VW Gol Special: o básico para o dia a dia

Sempre houve um hiato razoável de 14 anos entre as gerações do VW Gol. Talvez, mera coincidência. Sucesso incontestável, o hatch popular foi lançado em 15 de maio de 1980, vendeu mais de 8.500.000 unidades no Brasil e em alguns países do mundo, incluindo até México e Rússia.

VW Gol era Pointer no México e Rússia (Foto: VW/divulgação)

Atualmente na terceira geração (leia mais aqui), identificada pelo mercado como sétima ou até oitava por alguns, ele está prestes a sair de linha mesmo tendo voltado ao posto de hatch mais vendido do Brasil desde junho, e segundo carro mais vendido do país, incomodando o atual líder de vendas Fiat Strada.

Muito acertado para o mercado nacional, o Gol fez história e seu legado fala por si só. A geração mais vendida foi a segunda, lançada em 1994 com a nova plataforma AB-9, uma evolução ante a BX. Mesmo com o motor ainda disposto na posição longitudinal, essa trazia mais espaço interno e maior rigidez torcional, além de maior conforto, sobretudo, para os passageiros do banco traseiro. Sua gama de motores se resumia ao AE-1000 (CHT para os mais íntimos, de origem Ford), exclusivo do Gol 1000i e Gol 1000, e aos AP 1.6, 1.8 e 2.0, este com 8v ou 16v.

A nova geração mesmo viria em 1994 com nova plataforma (Foto: VW/divulgação)

Com a extinção da Autolatina, Joint-Venture firmada entre VW e Ford entre 1987 e 1996, a Volkswagen lançou nesse último ano, precisamente em 12 de Outubro, uma nova fábrica de motores e um novo propulsor para sua gama mais vendida: a dos carros populares de 1000 cilindradas. Era apresentado também o motor EA-111, ainda chamado de AT-1000.

Primeiro nacional 1.0 com 16 válvulas, o Gol 1.0 16v conquistou o consumidor brasileiro logo de cara (Foto: VW/divulgação)

Em 1997, ano seguinte, chegava também o motor Hitork 1.0 16v (leia mais aqui), e a gama do Gol aumentava. Neste ano, ele bateu recorde de vendas, com 361.402 unidades comercializadas. O modelo era disponível nas versões Mi, Mi Plus, Mi 16v, Mi 16v Plus, fora os Gol 1.6, 1.8 ou 2.0. Um ano depois, em 1998, chegava a estrela da nossa pauta, Gol Special: modelo mais simples da gama, foi considerado por muitos o melhor popular já feito pela marca.

Considerado por muitos como o melhor popular da VW, o Gol na versão Special, estrela da nossa pauta, chegava em 1998 como linha 1999 (Foto: VW/divulgação)

O Special trazia como itens de série o essencial: acendedor de cigarros, hodômetro digital e ventilação forçada com 3 velocidades. Seu painel, com uma vistosa iluminação verde, perdeu o termômetro do motor, e no lugar, vinha com uma luz espia que indicava sua temperatura máxima, além de um indicativo de pressão ideal para a calibragem dos pneus. Muitos proprietários instalavam o painel do Gol Mi, que tinha o termômetro, ou mesmo o painel do Gol 16v, que tinha, além do termômetro, o conta-giros.

Contava também com o elogiado motor AT-1000 com injeção multipoint, 54,4 cv ABNT a 5.200 rpm e 8,6 kgfm de torque a 3500 rpm, capaz de levar o popular de 910 kg aos 141 km/h de velocidade máxima e acelerar de 0 a 100 km/h em 17,44 seg. Parece pouco, mas, era possível viajar a 120 km/h constantes e, sabendo usar bem o câmbio, sem perder velocidade nas longas subidas. Há relatos ainda de pessoas passando dos 160 km/h, mas com o auxílio de alguns declives.

