Stellantis encerra produção de motores no Paraná: fábrica já forneceu até para Mini e Chrysler

A Stellantis decidiu colocar um ponto final na fábrica de motores de Campo Largo, no Paraná. A planta produzia única e exclusivamente os motores 1.8 e.TorQ, que não passaram nas leis de emissão do Proconve L7 e acabaram saindo de cena no Brasil, mas ainda eram exportados à outros países da América Latina e em certa quantidade para a Europa. Por uma questão estratégica, o grupo, composto pela Fiat, Jeep, Ram, Peugeot, Citroën e outros, optou por encerrar as operações da fábrica e tirar definitivamente o e.TorQ de linha.

1.8 e.TorQ sai definitivamente de linha (Foto: Lucca Mendonça)

O lado bom é que nenhum dos pouco mais de 200 funcionários serão demitidos, já que terão opção de seguir para outras funções nas demais plantas do grupo no Brasil. Hoje a Stellantis produz motores em Betim (MG), de onde saem os Firefly e GSE Turbo, Sete Lagoas (MG), local de produção de propulsores a diesel para caminhões e utilitários da Iveco, além de Porto Real (RJ), berço dos 1.6 EC5 da Peugeot/Citroën. Há ainda a fábrica de Fiat Toro, Jeep Renegade, Jeep Compass e Jeep Commander, localizada em Goiana, no Pernambuco.

A notícia, inicialmente divulgada pela Folha de Campo Largo e depois confirmada pela Stellantis, não é surpresa: a fábrica, que estava próxima de completar 25 anos, precisaria de profundos investimentos para ser readequada à produção de outras coisas que não fossem os e.TorQ. A partir de agora, a planta (ou sua área) ficam disponíveis para compra ou investimento de outras empresas, e quem passa a tomar conta do local é o governo paranaense, hoje liderado por Ratinho Jr.

A fábrica precisaria de investimentos para produzir outras coisas (Foto: Fiat/divulgação)

Sua história é curiosa e bem interessante. A planta nasceu de uma parceria entre a Chrysler (aquela que produzia a picape Dodge Dakota também em Campo Largo) e BMW, na época agrupada com a Rover. As duas empresas, a primeira americana e a segunda europeia, precisavam de motores compactos e de baixa cilindrada para serem usados no exterior, e viram no Brasil um bom local para produzi-los. A tal joint-venture foi batizada de Tritec Motors, nome que foi dado também para a fábrica.

O Tritec foi usado até pela Mini. Na foto, a versão turbo, mais apimentada da família (Foto: Mini/divulgação)

Dali saíram motores 1.4 16v e 1.6 16v (este, inclusive, em uma versão turbo), os dois de projeto inglês dos anos 90, a partir de dezembro de 1997, data de estreia da Tritec. Assim a fábrica permaneceu por uma década, até meados de 2007, fornecendo seus propulsores para a Mini (One e Cooper) e Chrysler (Neon e PT-Cruiser). O motivo para o fim foi claro: BMW e Chrysler, parceiras até então, encerravam todo e qualquer negócio em conjunto pelo mundo. Ali a Tritec não teria mais futuro.

Neon foi outro modelo que usou o 1.6 Tritec (Foto: Chrysler/divulgação)

Até aí, nada de Fiat na história. Por um ano, de 2007 à 2008, a fábrica paranaense ficou fechada em busca de novos rumos. Em março de 2008, negócios concretizados e a fabricante italiana assumia a Tritec Motors, que inclusive mudava seu nome para FPT Campo Largo (FPT de Fiat Powertrain) e passava a contar com cerca de 250 funcionários. A Fiat optou por “matar” definitivamente o 1.4, retomando apenas a produção do 1.6, que serviria para diversos modelos da marca.

Além disso, partindo do 1.6 de aspiração natural (a versão turbo também desaparecia), a engenharia da marca italiana desenvolveu um virabrequim de curso mais longo, além de outras adaptações pontuais, e criou o 1.8 e.TorQ tão conhecido pelos brasileiros, que, na realidade, tem 1.75 litro. Isso explica seu tamanho diminuto: o e.TorQ era compacto daquele jeito pois havia nascido de pequenos 1.4 e 1.6. Dois projetos europeus fundidos em ferro que, em meados de 2010, já tinham quase 15 anos.

1.8, na verdade 1.75, chegava entre 2009 e 2010 (Foto: Fiat/divulgação)

Passando por modificações sazonais durante os treze anos que se manteve em linha, o 1.8 e.TorQ pendurou suas chuteiras produzindo 135/139 cv de potência e 18,8/19,3 mkgf de torque (gasolina/etanol). Quando deixou de ser oferecido no mercado nacional, equipava os Fiat Argo, Cronos, Toro e Doblò, além do Jeep Renegade. O 1.6, original do projeto inglês, já havia sido retirado de produção pela Fiat em meados de 2017. Este moveu Palio, Siena, Strada, Weekend, Grand Siena, Doblò, Punto, Linea e Idea.

Doblò chegou a ter o 1.6 e 1.8 em seu catálogo (Foto: Fiat/divulgação)

Os carros que o 1.8 movia fora do Brasil? Devem receber os novos GSE turbo nas variantes T200 e T270, de 1.0 e 1.3 litro. Esses são mais modernos, eficientes, tecnológicos, leves (são inteiros em liga-leve) e adequados às leis de emissão.

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.