Fiat Brava: a história do sucessor do Tipo
A Fiat chegou no Brasil em 1976 vendendo inovação e deixa, até hoje, um legado de modernidade e tecnologia, amplamente aceita em nosso mercado. A prova disso, é o sucesso de seus produtos. Após o sucesso do 147, que teve muito o que provar, e do Fiat Uno, lançado em 1984, nos anos 90 a marca investiu em outras categorias, como sedan médio com o Fiat Tempra e hatch médio com o Fiat Tipo.
O Tipo foi um estrondo, em todos os sentidos. Sucesso tremendo em conceito, foi o primeiro carro importado a desbancar, mesmo que por alguns meses, o saudoso VW Gol, da liderança de vendas. Foi dele também, quando a produção passou a ser nacional em 1996, o mérito do lançamento do airbag no Brasil. Mas alguns casos de incêndio atribuídos a algumas unidades importadas entre 1993 e 1995 acabaram com sua reputação, e o modelo saiu de linha ofuscado pela mídia em meados de 1997.
A Fiat preparava a nova geração de seus médios, onde traria em 1998 o sedan Marea, o station Marea Weekend e logo na sequência, o sucessor do Tipo: o hatch dois volumes e meio Brava. Para o novo hatch, a fabricante não queria errar, já que a categoria, hoje praticamente extinta em nosso mercado, estava em ascensão, com investimento pesado da concorrência. Haviam chegado na época o Ford Escort Zetec, Audi A3, Citroën Xsara, Peugeot 306 e GM Astra, todos entre 1997 e 1999.
Sendo assim, a marca italiana fez um laboratório extenso com os clientes e inúmeros testes de campo com dois produtos de sua prateleira, o Fiat Bravo com 3 portas e o Brava com 5 portas. O Fiat Bravo, sem as portas traseiras, era lindo, porém com viés mais esportivo, e os brasileiros já não se interessavam muito por carros com 2 ou 3 portas.
Sendo assim, o Fiat Brava, de cinco portas, foi o escolhido para representar a fabricante no então importante segmento. O modelo chegou em nosso mercado em 1999 e impressionou pelas linhas modernas e o bom acabamento herdado do Marea, modelo este que era sensação da época.
Quase um Marea, trazia as mesmas formas elegantes do sedan na dianteira e laterais, com identidade própria na traseira. Era considerado um “notchback”, formato intermediário entre o sedan, com porta-malas saliente, e o hatch, que tem corte da tampa traseira na vertical. Usava também a mesma plataforma do sedan, porém com 20 cm a menos no comprimento total.
Foi lançado em três versões (SX, ELX e HGT), se destacando em design e conforto aos passageiros. Tinha suspensão mais macia que o sedan, garantindo excelente estabilidade, graças à boa distribuição de peso e a largura de seus pneus. As duas primeiras versões se diferenciavam apenas pelos opcionais e forração do interior. Contavam com o mesmo motor 1.6 do Palio, porém com a potência reduzida em 99 cv a 6000 rpm e 14,8 kgfm de torque a 4750 rpm, garantindo menor imposto graças a lei de tributação da época. Com este motor, ia de 0 a 100 km/h em 11,9s e chegava a 186 km/h de velocidade máxima. Com gasolina, percorria 10,6 km/l na cidade e 15,8 km/l na estrada.
A HGT, mais cara, era sempre 1.8 16v. Com 132 cv a 6500 rpm e 16,7 kgfm de torque a 4000 rpm, gostava de giro alto, mas entregava desempenho digno de alguns esportivos da época. Fazia 0 a 100 km/h em 9,5s e chegava a 201 km/h de velocidade máxima. Com gasolina, percorria 9,1 km/l na cidade e 11,6 km/l na estrada. Definitivamente, consumo não era seu forte. Esta versão contava também com rodas com tala 6J de aro 15 e pneus 195/55.
Custando à época R$33.950,00 (R$ 142.071,08 hoje pelo índice INPC), o modelo tinha como itens de série ar-condicionado, direção hidráulica, regulagem da coluna de direção, CD-player, controle elétrico dos retrovisores, trava elétrica das portas e vidros elétricos. Como opcionais, oferecia freios ABS com EBD, alarme antifurto, airbag duplo e teto solar. Eram outros tempos…
A concorrência atacava muito forte no segmento, e em 2001 a Ford lançava o Focus, modelo que abalou a concorrência e deu muito trabalho à dupla GM Astra e VW Golf, então líderes. Falando da VW, era lançado como linha 2002 o VW Golf 1.6, como o motor nacional EA-111 e acelerador eletrônico. Um páreo duro para os Brava 1.6.
Em 2001, o motor 1.6 16v das versões SX e ELX saía de cena em prol do 1.6 “Corsa Lunga” (curso longo), que tinha maior curso de pistões para uma melhor distribuição de torque. Agora com 106 cv a 5550 rpm e 15,1 kgfm de torque a 4500 rpm, o Fiat fazia de 0 a 100 km/h em 10,7s e chegava aos mesmos 186 km/h de velocidade máxima da versão anterior. Com gasolina, percorria 10,5 km/l na cidade e 15,9 km/l na estrada. Com um pouco mais de torque, era também mais silencioso.
O Brava não foi testado pelo Latin NCAP, mas foi testado em 1998 pelo Euro NCAP. O modelo tirou 2 estrelas para ocupantes adultos e 2 estrelas para pedestres, lembrando que o máximo de estrelas para pedestres deste teste era 4 estrelas. O carro testado tinha apenas airbag para o motorista e pré-tensores no cinto de segurança.
Foi cogitado ainda o lançamento da versão 2.4 20v de 160 cv a 6000 rpm e 21 kgfm de torque a 3500 rpm, onde foram fabricadas pela Fiat três unidades para testes. Como o custo era alto e as vendas não justificavam o investimento, o projeto foi cancelado. Posteriormente as unidades foram vendidas à funcionários, que por sua vez os revenderam no mercado de usados. Sabe-se que um deles foi destruído em um acidente, e restam dois em circulação. Vale falar também que o Brava fez relativo sucesso nas pistas de competição da época.
De forma tímida, o lindo Fiat Brava foi descontinuado em nosso mercado em meados de 2003 após exatas 41.331 unidades fabricadas, substituído pelo Stilo, este sim de grande sucesso como foi Tipo, mas essa história contarei em breve.