(Avaliação) Renault Oroch turbo quer ser lembrada, mas não como picape do Duster


Não é exagero falar que a Oroch é um marco na história automotiva brasileira. Ela foi a primeira picape monobloco com quatro portas vendida por aqui, antes de Fiat Toro, então é sim uma pioneira das boas. Pena que nunca tenha emplacado definitivamente nas vendas, seja pela demora para se atualizar (ficou quase sete anos inalterada) ou pelas estratégias da própria Renault, que se voltou aos SUVs.

Mesmo assim, já não era sem tempo de lançar essa Oroch reestilizada, que abandonou de vez a cara e o nome do Duster para ganhar “vida própria” dentro da marca, além do tapa no visual que lhe caiu muito bem. Um tapinha com luva de pelica, mas caiu bem. Agora, pelo menos, chama até atenção e ganha elogios do tipo “nossa, ficou bonitona hein?”. Não está mais esquecida como antes.

Bem discreto, na tampa da caçamba, está o emblema “TCe” que nomeia seu motor, cereja do bolo que só está nessa versão Outsider mais cara, de R$142.900. É o 1.3 turbo desenvolvido em parceria com a Mercedes-Benz, que virou flex e nos Renault entrega 162/170 cv de potência com 27,5 mkgf de torque. O câmbio CVT X-Tronic aqui ganhou mais “marchas” e hoje tem oito, mas é basicamente a mesma caixa automática dos Sandero, Logan, Captur e Duster com motor 1.6.

Temos uma nova picape com ele, muito mais ágil e esperta, com força pra carregar seus 650 kg de capacidade de carga e muito mais. Apesar do câmbio que patina bastante para suavizar a condução, o gerenciamento eletrônico trabalha rápido assim que o motorista pede mais força, reduzindo as “marchas” e entregando todo o poderio desse powertrain. Ah, e o motorista também pode fazer isso por conta própria no seletor manual da alavanca. Pra quem curte, um prato cheio.

A Oroch 1.3 turbo é bem mais leve do que parece, pesa só 1.430 kg, então motor e câmbio, só por esses “quilinhos a menos”, já trabalham com muito mais folga. A Renault fala em 10 segundos no 0 a 100 km/h, que parecem ser até mais rápidos na vida real, mesmo não tendo a melhor transmissão para as acelerações. Se tivesse um automático convencional de seis marchas, por exemplo, ficaria ainda mais arisca. Se trouxesse dos Mercedes o automatizado de dupla embreagem com sete marchas então…

Chamam a atenção os dois extremos: com modo ECO ligado e desligado. No primeiro caso, o desempenho fica em segundo plano (e o câmbio patina ainda mais), com respostas retardadas de acelerador para poupar combustível. No segundo caso, é tudo que você leu ali em cima. Assim, pelo menos, ela conseguiu marcas mais interessantes de consumo no computador de bordo: 10,9 km/l na estrada e 7,4 km/l na cidade com etanol, isso só por causa do Start&Stop. Com gasolina as coisas tendem a melhorar bastante, pelo menos seguindo a lógica dos Mercedes-Benz.

A picape, no geral, é boa. Tem porte único, exatamente num meio-termo entre Fiat Strada cabine dupla e Toro, portanto acaba ficando em um nicho de mercado para quem quer algo mais refinado que uma Strada, mas não tem a grana para uma Toro que não seja basicona. Sua concepção sempre foi um diferencial: deriva completamente do Duster, mas com o “plus” em estabilidade e conforto graças as suspensões independentes nas quatro rodas com fixação multilink no eixo traseiro. Esse aparato todo vem do extinto Duster 4×4.

No uso diário, o comportamento da Oroch é bom em todos os pisos (inclusive off-road, onde ela se vira bem), com rodar macio e sem chacoalhar os passageiros, bem a calhar com sua proposta que mistura passeio e trabalho. Não tem nada a ver com o pula-pula dos feixes de molas, por exemplo. Muito bom trabalho da Renault no isolamento acústico e silêncio a bordo, que melhorou da água para o vinho nessa reestilização. Pelo menos nessa versão top Outsider, surpreendeu.

