(Avaliação) Ram Rampage R/T: alma de 1500, pra quem não precisa de uma 1500

A Rampage é uma das ótimas sacadas da indústria automotiva dos últimos anos. As picaponas grandes, a exemplo das Ram 1500, Ford F-150 e Chevrolet Silverado estão vendendo como nunca no Brasil, só que muita gente fica só na vontade de comprá-las, quer seja pelos altos preços (na faixa dos R$500 mil), ou pelas suas dimensões colossais. Usar uma gigante dessas diariamente em uma capital movimentada como São Paulo, por exemplo, é tarefa complicada. E, muitas vezes, não há nem garagens que as acomodem bem.

Aí veio a Ram Rampage, uma espécie de “Ram Júnior” que usa a mesma base, e até algumas peças, da Fiat Toro, Jeep Compass e afins. É ela que tem alma das irmãs maiores, especialmente da 1500, só que num “corpinho” menor, que permite seu uso tranquilo no dia-a-dia, cabendo em vagas de carros de passeio, trafegando em ruas apertadas e afins. E também não é preciso separar o valor de uma casa mobiliada para adquiri-la: a Rampage não vai além dos R$280 mil, caso dessa R/T topo de linha. R$277.490, pra ser exato.

Picapes esportivas, como a Rampage R/T, são poucas no Brasil. Nela há o moderno 2.0 16v turbo só a gasolina, o Hurricane que também está no Jeep Wrangler, e que é o principal responsável por fazer dessa picape um veículo tão divertido ao volante. Seus 272 cv de potência e quase 41 mkgf de torque são muito bem gerenciados pelo câmbio automático ZF de 9 marchas, mesma transmissão dos Jeep turbodiesel, ainda que nunca tenha trabalhado com tal viés esportivo.

Na Rampage, é um conjunto e tanto, que garante a picape uma das melhores acelerações dentre os carros nacionais, enquanto as marchas são passadas sem demora alguma, mesmo com o modo mais esportivo R/T desativado pela tecla do painel. Só é preciso acostumar com alguns pequenos trancos nas passagens e com um pouco de turbolag nas maiores acelerações, porém a picape é sempre animadora ao volante, como já adianta os menos de 7 segundos no 0 a 100 km/h da ficha técnica. Uma enorme lista de tecnologias e a superalimentação fazem toda a diferença com o torque prematuro, que tem vigor até as médias rotações.

Em contrapartida, pelo alto peso e justamente esse ótimo desempenho, a picape de entrada da Ram no Brasil não tem a economia de combustível como mérito: entre cidade e estrada, em média durante nossa semana de testes (450 km), foram 9,7 km/l de gasolina, sempre aproveitando a eficiência do seu sistema de Start&Stop. Nas melhores condições, é possível cravar 12 km/l, que podem cair pela metade nas piores. Por isso um tanque de combustível maior seria muito bem-vindo. Os 55 litros que a R/T comporta podem “sumir” bem rápido.

O 2.0 Hurricane ronca grosso e é prazeroso de se ouvir, em uma tentativa interessante de se aproximar do som dos V8 das Ram 1500: essa versão tem escape de cano duplo e um difusor especial, que se programa para permitir mais barulho no modo de condução esportivo. É até honra a sigla R/T (“Road and Track”, ou “Estrada e Pista”), tão tradicional com os Dodge Charger e Challenger, que sempre fizeram bonito com seus V6 ou V8.

A primeira impressão, a que geralmente marca, é valiosa nessa Rampage, e por isso, na hora da partida, ela trabalha com o barulho mais esportivo por alguns segundos até amansar. A partir dali, se o motorista preferir, ela passa a ser quieta como um sedan de luxo, sem incomodar nas viagens mais longas. A cereja do bolo é que, graças a esse sistema de escape que só existe na versão R/T, dá até para “fazer pipoco” (ou “dar tiro”, como alguns entendem) quando se pisa fundo com ela parada. Não serve pra nada além de impressionar, mas é mais uma das funções do tal sistema de escape exclusivo da versão.

