Ford Escort Hobby: a resposta da marca aos primeiros 1.0

O Ford Escort foi lançado no Brasil em agosto de 1983 e causou frisson quando chegou aos concessionários da marca por seu estilo moderno “dois volumes e meio”, por seu acabamento esmerado, mecânica moderna e, principalmente, por ser o primeiro carro mundial da marca fabricado no Brasil, argumento em alta nos anos 80.

O Escort chegou e logo formou uma família de sucesso no Brasil (foto: Ford/divulgação)

Com carroceria de 2 ou 4 portas e nas versões Standart, L, GL e Ghia, o carro mundial da Ford oferecia 3 anos de garantia contra corrosão, 1 ano de garantia sem limite de quilometragem para motor e câmbio, além de ar-condicionado e teto solar opcionais para as versões GL e Ghia, itens bastante raros na categoria até então.

Carro revolucionou a marca por aqui, com motores 1.3 ou 1.6 (Foto: Ford/divulgação)

Com motores 1.3 acoplado a um câmbio de 4 marchas para a versão Standart (com a 5ª opcional) e 1.6 e caixa de 5 marchas de série para as versões L, GL e Ghia, inaugurou no Brasil o motor CHT, uma evolução dos Cléon-Fonte dos Ford Corcel e Del Rey, com melhor rendimento e maior torque em baixa rotação.

Projeto mundial, o Escort desbancava até o Corcel no quesito manutenção, e tinha até carroceria conversível (Foto: Ford/divulgação)

O Escort desbancava até mesmo o Ford Corcel no quesito manutenção, com trocas de óleo realizadas a cada 10.000 km (até então o padrão era 5.000 km), e sem a necessidade de troca de óleo do câmbio, que usava lubrificante do tipo long-life. Seus pneus eram exclusivos do Ford na medida 165SR13, garantindo o conforto em sua rodagem.

Frente era nova, com identidade visual próxima à dos Ford contemporâneos, vinha na linha 87 (Foto: Ford/divulgação)

Em 1986 foi apresentada a linha 87, com uma remodelação completa na dianteira, traseira e interior, muito mais modernos. Considerada uma nova geração, consolidou-se como um carro de categoria superior, sendo visto nas garagens das residências de classe média e alta. Com o novo modelo, a versão 1.3 foi extinta, e permaneceram apenas as versões 1.6 “civis” e o esportivo XR3, este com mais potência.

A tal linha 87 foi importante para o Escort nacional. Aqui, na foto, um XR3 já com motor 1.8, que chegou anos mais tarde (Foto; Ford/divulgação)

Além de ter sido pioneiro no Brasil por adotar o moderno sistema de ajuste automático da folga da embreagem nos idos de 1983, o Escort foi também o primeiro modelo a usar o reservatório de combustível fundido em plástico, com bons 65 litros de capacidade.

Parte interna mudava em quase tudo (Foto: Ford/divulgação)

Em 1989, as versões intermediárias e topo de linha ganharam o motor VW AP-1800, com melhor torque em baixa rotação e maior desempenho geral. O XR3 tinha exatamente o mesmo comando de válvulas do VW Gol GTS, e encarava, frente a frente, os modelos de igual ou maior cilindrada.

Em 1990, uma simples redução de 40% para 20% na alíquota do IPI vigente viabilizou o lançamento do primeiro carro popular dos novos tempos, e algumas semanas depois, era lançado o Fiat Uno Mille, o primeiro dos 1.0 modernos.

Uno Mille foi o pioneiro dos carros 1.0. Chegou num tempo recorde… (Foto: Cláudio Larangeira/Quatro Rodas)

Todas as marcas começaram a apresentar seus concorrentes, e em 1992, a GM foi a segunda marca a lançar o seu carro popular: o Chevette Junior. Bastante espartano e dotando de um projeto muito antigo em concepção e estilo, a Chevrolet usou de todos os artifícios para o tornar atrativo e barato.

A GM preparou um popular com aquilo que tinha na prateleira, nascendo o Chevette Junior (Foto: Chevrolet/divulgação)

A Volkswagen respondeu com o que tinha na prateleira, e no mesmo ano, veio com o VW Gol 1000. Os argumentos eram rasos, mas convenciam os clientes empolgados com o marketing forte e a novidade em si. Trazia um conjunto mecânico bastante antiquado, mas elogiável por sua confiabilidade e suavidade de funcionamento.

Gol 1000 foi o penúltimo da sequência de populares (Foto; Ford/divulgação)

Batizado de AE-1000, esse motor foi criado a partir do AE-1600, que por sua vez era a evolução do CHT da Ford, superando o projeto original. Tinha 997 cm³, 50cv a 5800 rpm e 7,3 kgfm de torque a 3500 rpm. Sua potência específica era superior à versão 1.6: 50,1 cv/litro ante 46,3 do 1.6. Ainda em 1992, no Salão do Automóvel daquele ano, a Ford apresentava a nova geração do Escort, muito maior e mais moderno.

