O PAG Nick com 22 mil km rodados, uma pequena joia
- Hoje vamos falar de um dos mais icônicos e interessantes carros já lançados no Brasil: o Dacon PAG Nick, criação de Anísio Campos na década de 80. Sempre quis comprar um desses, mas é muito, muito difícil mesmo achar uma unidade em bom estado. A maior parte deles já sofreu graves alterações, mudança de painel, lanternas diferentes, rodas maiores, fora as modificações mecânicas. Ou seja, achar um PAG Nick em ótimo estado é praticamente impossível. Mas não é que eu eu consegui achar um?
Antes de falar de como eu consegui isso, vamos falar um pouco do carro. A Dacon foi criada em 1960, durante muitos anos foi concessionária Volkswagen e importadora oficial da Porsche no país. A PAG foi uma de suas divisões, cuja sigla significava “Projets D’Avantgarde LTDA”. Mas PAG também poderia ser identificado como Paulo de Aguiar Goulart, o nome do criador da Dacon.
Essa empresa estava instalada no município de Santana de Parnaíba, interior de São Paulo, e foi responsável pela criação e fabricação do Nick.
Esse pequeno carro começava sua vida como uma Saveiro GL normal, que servia como base para a fabricação desse pequeno fora de série. Em agosto de 1987 foi feito o primeiro deles, que era executado da seguinte forma: a Saveiro 0 km era cortada em cerca de 34 cm entre a parede da caçamba e a suspensão traseira, incluindo aí a eliminação do balanço traseiro. Em seguida, a suspensão traseira, juntamente com as torres, era soldada junto à parede da caçamba. Toda a parte traseira nessa etapa ficava exposta, sem a externa da carroceria.
Já na dianteira, todo painel frontal com faróis, lanternas e grade também era removido, feito ali um corte de 45° nos para-lamas dianteiros. Na sequência, era colocada uma nova frente e traseira em fibra de vidro, com desenho de Anísio Campos (1934-2019), famoso designer brasileiro, que foi responsável também pelo Dacon 828, o “Ovo”, além de inúmeras outras criações. No caso do Nick, por conta do desenho das colunas traseiras vazadas sobre o porta-malas, o carrinho ganhou o carinhoso apelido de “Alcinha”. Pesando cerca de 40 quilos a menos do que essa Saveiro e empurrado pelo mesmo motor Volkswagen AP600, de 90 cv, se tornava um carro muito ágil. A aceleração de zero a 100 km/h era feita em apenas 11,7 segundos, segundo teste feito por Douglas Mendonça (!!!) na revista Quatro Rodas de abril de 1988. A velocidade máxima ficava na casa dos 160 km/h. Para a época, números muitíssimo interessantes. Como o sistema de freios era original da Saveiro e superdimensionado em relação ao Gol, ele parava que era uma barbaridade, mas exigia cuidado na hora de dirigir pois o comprimento e a bitola o tornavam quase um carro “quadrado”.
A empresa-mãe da PAG, a Dacon, era responsável pela importação da linha Porsche no Brasil, como já foi dito. Sendo assim, alguns dos Nick tinham componentes originais da Porsche, como é o caso deste que eu comprei, que tem as rodas do Porsche 928 originais, com furação 5 x 130 e apelidadas de “Phone Dial” (disco de telefone, em alusão ao sistema de discagem dos telefones antigos). E o Nick poderia ter outras coisas feitas de origem Porsche, dependendo do bolso do cliente. Posteriormente, o PAG virou outro carro, feito sobre a base do Voyage e com quatro lugares, perdendo a “alcinha”, mas isso já é uma outra história. Da versão original com dois lugares, fizeram apenas 36 carros, segundo os números mais confiáveis. E não devem ter sobrado mais de 10, com vários estados diferentes de conservação, pelo Brasil afora.
Esta unidade pertencia a uma empresa de São Paulo, tem apenas 22.000 km rodados e nunca foi restaurado. Está até hoje em perfeito estado, com sua mecânica AP600, sem ar condicionado ou direção hidráulica, como era encontrado originalmente (na linha Gol quadrado, direção hidráulica só em 1994). Acredito que seja o único do Brasil que ainda se encontra nesse estado. Encontrei ele por acidente, quando fui visitar a tal empresa, e lá estava ele, num cantinho, meio que abandonado. Digno de dó. Fiz a oferta, e não é que ele veio parar na minha garagem?
Não é um carro propriamente inesquecível, porque até hoje ele está comigo na minha garagem. Olhando para ele toda hora, realmente não consigo esquecer. Assim, ao contrário do nome dessa minha coluna, não tem nem como ele se tornar inesquecível…