A Rampage R/T, inclusive, chama bastante a atenção, mas, para alguns, isso não é sinônimo de beleza. Uma linha de cintura altíssima (como o capô), caçamba curta e alta, janelas pequenas (que limitam bastante o campo de visão, aliás) e caixas de roda de espaço mediano são aspectos que até harmonizam com a frente inspirada nas 1500 e traseira mais limpa, só que alguns torcem o nariz por desproporções aqui ou acolá. Gosto é gosto. Algumas dessas limitações, vale falar, são causadas pelo uso da plataforma SWP 4×4 (Small Wide Platform), que originalmente baseava SUVs.

Por conta dela, também, a Rampage acaba não sendo tão grande como uma Ford Ranger ou Chevrolet S10, por exemplo, apesar de beliscar um pouco do mercado dessas caminhonetes feitas no esquema chassi/carroceria/caçamba. Maior que a Fiat Toro, ela se mostra proporcionalmente mais espaçosa, tanto para quem viaja alto na frente, quanto para os três que vão atrás, posicionados com os joelhos mais altos do que deveriam pelo assento baixo. Mesmo longe de qualquer 1500 nesse quesito, ainda assim a Rampage permite que cinco pessoas viajem com conforto em seu interior.

Ela, claro, tenta se passar por uma picape maior: o musculoso capô fica sempre no campo de visão de quem dirige (e aí vem um pouco da perda de noção de espaço dianteiro nas manobras, um de seus pontos fracos), as janelas laterais estreitas dão a falsa impressão de maior altura do carro com relação ao solo, uma enorme multimídia horizontal engrandece o painel e console central, e por aí vai. Dá certo: por dentro, a Rampage parece ser maior do que realmente é. Vale falar que essa versão R/T é mais baixa e menos capaz no off-road que as demais (usa pneus urbanos e tem menores ângulos de ataque e saída). A tração 4×4 de ativação automática com função de reduzida, permanece, contribuindo com sua dinâmica.

Com esse esquema construtivo, monobloco com base modular, acaba sobrando pouco espaço para a caçamba, que é quadrada, se beneficiando mais pelas paredes altas e tampa fácil de abrir/fechar. Com ela toda fechada, e excluindo o espaço das caixas de roda, não são mais do que 1,05 m de largura e também de comprimento, o que complicou, por exemplo, o transporte de uma mesa de escritório durante a semana de testes. Não que um dono de Rampage R/T vá carregar tralhas grandes e pesadas de um lado para o outro, mas vale destacar que, para uma picape do seu porte, pode faltar caçamba.

Construção é como a de um SUV com pretensões esportivas, e é mais ou menos assim que ela se comporta quando o assunto é conforto, estabilidade e dinâmica de carroceria (Foto: Lucca Mendonça)

E como ela se comporta? Curiosamente bem. Explico: com monobloco na construção, independência na suspensão das quatro rodas, vários pontos de fixação do eixo traseiro (multilink, esquema construtivo equilibrado entre conforto e estabilidade), discos ventilados para os freios das quatro rodas e direção direta nos comandos, a Rampage R/T é facilmente comparável a um SUV médio quando o assunto é frear, contornar curvas e fazer manobras rápidas. Molas e amortecedores mais durinhos da versão esportiva fazem dela uma picape ainda mais precisa e divertida de ser dirigida, sem piorar muito os (bons) níveis de conforto e suavidade a bordo.

O lado “curioso” vem de alguns ajustes, peculiares, que são claramente inspirados nas Ram maiores, como o “balanço” dentro da cabine (coisa típica das caminhonetes que ainda usam um chassi por baixo da carroceria), que é constante, mas não chega a incomodar. Não é algo que sentimos na Fiat Toro, por exemplo, que muito empresta para a Rampage. Outro é a maciez dos pedais, tanto de freio como acelerador, junto de uma direção elétrica de maior peso, calibração que lembra a dos Jeep Compass e Commander, e também das 1500.

