(Avaliação) Caoa-Chery Tiggo 8: 7 dias e 700 km com o SUV de 7 lugares

O Tiggo 8 sempre foi daqueles carros que me deixavam com uma pulga atrás da orelha: será que é realmente bom, além de bonito e bem equipado? Minha curiosidade com esse SUVs de sete lugares foi o que me fez entrar em contato com a Caoa-Chery e pedir um para teste. Boa surpresa quando fui buscá-lo: era um Founder’s Edition, série especial limitada em mil unidades que homenageia o saudoso fundador do Grupo CAOA. Essa é a única versão do Tiggo 8 que foge do (insosso) preto/prata/branco/preto com esse belo azul marinho, e também tem rodas, equipamentos e couro marrom do interior exclusivos.

Surpresa boa: me veio um Founder’s Edition com esse azul marinho bem bonito (Foto: Lucca Mendonça)

O Tiggo 8 foi meu companheiro por sete dias e quase 700 km de ruas asfaltadas ou não, rodovias, estradas de chão batido, chuva, sol, frio, calor…só quem mora no estado de São Paulo entende que é possível vivenciar tudo isso na mesma semana. Nele, consegui transportar um, dois, três, quatro, cinco ou os seis passageiros possíveis, além de mim, é claro, em diferentes momentos e situações. Isso sem contar malas, compras e outras tralhas como bagagem. Não que se possa esperar algo ruim em um carro de quase R$214 mil, ainda mais com toda a presunção da Caoa-Chery, mas esse cara me surpreendeu.

700 km em 7 dias com o Tiggo 8: gostei muito desse cara! (Foto: Lucca Mendonça)

Começando pelo nível de acabamento, que o deixa “pau-a-pau” com os SUV  premium alemães, ainda mais com a cabine em couro marrom. São poucas as peças em plástico duro, e geralmente elas nem estão no alcance dos passageiros. Outros detalhes como o nível de maciez do carpete, montagem das peças ou escolha dos materiais comprovam o esmero. Curiosamente, ele, Tiggo 5 e Tiggo 7 compartilham boa parte do painel, bancos e laterais de portas. Para efeito de comparação, é como ter Jeep Renegade, Compass e Commander com o mesmo interior, mas claro que nos Caoa-Chery ele fica ainda melhor a cada categoria que sobe.

Por essas e outras que todo mundo se ajeita no Tiggo 8 como em um Tiggo 5 ou Tiggo 7, por exemplo. Isso é ótimo, já que posição de dirigir é bem aproveitada e sobra conforto e espaço para todos. Basta olhar as fotos pra perceber que aperto, nesse SUV, ninguém passa: os 1,86 m de largura e 1,70 m de altura da sua carroceria já dizem muito. Até o espaço da última fileira, aquela que só vão as crianças, é bom e pode sim acomodar um adulto. Lembrando que ele é menor que seu concorrente de peso Jeep Commander, principalmente no entre-eixos: 2,71 m contra 2,79 do Jeep.

Sua parte envidraçada não parece ser muito maior que a de um Tiggo 5, por exemplo, em que pese o teto panorâmico de série. É um ponto que chama a atenção do motorista logo de cara, pelo parabrisas pequeno. Se isso dificulta na condução? Com os retrovisores no melhor estilo de picape cabine dupla (enormes), monitor de ponto-cego repleto de avisos, câmera 360º e seus modos, sensores de estacionamento frontais e traseiros e um belo diâmetro de giro do volante para manobras, não é complicado andar ou manobrar, nem nos lugares mais apertados. Se perde por um lado, compensa pelo outro.

Tamanho de SUV de sete lugares, mas tecnologias ajudam na condução (Foto: Lucca Mendonça)

Literalmente, um SUV

Pensou em um SUV de sete lugares, imaginou um Tiggo 8. Além de todo o espaço que lhe é bem-vindo, fora o porta-malas que ousa ser o maior da categoria (são incríveis 889 litros quando o carro está montado para carregar cinco pessoas), tudo que mais pode servir perfeitamente em um utilitário familiar, ele tem. Isso tem lados bons, e outros nem tanto. O conforto é um bom começo: aqui existem suspensões macias e com muita capacidade de absorção, claro que independentes nas quatro rodas e com o multibraço na traseira. É uma das principais virtudes do carro.

Porta-malas de quase 900 litros ousa em ser o maior (Foto: Lucca Mendonça)

Nos mais complicados pisos, incluindo os sem asfalto, é elogiável o comportamento do carro, que não transparece quase nada aos ocupantes. O mesmo vale para o silêncio a bordo. A engenharia da Caoa-Chery caprichou nesses pontos e em outros, como o ajuste de freios, a disco nas quatro rodas, ou direção, que inclusive pode ser programada para ficar mais anestesiada (modo Comfort) ou ágil (modo Sport). Garanto que o segundo é bem melhor que o primeiro, já que melhora e muito a condução e sensação de controle do carro.

