Puma: o esportivo dos sonhos que deixou saudade

A história da Puma começa em 1964 quando quatro idealistas e admiradores do DKW-Vemag se juntaram e criaram um a firma chamada Lumimari, acrônimo formado pelos nomes dos sócios Luiz Roberto Alves da Costa, Milton Masteguin, rio Cesar de Camargo Filho, o piloto Marinho, e Rino Malzoni, e começaram a produzir um cupê de dois lugares com carroceria de compósito de fibra de vidro utilizando toda a mecânica do DKW-Vemag, a que deram o nome de GT Malzoni. A Vemag fornecia toda a mecânica, o que era uma enorme vantagem.

Produziram pequeno volume em 1965 e 1966, até que em julho desse ano a composição societária alterou-se com a saída de Marinho e a entrada de dois sócios, José Luiz Fernandes, da família dona da Vemag, e Jorge Lettry, gerente de competições da Vemag, cujo departamento encerrara atividades no final de junho de 1966 e o levou a deixar o emprego. Foi Lettry quem convenceu os sócios a mudar o nome da firma para Puma Veículos e Motores S.A. por considerá-lo mais adequado do ponto de vista comercial, associando o produto ao felino de grande agilidade e rapidez.

Primeiro GT Malzoni tinha mecânica DKW e foi produzido em pequena escala entre 1965 e 1966 (Foto: Lumimari/divulgação)

O GT Malzoni fora desenhado pelo fazendeiro e entusiasta italiano radicado no Brasil, Rino Malzoni, em sua fazenda em Matão, no interior de São Paulo. A Lumimari, depois Puma,  havia se estabelecido em galpões na av. Presidente Wilson, na capital. Corria o ano de 1966 e a empresa decidiu atualizar o algo rústico GT Malzoni para torná-lo mais atraente. O carro foi redesenhado por Anísio Campos e foi batizado como Puma GT, sempre com o motor DKW de três cilindros e dois tempos de 981 cm³. Apresentado no Salão do Automóvel de 1966, fez furor pela beleza de suas linhas.

Como uma reformulação do GT Malzoni, chegava o Puma GT no final de 1966 (Foto: Puma/divulgação)

Em 1967, com a Vemag já nas mãos de Volkswagen, era líquido e certo que o DKW-Vemag estava com os dias contados, e seria essencial para a sobrevivência da Puma um novo carro com outra mecânica. A lógica indicava a mecânica Volkswagen. Sob orientação técnica de Jorge Lettry, a Puma partiu para o projeto de um cupê também de dois lugares, com desenho de Rino Malzoni, com mecânica VW de motor traseiro boxer arrefecido a ar: nascia o Puma GT 1500 (foto de abertura), número alusivo à cilindrada do motor de 1.493 cm³ chegado naquele ano para propulsionar a Kombi e o Karmann-Ghia.. A produção do novo Puma começou em abril de 1968.

Com o provável fim da DKW-Vemag, era hora da Puma criar um novo carro com outra mecânica: assim surgia o GT1500 com seu motor VW de 1.493 cm³ (Foto: Puma/divulgação)

O chassi utilizado foi o do Karmann-Ghia, encurtado em 250 mm (o entre-eixos passou  de 2.400 mm para 2.150 mm), o motor recebeu dois carburadores Brosol de 32 mm, escapamento próprio e rodas de 14 polegadas com pneus 185-14. O motor original de 44 cv passava a 50 cv.. O novo Puma logo chamou a atenção do mercado tanto por seu estilo atual quanto pelo desempenho resultado do baixo peso da carroceria, também de compósito de fibra de vidro.

A partir daí a história da marca decolou como sinônimo de carro esportivo de sucesso. Como no final de 1968 a Volkswagen estava lançando no Brasil o sedã 1600 de quatro portas, Lettry viu que valeria a pena aumentar a cilindrada do Puma, o que ocorreria já no segundo semestre de 1969.