Apesar das novas linhas internas, o acabamento é simples, como quase sempre acontece nas picapes. A multimídia de 8” flutuante, instrumentos digitais do Captur, ar-condicionado digital de duas zonas, carregador de celular sem fio e detalhes de diferentes cores deram um bom upgrade no visual da nova cabine. Poderia ter só a direção elétrica ao invés da eletro-hidráulica, mas nada justifica a mancada de só oferecer o que exige a lei quando o assunto é segurança: dois airbags, ABS, ESP, TC e os cinco cintos de três pontos/apoios de cabeça. Merecia muito mais do que isso.

Espaço interno é um ponto razoável dessa picape. Para melhorar, só trocando de geração, o que não deve acontecer tão cedo. Passageiros traseiros tem altura de sobra para a cabeça, mas, se forem três, vão precisar se apertar um pouco. O vão traseiro também é limitado para joelhos e pés, e seus bancos poderiam ter desenho e formato mais anatômico. O sonho aqui seria ter uma Oroch com ergonomia próxima a do Captur…

Como é picape, falta falar da caçamba. É interessante, com quase tudo que tem direito (ganchos de fixação, capota marítima, protetor plástico e até um santantônio funcional de série), e uma tampa pesada de abertura convencional, para baixo. O compartimento se favorece não pelo comprimento e largura, mas sim pela boa altura, o que explica os quase 700 litros de capacidade. Para essa Outsider, está de bom tamanho.

E aí?
Seu preço é bem próximo ao que a Fiat cobra pela Toro Endurance também 1.3 turbo, mais despojada da linha. Essa Oroch Outsider, mesmo sendo menor em todos os sentidos, é top de linha e, dependendo, até mais completa. Comparando com a rival menor Strada cabine dupla, que já pode beirar os R$130 mil, essa Renault se torna ainda mais interessante. Ah, e existem ainda versões com o bom motor 1.6 16V, que já poderão te servir muito bem por um preço mais baixo.
Ficha técnica:
Concepção de motor: 1.332 cm³, flex, quatro cilindros, turbo, injeção direta de combustível, duplo comando de válvulas variável, variador de fase na admissão e escape, bloco e cabeçote em alumínio |
Transmissão: automática do CVT com simulação de 8 velocidades e opção de trocas manuais na alavanca |
Potência: 162/170 cv a 5.750 rpm (gasolina/etanol) |
Torque: 27,5 mkgf entre 1.600 e 3.750 rpm (gasolina/etanol) |
Suspensão dianteira: independente, do tipo McPherson, com barra estabilizadora |
Suspensão traseira: independente, multilink, com barra estabilizadora |
Direção: assistência eletro-hidráulica |
Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira |
Pneus e rodas: Michelin LTX Force All-Terrain, medidas 215/65 e rodas de liga-leve aro 16 |
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,72 m/1,83 m/1,62 m/2,83 m |
Caçamba: 683 litros |
Capacidade de carga: 650 kg |
Tanque de combustível: 45 litros |
Peso em ordem de marcha: 1.432 kg |
Aceleração 0 a 100 km/h: 9,8 segundos (gasolina/etanol) |
Velocidade máxima: 187/189 km/h (gasolina/etanol) |
Preço básico: R$142.900 (carro avaliado: R$144.900) |
Itens de série:
Rodas diamantadas aro 16, 2 Tomada 12V e 1 porta USB, Ar-condicionado automático digital, Cintos dianteiros com regulagem de altura, Faróis com função “Follow me home”, Sensor de chuva, Sensor crepuscular, Vidros dianteiros e traseiros com antiesmagamento e função one-touch, Travas elétricas com comando na chave canivete, Mostrador de temperatura externa, Retrovisores com regulagem elétrica, Desembaçador do vidro traseiro, Banco do motorista com regulagem de altura e lombar, Volante com regulagem de altura, Multimídia 8″ flutuante com espelhamento sem fio de smartphone, ESP, HSA, TCS, RMI e ROM, Luzes de circulação diurna, Freios ABS, 2 airbags frontais, Alarme perimétrico, Alerta de cinto de segurança não afivelado, Limitador e controlador de velocidade, Direção eletro-hidráulica, Cinto de 3 pontos para todos os ocupantes, Sensor de estacionamento traseiro, Modo de condução ECO, Indicadores de direção lateral, Barras de teto longitudinais funcionais, Volante com revestimento premium, Aplique de painel e costuras dos bancos em Laranja Corail, Faróis de neblina, Faróis de milha