Escort XR3: A história do esportivo lançado há 35 anos


A minha história como jornalista especializado na área automobilística está próxima à história do Ford Escort XR3. Nessa época eu ainda testava caminhões para a revista O Carreteiro, além dos testes em dinamômetro para medir a potência nas rodas dos carrões do final dos anos 70. Quando fui para a Quatro Rodas, revista especializada de grande circulação nacional, passei a fazer os testes de pista de quase todos os carros nacionais do inicio dos anos 80.
E, é claro, quando a Ford apresentou o Escort XR3 no final de 1983 para os jornalistas especializados, todos ficaram boquiabertos: O carro havia acabado de ser lançado na Europa e já estava chegando ao consumidor brasileiro. Por aí pode-se ter uma ideia da importância do mercado automobilístico brasileiro para os fabricantes naquela época: Havia passado o tempo de se lançar por aqui apenas carros que tinham ficado obsoletos em seus países de origem. Um período rico em novidades.

Passei a fazer testes naquele período com o recém-lançado XR3 ano-modelo 1984. Naquele tempo o carrinho da Ford era um foguetinho: nos números de hoje, valores dignos de um carro 1000, acelerando de 0 a 100 km/h em cerca de 13,5 segundos e com uma velocidade máxima que não superava muito os 170 km/h.
Seu motor 1.6, oriundo do motor Renault lançado no Corcel no final de 1968, também era utilizado em uma versão mais mansa pelo Del Rey, Belina e Pampa, mas possuía no XR3 um comando de válvulas mais nervoso, um carburador duplo maior e um sistema de escapamento mais generoso na hora de liberar os gases.
Um motor que não gostava muito de altas rotações e se o motorista errasse uma troca de marchas, as varetas que ligavam os tuchos aos balancins se soltavam e o motor começava a falhar de maneira ininterrupta. Era necessário desmontar os balancins e colocar suas varetas no local correto. Um propulsor delicado e repleto de artimanhas.
Quando funcionava bem, com álcool o motor chegava a produzir 83 cv com um torque máximo de pouco mais 12 mkgf, que aparecia em rotações ao redor dos 4.000 rpm. Esse motor equipou o XR3 até o final de 1988, quando foi substituído pelo motor VW AP-1800 S, semelhante ao utilizado no Gol GTS.
Agora tudo já estava sob a direção da Autolatina, uma fusão entre a Ford e a Volkswagen que existiu em nosso mercado de 1987 até 1994. Esse XR3 1.8 já era mais bacana. Fazia de 0 a 100 na casa dos 12 segundos e chegava ao 180 km/h com seus 97 cv e torque máximo 16 mkgf. As respostas do XR3 ao comando do acelerador ficaram mais vivas e o carro dava mais prazer de ser dirigido.

Apesar de ser chamativo e bonito, o XR3 devia no quesito esportividade: Perdia nas arrancadas e velocidade máxima para o Gol GTS que lhe emprestava o motor. E esse motor chegou no mesmo ano de lançamento do Gol GTi, que arrasava o oponente da Ford quando o assunto era desempenho, pois o esportivo da VW fazia de 0 a 100 em menos de 9 segundos e superava fácil o 190 km/h de velocidade máxima.
Mas o XR3 nunca deixou de ser um carro charmoso, principalmente em sua versão conversível. No ano de 1993, foi apresentada a nova geração do Escort que havia sido lançada na Europa. O novo XR3, que o mercado carinhosamente apelidou de “Escort sapão”, por causa do tamanho exagerado da sua boca frontal, deixou o carro ainda mais bonito e trouxe consigo o motor 2.0 semelhante àquele utilizado pelo Gol GTI de 1989.
Com 116 cv e torque máximo que superava os 17 mkgf, o XR3 “sapão” acelerava de 0 a 100 km/h na casa dos 11 segundos e sua velocidade máxima se aproximava dos 190 km/h do adversário GTi que lhe cedeu o motor.. Um carro bem bacana que foi produzido no Brasil até 1995, quando o final da Autolatina lhe tirou o poderoso e nervoso coração que fazia dele um esportivo de respeito para a época.

Mas o belo Escort XR3 continuou o seu caminho no exigente mercado europeu. Aqui no Brasil, dirigi nas ruas e estradas, e pilotei nas pistas de testes todas as gerações do modelo, e guardo boas lembranças de todas as unidades desse respeitado esportivo da Ford que guiei.