A estratégia da engenharia da Stellantis parecia ser justamente unir as virtudes de conforto e dinâmica dos SUVs da Jeep, com a praticidade e habitabilidade da Fiat Toro, sem abandonar o espírito bruto das Ram e a esportividade aguçada de um R/T. É a melhor opção pra quem deseja uma 1500, mas não precisa, ou não pode, ter uma. No caso das versões turbodiesel, o papo é outro…

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Ficha técnica:

Concepção de motor: 1.995 cm³, gasolina, quatro cilindros, 16 válvulas (quatro por cilindro), turbo, injeção direta de combustível, duplo comando de válvulas, variador de fase na admissão e escape, bloco e cabeçote em alumínio
Transmissão: automática de 9 velocidades, com opção de trocas manuais por paddle-shifts
Potência: 272 cv a 5.200 rpm
Torque: 40,8 mkgf a 3.000 rpm
Suspensão dianteira: independente, McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: indepentente, multibraço, com barra estabilizadora
Direção: com assistência elétrica progressiva
Freios: discos ventilados nas quatro rodas
Pneus e rodas: Pirelli Scorpion, medidas 235/55 e rodas de liga-leve aro 19
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 5,03 m/1,89 m/1,78 m/2,99 m
Caçamba: 980 litros

Capacidade de carga: 750 kg

Tanque de combustível: 55 litros
Peso em ordem de marcha: 1.917 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 6,9 segundos
Velocidade máxima: 220 km/h
Preço básico: R$277.490 (carro avaliado: R$283.490)

Itens de série:

Abertura remota da tampa traseira, Acendimento automático dos faróis, Ajuste elétrico de altura do farol, Alças auxiliares de acesso ao veículo, Alerta de colisão frontal com frenagem autônoma de emergência com detecção de pedestres e ciclistas, Android Auto e Apple CarPlay sem fio, Antena tipo Tubarão, Apoio de braço central dianteiro, Apoio de braço central traseiro, Ar-condicionado digital automático dual zone, Banco com ajustes elétricos para o motorista (12 vias), Câmera de ré, Capa dos retrovisores externos em preto brilhante, Central Multimídia Uconnect de 12,3″, Chave presencial, Comutação automática do farol alto, Controle de cruzeiro adaptativo (ACC) com Stop & GO, Controle eletrônico de estabilidade, Desembaçador da janela traseira, Escapamento duplo esportivo, Estepe de uso emergencial, Farol de neblina em LED com função Cornering, Farol Full LED com projetor bi-função, Lanternas em LED, Freio a disco ventilados nas 4 rodas, Freio de estacionamento eletromecânico com função Auto Hold, Ganchos superiores e inferiores para amarração de carga, HDC – Hill Descent Control, Iluminação interna de caçamba em LED, Limitador de velocidade, Modo de condução R/T, Partida remota do motor, Protetor de cárter, Quadro de instrumentos Full Digital de 10,3″, Ramcharger (carregador de celular por indução), Retrovisor interno fotocrômico, Retrovisores externos com comandos elétricos, rebatimento elétrico, luz de poça e repetidores de direção, Revestimento interno em couro e camurça, Revestimento interno da caçamba, Roda de liga leve de 19 polegadas em preto brilhante, Seletor rotativo de marchas, Sensor de chuva, Sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, Sistema de alerta de saída de faixa, Sistema de detecção de tráfego traseiro cruzado, Sistema de monitoramento de pontos cegos, Sistema de monitoramento de pressão dos pneus, Sistema eletrônico de mitigação de rolagem da carroceira, Sistema Start & Stop, Start Assist – Assistente de partida em aclives, Tampa traseira com amortecedor, Tração 4X4 Auto e 4X4 Reduzida, Trava elétrica do bocal de abastecimento, Volante com regulagem de altura e profundidade, 06 portas USB, sendo 03 tipo C (carregamento rápido), 07 Airbags (02 frontais dianteiros, 02 laterais dianteiros, 02 cortina e 01 de joelhos para motorista)

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.