Com a estreia do motor VW 1600 no Brasil, a Puma logo preparou a novidade GTE com a nova motorização (Foto: Puma/divulgação)

Outra grande vantagem desse novo motor “a ar” não estava apenas no aumento da cilindrada, mas no novo cabeçote de duplo duto de admissão, um para cada cilindro, fato que melhorava muito a eficiência volumétrica e substancial melhora no desempenho. Surgia assim, já no inicio dos anos 70, o novo Puma GTE com motor de 1.585 cm³. E os planos dessa marca não paravam por aí: em 1971, a marca do esportivo nacional lançava o Puma GTS, que nada mais era do que a versão conversível do GTE. Curiosamente, em 1972 o SP2 foi a resposta da Volkswagen ante o sucesso do esportivo da Puma.

Apesar da maior cilindrada, 1.679 cm³ contra 1.585 cm³, o SP2 ainda assim tinha um desempenho inferior ao do Puma GTE: mesmo com o motor 1600. O esportivo da fabrica brasileira era muito mais leve, favorecendo sobremaneira sua relação peso-potência. Rino Malzoni, quando desenvolveu o Malzoni GT para as competições em 1965, moldou sua carroceria em compósito de fibra de vidro, tecnologia herdada pela Puma que adotaria esse processo de fabricação em todos os seus modelos. Enquanto o SP2 era feito em chapa de aço estampado, o Puma GTE tinha uma leve carroceria moldada em compósito defibra de vidro.

Concorrente do Puma e movido pela mesma mecânica, o VW SP2 perdia em desempenho por ter carroceria de aço. Os Puma eram sempre de fibra-de-vidro (Foto: VW/divulgação)

Passando por algumas alterações estilísticas ao logo dos anos 70, os Pumas arrefecidos a ar tiveram uma grande reestilização em 1976: em vez de utilizar o chassi do Karmann-Ghia, o Puma passou a utilizar o chassi  do Brasília, mais largoque a anterior. Isso obrigou a marca a construir um novo carro, com um novo design, mais moderno e atual.

Devemos lembrar também que em 1969, a Puma produziu sob encomenda da revista Quatro Rodas um esportivo que seria sorteado para os leitores da revista. Dessa forma, surgiu o Puma GT 4R, desenhado por Anísio Campos. Foram produzidas apenas quatro unidades desse Puma especial, carros que provavelmente estão nas mãos de sortudos colecionadores.

Puma GT 4R: feito a pedido da Revista Quatro Rodas para serem sorteados aos leitores. Quatro unidades produzidas (Foto: Sérgio Chvaicer/Quatro Rodas)

A Puma sobreviveu no mercado nacional até 1986 quando, concordatária, teve a sua marca vendida com seus ferramentais de fabricação para a Araucária, uma empresa do Paraná, e pouco depois revendida para a Alfa Metais, no mesmo estado, que produziu os esportivos da marca, sem o brilho que possuíam, até meados dos anos 1980. Além dos esportivos arrefecidos a ar, a Puma produziu também o Puma GTB com mecânica de Opala 6-cilindros e um caminhão médio para 4 toneladas com cabine avançada feita em compósito de fibra de vidro (Puma 4.T).

Certamente uma marca nacional de veículos esportivos e componentes para motores que deixou muita saudade para aqueles que viveram em seus tempos áureos.

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Jornalista na área automobilística há 48 anos, trabalhou na revista Quatro Rodas por 10 anos e na Revista Motor Show por 24 anos, de onde foi diretor de redação de 2007 até 2016. Formado em comunicação na Faculdade Cásper Líbero, estudou três anos de engenharia mecânica na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e no Instituto de Ensino de Engenharia Paulista (IEEP). Como piloto, venceu a Mil Milhas Brasileiras em 1983 e os Mil Quilômetros de Brasília em 2004, além de ter participado em competições de várias categorias do automobilismo brasileiro. Tem 67 anos, é casado e tem três filhos homens, de 20, 31 e 34 anos.