Com motor AT1000 de injeção multiponto, o Special só tinha o opcional da cor metálica até 2001. Depois, o ar-condicionado entrava para a lista (Foto: Leonardo França)

Além de valente, o novo popular era muito econômico, conseguindo médias de consumo similares às dos carros atuais. Na cidade, com gasolina fazia 12,25 km/l e, na estrada, chegava aos 15,77 km/l. Lembrando que a média rodoviária pode ser de 2 km/l para mais ou para menos, dependendo do pé do motorista.

Pequeno e simples, era econômico como os hatches atuais (Foto: reprodução/armazemdovovo.com.br)

Com o interior cinza claro, seus bancos em tecido eram confortáveis, mesmo sem regulagens adicionais, e os cintos de segurança retráteis no banco traseiro. Havia tecido também nos forros de porta, que contavam com porta-objetos integrais. Até 2001, seu único opcional era a pintura metálica. A partir de 2002, passou a ser oferecido também o ar-condicionado. Essa versão nunca teve, nem como opcional, a direção-hidráulica.

Em 2003, o modelo foi simplificado, quando o interior passou a ser na cor preta, com plásticos mais finos e rústicos. Os cintos traseiros passaram a ser fixos e alguns revestimentos de acabamento foram substituídos ou mesmo retirados, como o acabamento do painel traseiro (próximo a fechadura do porta-malas), tornando-o um carro bastante espartano. Apesar disso, recebeu calotas integrais e pneus 175/70R13, em substituição aos pneus 145/80R13.

No mesmo ano, foi lançada a série Free, vendida com frete grátis exclusivamente pela internet (daí seu nome, que significa “grátis” em inglês). Ela mantinha os pneus 145/80R13 e rodas de ferro claras vindas do antigo Gol CL Mi, com calota central (o famoso copinho). No documento, era identificada como Gol Special, e a maioria deles perdeu sua identificação externa original, uma vez que o adesivo de identificação não era encontrado para reposição com facilidade nos concessionários e logo se desgastava.

Em meados de 2004, o Free foi descontinuado, e o Gol Special recebeu para-sol esquerdo com espelho, regulagem de altura do banco do motorista como itens de série. Seus bancos agora tinham revestimento parcial em curvim, e o painel recebia iluminação vermelha.

Para 2004, pequenas novidades internas, além dos bancos com revestimento mesclando tecido e vinil, similar ao da Kombi (Foto: VW/divulgação)

Externamente, o “bigodinho” (peça de acabamento externa do painel frontal próximo aos faróis) passou a ser integrado ao para-choque, em plástico cinza-naval, deixando-o com a aparência ainda mais espartana. Os piscas dianteiros ganharam lentes brancas.

Com esta plataforma, o hatch da VW teve mais duas remodelações que foram chamadas de novas gerações pelo marketing da marca: em 1999, quando foi apresentado o Gol G3 para a linha 2000, e em 2005, quando foi apresentado o Gol G4 para a linha 2006.

No ano de 2005, curiosamente os três modelos foram fabricados simultaneamente, uma vez que, desde 1999 a Volkswagen usava a estratégia de ter como carro de entrada o modelo de geração anterior representado, à ocasião, pelo Gol Special que utilizava a carroceria da “geração 2” enquanto os modelos mais caros tinham a carroceria da “geração 3”. Neste ano, Gol G2 e G3 foram substituídos pela “geração 4”.

O Gol Special chegou a conviver com o G3 e até G4. No canto esquerdo, um Special da linha 2003 (Foto: VW/divulgação)

Sempre bem valorizado no mercado de usados e desejado por quem busca algo barato e robusto, dentre outros atributos, ele chega hoje inclusive ao mercado de colecionadores, onde unidades com menos de 80 mil km tem preço médio de R$25 mil. Quem dirigiu afirma: o carro é muito agradável ao volante e, entendendo como era o mercado automotivo no final dos anos 90 e início dos anos 2000, junto com o Fiat Mille, o Gol Special era uma boa opção atendendo a proposta de popular.

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.