Maverick V8: Com ou sem Quadrijet, uma fera nas ruas e nas pistas
Quando o Ford Maverick chegou ao nosso mercado em 1973 (Ele já havia sido mostrado ao publico no Salão do Automóvel de 1972), ele tinha um alvo certeiro: O sucesso do Chevrolet Opala no mercado brasileiro, que já vinha sendo oferecido ao publico desde 1969. Na realidade, o Maverick foi a resposta da Ford ao sucesso do Opala. Mas, nessa pressa de dar uma resposta a altura o Ford Maverick chegou com alguns problemas. O maior deles, foi a adoção do velho e combalido motor 3.0 de 6 cilindros em linha, oriundo da Willys Overland do Brasil, que foi utilizado nos Jeep, Rural e Aero Willys no final dos anos 50 e início dos anos 60. Mas, na realidade, esse velho motor de origem norte americana, já era um projeto do final dos anos 30 e inicio dos anos 40. Portanto, inadequado ao projeto do Maverick, um novo carro que pretendia conquistar a preferência do consumidor do Opala. O motor 3.0 mostrava-se frágil, problemático e de baixo desempenho e, principalmente, consumia muito combustível.
Só para que se tenha uma ideia, o Maverick 3.0 6 cilindros, acelerava de 0 a 100km/h na casa dos 20 segundos. Uma frustração para quem via as linhas fluidas do Maverick que passavam a impressão de velocidade em um carro tão lento. O Maverick 4 cilindros 2.3 que veio substitui-lo em 1975 cumpria a mesma prova de aceleração de 0 a 100 km/h, na casa dos 15 segundos. Com um motor com menos cilindros, com menor capacidade cúbica de 2.3 e bem mais econômico, o Maverick com o novo motor era tecnicamente muito superior ao 6 cilindros. Mas não é deles, 4 ou 6 cilindros, que os apaixonados por Maverick gostam de falar. A motorização que marcou o Maverick, foi sem sombra de duvidas o poderoso 302 polegadas cúbicas, ou 5.0 litros, V8 que era a opção mais cara do cupê da Ford que também era oferecido na horrível versão sedã de quatro portas.
Claro que na época, o Opala dominava as competições automobilísticas brasileiras em todas as suas divisões que utilizavam carros de turismo. A Ford, logicamente, apresou-se em oferecer uma versão mais apimentada do V8 para que a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), pudesse homologar uma versão esportiva de competição para a sua grande aposta em nossas corridas de turismo, o Maverick. Enquanto o motor V8 original produzia parcos 135cv de potência liquida (198cv de potência bruta), a versão homologada para as corridas e oferecida ao consumidor que assim o desejassem nas concessionarias Ford, produzia 180cv de potência liquida, melhorando o desempenho de maneira absurda. Só para que você tenha uma ideia, em testes realizadas na época pela revista Auto Esporte, mostravam que o Maverick equipado com esse super motor acelerava de 0 a 100 km/h na casa dos 7 segundos e atingia os 204 km/h de velocidade máxima.
O Maverick V8 original, sem o tal kit milagroso, fazia a mesma prova de aceleração até os 100 km/h na casa dos 11 segundos e atingia uma velocidade máxima não superior aos 180 km/h, valores modestos quando comparados aos da versão esportiva homologada. O tal kit esportivo, que poderia vir já instalado no carro 0 km ou suas peças adquiridas nas concessionarias e colocadas pelos mecânicos das revendas. O kit era composto de: Um carburador Quadrijet (o original era um Bijet), seu filtro de ar e coletor de admissão apropriado, novas juntas de cabeçotes mais finas que aumentavam a taxa de compressão de 7,7:1 para 8,5:1 e um novo comando de válvulas que ampliava o tempo de abertura das válvulas para 282 graus, melhorando o enchimento dos cilindros principalmente nas rotações mais altas. O inconveniente do tal poderoso kit, era a exigência de um combustível de maior octanagem, que na época era a chamada gasolina azul, que obviamente custava mais cara. No restante, era só alegria!
Com o tal kit milagroso, os Maverick de rua ficavam imbatíveis nos 100 metros rasos: Nenhum carro nacional batia o Maverick V8 Quadrijet nas acelerações. Agora, imaginem o que o tal kit venenoso fez com os Opala nas pistas: Massacrou. Em que pese o fato de que o chassi dos Opala tinham melhores desempenhos nas curvas e frenagens, o que sobrava de potência nos V8, compensava nas retas o que o Maverick perdia em curvas. Na motorização, era um motor 4,1 litros, 6 cilindros em linha versos o V8 de 5 litros com um carburador quádruplo. Era uma covardia. Mesmo a chegada do homologado motor 250S nos Opala, não foi suficiente para diminuir o brilho dos Maverick nas pistas. Eles venceram, praticamente, todas as provas da qual participaram de 1974 até 1977. Uma fase áurea da Ford nas competições, graças ao sucesso do Maverick e seu imbatível V8.
O carro tinha problemas? Diria que muitos. Nas pistas e até na rua sentia-se a falta de freios adequados a alta performance e ao peso do carro. Por ser pesado, a carga no eixo dianteiro era alta, exigindo força do motorista para girar o volante e a solução, da época, foi uma caixa de direção com uma desmultiplicação muito acentuada o que exigia muitas voltas no volante para que o motorista esterçasse pouco as rodas. Nas pistas, fazia com que os pilotos, suassem o macacão, principalmente naquelas pistas de baixa velocidade.
Em Interlagos, por exemplo, alguns pilotos adaptavam um manete no volante para que pudessem girá-lo com mais rapidez. Um outro ponto, que pesava nos carros de rua, era a de que a versão cupê, com entre-eixos de apertados 2,62 metros, praticamente não deixava espaço algum para os ocupantes do banco traseiro. Uma grande critica, na época, em que a esmagadora preferência dos brasileiros era por carros de duas portas. Na realidade, passados esses cerca de 40 anos, independente das críticas o Maverick marcou sua presença no mercado nacional mesmo tendo sido produzidos por apenas 6 anos, de 1973 até 1979. Um desses carros que habita o imaginário dos brasileiros.