(Avaliação) JAC T80: o grandalhão de 7 lugares com múltipla personalidade
Carros com 7 lugares são bem caros hoje em dia, e, com exceção da Chevrolet Spin, todos custam mais de R$100 mil. A JAC, pra entrar nessa turma da terceira fileira de assentos, lançou em fevereiro de 2019 o T80, seu maior SUV, que em alguns outros mercados é mais conhecido como Refine S7. Apesar de bonito, com um conjunto agradável, preço interessante e uma lista de equipamentos bem generosa (como é de praxe nos carros chineses), o T80 é um ilustre desconhecido por aqui, e vê-lo nas ruas é uma tarefa bem difícil, afinal ele nunca emplacou nas vendas. Mas será injustiça do mercado ou ele realmente não é uma boa opção? Vamos descobrir…
Começando pelo design, dizer no título que o T80 tem múltipla personalidade pode parecer estranho, mas olhando bem pra ele, é fácil perceber uma “salada” de várias inspirações de modelos alemães mais famosos: seu interior lembra muito o da Mercedes-Benz Classe S de sexta geração (vendida atualmente), a traseira é claramente baseada na linha de SUVs da Audi (Q5 e Q7 mais antigos, principalmente), e suas linhas gerais tem um quê de Porsche Cayenne de segunda geração (formato das janelas, recorte das portas, ângulo das colunas, etc.). Apesar disso, o design desse utilitário chinês agrada no geral, com direito até a alguns elogios de pessoas que não conheciam o modelo.
Equipado com um motor 2.0 turbo Dual VVT (comando variável para as válvulas de admissão e escape) movido somente a gasolina, ele rende 210 cv e 30,5 mkgf de torque (crescentes de 1.800 até 4.000 rpm) e trabalha junto com uma uma transmissão automática de dupla embreagem com 6 velocidades (que é um tanto confusa, vivendo numa constante indecisão sobre as trocas em algumas situações, como por exemplo subidas íngremes).
Na prática, com esse conjunto o T80 anda muito bem, talvez até mais do que deveria: segundo dados da própria JAC, ele cumpre a prova dos 0 a 100 km/h em cerca de 9 segundos e alcança os 217 km/h de velocidade máxima, números até surpreendentes pra um carro de quase 1.800 kg. Com o câmbio no modo Sport ele fica mais arisco, deixando o acelerador mais sensível, o regime de rotação do motor mais alto e a dirigibilidade até mais divertida.
Mas cavalo que anda é cavalo que bebe, e aí entra o enorme “porém” desse desempenho: o consumo alto, que não traz nenhum tipo de alegria. Na estrada a cerca de 110 km/h, é difícil passar dos 10 km/l de gasolina, e no trânsito urbano esses números caem pra algo em torno dos 6,5 km/l. Pra compensar um pouco esse consumo digno de pony-cars americanos com motor V8, o tanque é relativamente grande (64 litros), garantindo uma autonomia razoável.
Mas o foco de um SUV familiar não é o consumo, então em matéria de espaço interno ele praticamente gabarita. Falando em dimensões, são 4,79 m de comprimento, 1,90 m de largura e generosos 2,75 m de entre-eixos. O resultado disso? Bastante espaço para até três adultos na segunda fileira de bancos, e tudo isso sem nenhum aperto para as pernas ou cabeça. Os dois últimos assentos, como de costume, são mais acanhados, e fica praticamente impossível transportar mais do que crianças neles. Porta-malas também merece destaque, com 620 litros com a terceira fileira de bancos abaixada, número que cai para 150 litros quando configurado pra carregar 7 pessoas.
Conforto também é outro destaque do T80, com um sistema de suspensões independentes bem “molenga” pra garantir um rodar suave (o que consequentemente afeta a dinâmica do carro, principalmente num SUV desse porte), bancos macios que acomodam bem o corpo e boa posição de dirigir. Ponto negativo para a coluna de direção que só pode ser ajustada em altura, e não em profundidade: uma economia bem porca pra um carro desse porte e segmento, e que acaba prejudicando bastante a vida de motoristas mais altos, que precisam colocar o assento pra trás e ficam longe do volante. Outra falha do T80 é o isolamento acústico, que merecia mais capricho, deixando entrar bastante barulho externo na cabine, principalmente do motor e transmissão, incomodando em viagens mais longas.
Nos demais, o acabamento da cabine é digno de elogios, com materiais agradáveis e que trazem bastante requinte (com direito até a reloginho analógico no centro do painel), e os encaixes são bem feitos, mas alguns barulhos são comuns depois de uma certa quilometragem (o carro avaliado tinha 25 mil km rodados e já sofria desse mal).
Além disso, pra justificar os R$150 mil iniciais cobrados pela versão Pack 2, esse SUVzão traz uma lista de equipamentos de série invejável: além de piloto automático, computador de bordo multifunção, conjunto elétrico (vidros, travas e retrovisores), volante multifuncional e direção elétrica (configurável em modo leve, normal e pesada), ele traz bancos de couro, ar-condicionado digital dual zone, saídas de ar para a segunda fileira de bancos, central multimídia de 10” com conexões Android Auto/Apple CarPlay e câmera de ré (que apesar de ser grande e ter várias funções, tem baixa resolução e funcionamento confuso), chave presencial (para destravamento das portas e partida do motor), câmera 360º, 6 airbags, freio de estacionamento elétrico com função Auto Hold, controles eletrônicos de tração e estabilidade, assistente de partida em rampas, monitor de pressão dos pneus, luzes diurnas em LED, sensores de chuva e crepuscular, luzes com função cornering light (que direcionam o facho de acordo com a rotação do volante), retrovisor interno eletrocrômico, rodas diamantadas aro 18, entre outros.
O carro avaliado, da versão topo de linha Pack 3, custa R$154 mil e adiciona bancos dianteiros com aquecimento e ventilação (o do motorista ainda conta com ajustes elétricos e até massageador), teto-solar panorâmico, painel digital multifuncional de 12,3”, e um excelente sistema de som Infinity com 10 alto-falantes e 280W.
Quando comparado com a concorrência no assunto custo X benefício, o JAC T80 com certeza tem a melhor relação: seus principais rivais normalmente custam muito mais ou trazem muito menos (ou até mesmo os dois juntos), sendo mais próximo a novidade CAOA-Chery Tiggo 8, que também tem foco no “mais por menos”, saindo por R$168,6 mil (ou R$162,2 mil no preço promocional de lançamento) e trazendo bastante conteúdo. O Tiggo 8 vem mais moderno e com algumas parafernálias eletrônicas que o T80 não tem, mas perde na mecânica mais fraca (1.6 turbo a gasolina de 187 cv e 28 mkgf de torque) e nas dimensões menores (1,86 m de largura e 2,71 m de entre-eixos, por exemplo).
Como resultado, sabemos que o JAC T80 não é perfeito (ele passa longe disso), tem seus pecados e mancadas, mas tem desempenho elogiável, espaço interno e conforto de sobra, além de uma lista de equipamentos de série quilométrica, resultando num conjunto equilibrado no geral. Somando tudo isso e olhando seus preços muitíssimo convidativos, talvez você acabe escolhendo esse interessante chinês com traços genéricos alemães no lugar de algum modelo “modinha” do mercado.