Ford já pensava nos carros elétricos há quase 110 anos

Para quem não sabe, Henry Ford e Thomas Edison, dois gênios do século 20, eram amigos inseparáveis. Estavam sempre juntos, partilhando suas criativas ideias e, claro, essa associação não poderia deixar de criar algo igualmente incrível: um carro movido unicamente pela eletricidade. No mundo, essa não era uma invenção inédita, afinal de contas, quando o carro surgiu no final do século 19 teve algumas versões elétricas.

Henry Ford e Thomas Edison: dois grandes amigos e gênios de sua época (Foto: Ford/divulgação)

Mas o quesito que todos os inventores esbarravam estava nos acumuladores de energia. As baterias do início do século 20, semelhantes às utilizadas atualmente para a partida dos carros a combustão, do tipo chumbo-ácido, eram de baixíssima eficiência. E para movimentarem um veículo com um alcance razoável, tinham de ter interligadas entre si muitas baterias, o que inviabilizava os projetos.

Nesse momento, entrou a genialidade de Thomas Edison e seu profundo e reconhecível conhecimento sobre a eletricidade, afinal de contas, entre outras invenções dele, estava a energia elétrica de corrente contínua, como aquelas oferecidas pelos acumuladores de carga de chumbo-ácido. Além da baixa eficiência, eles tinham outro sério problema: o excessivo peso, pois o chumbo, como se sabe, possui uma densidade bastante alta.

Desde o início dos anos 1900, Edison vinha criando baterias mais leves e eficientes, que serviriam muito bem para os carros elétricos feitos em parceria com Henry Ford (Foto: Ford/divulgação)

Nas interações entre Ford e Edison, discutiu-se sobre uma bateria mais eficiente e que pesasse menos que aquela usual de chumbo-ácido, largamente empregada pelos veículos da época. Thomas, desde 1903, vinha trabalhando na criação de acumuladores mais leves e eficientes, que tinham como base o níquel-ferro. Juntos, os dois gênios do século 20, dez anos mais tarde, em 1913, começaram a desenvolver um carro 100% elétrico que utilizasse as inéditas baterias de níquel-ferro desenvolvidas por Edison, mais leves e eficientes.

Aquela era uma grande chance de deixar para trás os motores a gasolina e, agora sim, viabilizar a eletrificação dos veículos. Há exatos 109 anos, a dupla de amigos já estava preocupada com uma nova maneira do mundo se locomover, apostando no baixo custo, manutenção reduzida e zero poluição ao meio ambiente, mesmas virtudes dos veículos elétricos até os dias atuais. Nascia assim a Edison-Ford, empresa que trabalhava na criação do carro elétrico perfeito, após um investimento de US$ 1,5 milhão.

Os dois, Ford e Edison, aproveitando sua boa relação e ideias interessantes, logo fundaram a Edison-Ford juntos (Foto: Ford/divulgação)

Mas os tempos eram difíceis, pois estávamos na véspera da I Guerra Mundial e a forte pressão dos produtores de petróleo não deixava que os projetos de carros elétricos evoluíssem e se desenvolvessem como deveriam. Isso, claro, incluiu os produtos da Edison-Ford. Depois dos insucessos no desenvolvimento da super bateria da época, de níquel-ferro, Thomas Edison voltou seus olhares para a velha, boa e confiável química de chumbo-ácido que, aí sim, merecia um retrabalho para melhora de sua eficiência e redução de seu peso excessivo.

No final, com a situação complicada do mundo e lobbies pesados do meio petrolífero, os projetos de um carro elétrico de sucesso, criado por Henry Ford e Thomas Edison, que inclusive trabalhou na melhor eficiência dos motores elétricos da época, foram abandonados. Ou temporariamente suspensos…

Os projetos dos elétricos da Ford ficaram temporariamente suspensos até meados dos anos 60, quando chegou o pequeno Comuta (Foto: Ford/divulgação)

Décadas depois, já em meados dos anos 1960, a Ford, acreditando no futuro de carros elétricos e eletrificados, voltou a investir nesses promissores projetos com o Comuta, um microcarro com baterias de 85 Ah e 60 km de alcance máximo, que tinha o objetivo de ser usado nas cidades e diminuir a poluição dos grandes centros urbanos, que já começava a se tornar um problema da época. O projeto do pequeno Comuta foi desenvolvido pela Ford Inglaterra em parceria com a Ford USA.

Dali em diante, os investimentos e projetos não cessaram mais, com diversos experimentos e novas tecnologias para os veículos elétricos. O primeiro oficialmente disponibilizado para o público viria ainda em 1997, a Ford Ranger EV, com suas baterias de até 26 kWh e alcance que já superava os 100 km. Aquele foi o primeiro veículo elétrico produzido em escala pela Ford mundialmente e marcou a história automotiva global.

Nos anos 90 já havia a Ranger EV, primeiro carro elétrico produzido em escala pela Ford mundial (Foto: Ford/divulgação)

Futuro eletrificado

Hoje a Ford já ostenta um belo curriculum quando o assunto é eletrificação de veículos. Abrange diferentes segmentos, para todos os tipos de público e uso: desde empresas e comércios com a E-Transit, passando pela consagrada picape F-150 Lightning e sua robustez de sobra, até chegar no superesportivo Mustang Mach-E. Além deles, puramente elétricos, outros que estão na linha de ponta da marca mesclam de forma eficiente o motor a combustão com eletricidade: os híbridos como a Maverick Hybrid.

Hoje a linha de veículos eletrificados da Ford é bastante ampla. Na foto, a F-150 Lightning (Foto: Ford/divulgação)

Com investimentos de mais de US$ 50 bilhões para os próximos quatro anos, os Ford elétricos se posicionarão entre os melhores do mundo em eficiência, com motores elétricos e conjunto de baterias extremamente duráveis, mais leves que antes, com maior alcance e eficiência. A expectativa é produzir 600 mil veículos elétricos por ano, mundialmente, a partir de 2023. Esse número se divide entre Mustang Mach-E, E-Transit, F-150 Lightning, além de um inédito SUV, que ainda não foi lançado oficialmente.

Já para 2026, esse número deverá mais que triplicar: até lá, a expectativa é ter um ritmo de produção de mais de 2 milhões de veículos elétricos anualmente, abrangendo uma enorme fatia de mercado com vários produtos diferentes. Novas soluções para aquisição, recarga, alcance e uso geral dos VEs, claro, não param de ser desenvolvidas pela Ford mundo afora.

O que era um sonho de Henry Ford há mais de 100 anos se tornou o futuro da mobilidade mundial (Foto: Ford/divulgação)

O que era um sonho de Henry Ford no início do século passado, enfrentando muitas dificuldades e barreiras, hoje se tornou um gigante no futuro da locomoção. Até o final dessa década, o domínio do carro elétrico mundo afora já será realidade.

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Jornalista na área automobilística há 48 anos, trabalhou na revista Quatro Rodas por 10 anos e na Revista Motor Show por 24 anos, de onde foi diretor de redação de 2007 até 2016. Formado em comunicação na Faculdade Cásper Líbero, estudou três anos de engenharia mecânica na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e no Instituto de Ensino de Engenharia Paulista (IEEP). Como piloto, venceu a Mil Milhas Brasileiras em 1983 e os Mil Quilômetros de Brasília em 2004, além de ter participado em competições de várias categorias do automobilismo brasileiro. Tem 67 anos, é casado e tem três filhos homens, de 20, 31 e 34 anos.