Claro, o comportamento dinâmico fica em segundo plano por essas e outras, mas quem quer contornar curvas a 100 km/h ou dirigir de forma esportiva com um SUV familiar de sete lugares por aí? Provavelmente só em emergências, mas aí toda a parafernália eletrônica de segurança dá conta do recado, mesmo que ele não poupe inclinações nas curvas, como esperado num carro deste tamanho e porte. Ah, e vale falar que, aqui, são duas barras estabilizadoras, uma para cada eixo.

Potência não é tudo

Nesse Founder’s Edition temos 187 cv de potência com 28 mkgf de torque aos 2 mil rpm (progressivos antes disso) extraídos de um motor 1.6 turbo de injeção direta com duplo comando variável. É um TGDI que só bebe gasolina, mas não confunda com os Hyundai, que já são flex. Ele, sozinho, pode nem ser o suprassumo de ficha técnica, mas está muito bem acompanhado: a transmissão aqui é automatizada de dupla embreagem, chamada de “Wet Clutch” (é banhada a óleo, e não seca), com sete marchas e a esperteza de poucos automáticos convencionais. O Tiggo 8 é o único com tal câmbio no segmento.

1.6 turbo tem a melhor companhia possível: um câmbio automatizado de dupla embreagem com sete marchas (Foto: Lucca Mendonça)

Suas trocas são extremamente suaves e silenciosas, embora o segredo esteja mesmo no pique quase esportivo, garantido pela eficiência típica dos câmbios de dupla embreagem. Passagens e, principalmente, as reduções são imediatas quando se busca desempenho. O modo ECO é permanente (só existe ele e o Sport), mas nem poupando combustível o Tiggo 8 é um carro lento ou preguiçoso para andar. Mesmo carregado, ele surpreende. Outra coisa que faz diferença é seu peso de pouco mais de 1.550 kg. Um SUV grandalhão, mas leve. O Commander flex (impossível não comparar) é quase 200 kg mais pesado, mesmo vazio.

Turbo GDI, mas não pode confundir com os Hyundai, hein? (Foto: Lucca Mendonça)

Pelo menos quatro pessoas me vieram com a mesma pergunta: “é beberrão?” ou “gasta muito?”. Não, não é beberrão nem gasta tanta gasolina assim. Pela eficiência do conjunto, esperava algo bem pior que os 10,0 km/l na cidade e 12,5 km/l na estrada cravados no computador de bordo, conseguidos com o carro transportando só eu, como motorista, e ar-condicionado ligado. O que talvez seja o maior problema do Tiggo 8, para se ter noção, é o tamanho do tanque: são só 51 litros, menor até que o de um VW Gol. Rende pouco, bem pouco. Em viagens maiores, a parada no posto é garantida. Falo por experiência própria.

Tanque bem pequeno é, talvez, o único pecado do Tiggo 8 (Foto: Lucca Mendonça)

Surpresa! Tiggo 8 é interessantíssimo

A Caoa-Chery apela para o custo X benefício no Tiggo 8. Se esse Founder’s topo de linha sai por R$213.850, a versão TXS, convencional, custa pouco mais de R$200 mil. Um Jeep Commander de entrada começa em R$237 mil, enquanto o Mitsubishi Outlander parte dos R$227 mil. Nos dois casos, o Tiggo pode ter uma lista de equipamentos tão ou mais interessante quanto. Ou seja, é um carro com preço dos bons dentro da categoria. E sempre completão, afinal a alma chinesa ainda se faz valer nesse ponto. “Melhor do mundo” é exagero, mas “melhor compra da categoria” é de se pensar…

Ficha técnica:

Concepção de motor: 1.598 cm³, gasolina, quatro cilindros, 16 válvulas (quatro por cilindro), turbo, injeção direta de combustível, duplo comando de válvulas, variador de fase na admissão e escape, bloco e cabeçote fundidos em alumínio
Transmissão: automatizada de dupla embreagem com sete velocidades e opção de trocas manuais na alavanca
Potência: 187 cv a 5.500 rpm
Torque: 28 mkgf a 2.000 rpm
Suspensão dianteira: independente, tipo McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: independente, tipo multibraço, com barra estabilizadora
Direção: assistência elétrica progressiva
Freios: discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira
Pneus e rodas: Goodyear EfficientGrip SUV, medidas 235/55 com rodas de liga-leve aro 18
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,70 m/1,86 m/1,70 m/2,71 m
Porta-malas: 889 litros (5 lugares) ou 193 litros (7 lugares)
Tanque de combustível: 51 litros
Peso em ordem de marcha: 1.573 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 9,0 segundos
Velocidade máxima: 180 km/h (limitada eletronicamente)
Preço básico: R$213.850 (TXS: R$201.070)

Itens de série:

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.