VW SP2: Um esportivo brasileiro com estilo e história

Tudo começou em 1969. Dentro da Volkswagen, o segredo escondido a sete chaves era conhecido como Projeto X. A marca alemã estava de olho no estrondoso sucesso alcançado pelo Puma, um esportivo feito em uma pequena fábrica e em escala bem reduzida, mas que atendia com galhardia os anseios do consumidor brasileiro por um carro esportivo veloz, de mecânica fácil e simples (VW a ar) e um preço que coubesse no bolso dos consumidores brasileiros.

Na época, a fabricante alemã pensou: “Se essa fabriqueta é capaz de suprir a vontade do consumidor com um carrinho tão simples feito em plástico e fibra de vidro, nós com nosso aparato tecnológico seremos capazes de fazer um produto infinitamente melhor”. A partir desse ponto começou a nascer o SP2.

Quem iniciou os primeiros esboços do novo Projeto X foi o departamento de estilo da Volkswagen aqui mesmo do Brasil. Nessa época, o departamento era comandado pelo lendário Márcio Piancastelli, que também foi responsável pelas linhas do VW 1600 quatro portas (que ficaria conhecido como “Zé do Caixão”), Variant II e Gol. O primeiro protótipo do SP, uma clara homenagem ao Estado de São Paulo, onde o carro foi criado e concebido, foi apresentado em uma feira de novidades industriais em 1971 na cidade de Hannover, na Alemanha, onde despertou muito interesse dos visitantes europeus. Um ano depois, em 1972, o carro foi finalmente apresentado ao consumidor brasileiro e disponibilizado para a venda nas concessionarias da marca espalhadas por todo o país.

 

 

O novo esportivo chegou  em duas versões, SP1 e SP2. Ambas utilizavam o chassi da Variant. O SP1 utilizava rigorosamente a mesma mecânica da Variant, até o mesmo conjunto motriz que consistia do motor de construção plana de 1.584 cm³ com sua turbina axial conectada diretamente ao virabrequim e dois carburadores que desenvolvia a modesta potência de 54 cv (potência líquida, como todas hoje), bem inferior à de qualquer motor de 1 litro  de hoje.

O grande espanto ficou na época para o SP2. Compartilhando chassi com o SP1, o carro tinha como grande diferenciador o motor de 1.678 cm³, cilindrada conseguida pelo aumento do diâmetro dos cilindros de 85,5 mm para 88 mm, que desenvolvia 67 cv ( potência líquida) graças não só ao aumento da cilindrada, mas também a uma taxa de compressão mais alta que a do modelo 1600, o que exigia a utilização de gasolina azul (a premium da época que tinha a mesma octanagem da gasolina comum de hoje, 95 RON). É claro que todo interessado em carro esportivo quis o SP2. O SP1 saiu de linha no final de 1972, ou seja, no ano de seu lançamento, com pouco mais de 60 unidades comercializadas. Ninguém queria o “patinho feio”, que além de andar menos não tinha o requinte de acabamento de seu irmão mais sofisticado.

O SP2 era bonito, com um perfil intimidante, interior refinado com bancos em couro, console central com vários instrumentos que ajudavam o motorista, sistema de som e um acabamento refinado digno dos importados.

Mas o carro não era só maravilhas: Tinha problemas que não eram dos mais simples. As queixas dos consumidores iam desde seu sistema ineficaz de freio, inadequado ao seu peso e desempenho, até sua marcante tendência sobre-esterçante (o carro saía muito de traseira),  características que pegavam desprevenido os motoristas desatentos. Estampado em chapa de aço, o carro era mais pesado que o Puma, o que levou muitos proprietários a mexer nos motores, tornando-o mais perigoso e suscetível a acidentes. Em que pesem esses problemas, para quem curtia uma condução mais selvagem o carro era delicioso de ser domado.

O SP2 foi produzido por 4 anos, até 1976, quando teve sua produção encerrada. O problema é que ele era caro, pois era produzido em pequena escala, e seu desempenho era modesto para suas linhas. Naquele mesmo ano de 1976 chegou o Passat TS, outro esportivo de alto desempenho que deixou obsoleto o charmoso SP2.

O SP3, modelo que não chegou a ser produzido (Imagens: Revista Quatro Rodas)

O curioso é que a marca chegou a cogitar sobre o SP3, que utilizaria a mecânica do Passat TS. Mas o carro chegaria por um preço muito alto ao nosso mercado, fato que inviabilizaria sua comercialização no volume que a Volkswagen pretendia. A concessionária VW Dacon chegou a fazer alguns protótipos com essa configuração. Mas eram trabalhosos e difíceis de serem feitos, além do preço não compensar sua comercialização. Por isso, o SP3 já nasceu morto. Do SP2 foram produzidas pouco mais de 10.000 unidades, dos quais mais de 500 foram exportadas para a Europa. Um carro que deixou saudade e que certamente provoca suspiros por onde passa até mesmo nos dias de hoje.

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Jornalista na área automobilística há 48 anos, trabalhou na revista Quatro Rodas por 10 anos e na Revista Motor Show por 24 anos, de onde foi diretor de redação de 2007 até 2016. Formado em comunicação na Faculdade Cásper Líbero, estudou três anos de engenharia mecânica na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e no Instituto de Ensino de Engenharia Paulista (IEEP). Como piloto, venceu a Mil Milhas Brasileiras em 1983 e os Mil Quilômetros de Brasília em 2004, além de ter participado em competições de várias categorias do automobilismo brasileiro. Tem 67 anos, é casado e tem três filhos homens, de 20, 31 e 34 anos.