A história do motor CHT, na verdade o Cléon-Fonte francês, começou abaixo dos 1000 cm³: ele foi crescendo com o tempo. Aqui um AE-1000, 1.0 do Gol 1000 (Foto: VW/divulgação)

Enquanto a concorrência entrava nesse promissor mercado, a Ford assistia tudo de camarote. A marca entendia que os motores de 1000 cilindradas seriam um modismo, e quando questionada pela impressa da época, afirmava que nenhum motor abaixo de 1600 cilindradas interessava à Ford e à seus consumidores.

Em 1993, graças a uma nova resolução do governo reduzindo a alíquota de veículos com motor 1.6 boxer e/ou de tração traseira (parece até que alguém foi privilegiado com isso, hein dona Volkswagen?), os veículos com esses motores passaram a ter a chancela de “popular”. Com isso, a GM tratou logo de substituir o GM Chevette Junior pelo GM Chevette L, com motor 1.6 e muito mais disposição, e a Ford lançou o Escort Hobby 1.6, usando a carroceria anterior e o classificando como seu carro de entrada.

Ainda com carroceria antiga, o Hobby 1.6 era a nova opção de entrada da linha (Foto: Ford/divulgação)

Mas, caro leitor, o mercado consumidor é também modista, e não entendia as vantagens de se ter um carro 1.6 com bom preço. A moda era os 1.0! A Ford entendeu que precisaria se adequar aos novos tempos pois seu Hobby 1.6 não era mais competitivo. No final de 1993 foi apresentado à imprensa o Ford Escort Hobby 1.0, e finalmente a Ford tinha seu representante dos carros de 1000 cilindradas.

Hobby passava a ter a opção de motor 1.0 ou 1.6, sempre básicos (Foto: Ford/divulgação)

Bastante espartano, ele também usava a carroceria da geração anterior, mas tinha como trunfo seu ótimo acabamento para a categoria, maior espaço interno e o status de ser um Ford Escort, carro há anos reconhecido como de maior status. Usava o mesmo motor AE-1000 do VW Gol, porém instalado na transversal e com outras calibragens de carburador.

Por mais simplificado que fosse, o Hobby tinha status de médio das demais versões do Escort, e alguns pontos superiores aos seus concorrentes (Foto: Ford/divulgação)

Tinha também 997 cm³, mas 52 cv a 5800 rpm e 7,4 kgfm de torque a 3600 rpm. Com um câmbio bem escalonado, o Hobby tinha desempenho bastante adequado à época: chegava aos 142 km/h de máxima, fazendo de 0 a 100 km/h em 19,9 segundos e percorrendo 10,4 km/l de na cidade e 14,7 km/l na estrada.

Hobby 1.0 compartilhava motor com o Gol 1000, mas recalibrado (Foto: Ford/divulgação)

Seu porta-malas de 305 litros esbanjava espaço para a bagagem, e seus 64 litros de capacidade do tanque garantiam uma autonomia de 940,8 km em estrada, possibilitando viagens tranquilas. E eram tranquilas mesmo, pois seu motor limitava as ultrapassagens nos tempos em que poucas estradas eram duplicadas. Calçando as rodas de ferro aro 13, os pneus 155/80 eram confortáveis nas vias esburacadas, mas tinham pouca área de contato com o solo. O Hobby pedia cautela nas frenagens de emergência.

Pneus com pouca área de contato com o solo e câmbio bem escalonado eram características do popular da Ford (Foto: Ford/divulgação)

Em 1994 a concorrência lançava novos modelos, como GM Corsa ou VW Gol geração 2 (bolinha), e vários importados desembarcaram em nosso solo, graças ao Dólar equiparado ao recém-lançado Real. Com isso, o Ford Hobby logo perdeu seu brilho. No mesmo ano, já em queda, a opção do motor 1.6 saía de cena. Em 1995, a Ford lançou o Fiesta, então importado da Espanha e com motor 1.3 de 62 cv. Com a relação estremecida com a Autolatina, preparava o Fiesta nacional em uma nova geração para o ano seguinte. A vida do Hobby complicou.

Mesmo no Hobby havia boa dirigibilidade e conforto (Foto: Ford/divulgação)

Em 1996, as últimas unidades do Hobby tinham melhor acabamento e calotas integrais. Como opcional, um pacote especial: rodas aro 14 com pneus 185/60 do antigo Ford Verona GLX, volante do Escort XR3, vidros verdes, retrovisores com comando interno manual, limpador e desembaçador do vidro traseiro. Popular recheado.

Encerrava-se assim, em 96, a década de sucesso daquela reestilização (chamada de nova geração) do Ford Escort e três anos depois da chegada do primeiro Ford 1.0 nacional. O modelo deu lugar ao Ford Fiesta nacional, apelidado carinhosamente de “chorão” ou “tristonho”, modelo que falarei em breve.

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.