendo tudo que a lei exigia mais o painel do G3, o hatch popular da Volkswagen não teria perdido o reinado. Lembrando que o Gol foi o carro mais vendido do Brasil por nada menos que 27 anos, liderança que coincidentemente (ou não) durou até 2013, ano do encerramento de produção do G4. Se a situação fosse diferente, ele poderia ter garantido seu posto de mais vendido por um tempo maior. Que vacilo hein VW…