Downsizing: esses pequenos, potentes e econômicos motores

A tecnologia que encontramos hoje sob o capô dos carros modernos já vem sendo desenvolvida há, pelo menos, vinte anos. É isso mesmo, motores de pequena cilindrada, compactos, mas capazes de desenvolver expressiva potência e elevado torque porque já estavam sendo pensados e desenvolvidos pela indústria automobilística mundial há muito tempo.

Como a tecnologia de materiais e de processos produtivos também caminha a passos largos, os engenheiros vieram viabilizando suas modernas ideias e seus conceitos com resultados que estamos colhendo hoje.

Esses motores pequenos e suas tecnologias já vinham sendo exploradas há pelo menos vinte anos (Foto: Stellantis/divulgação)

Mas não se assuste, já que na indústria automobilística as coisas acontecem assim mesmo: de maneira lenta, mas progressiva. As novas tecnologias não surgem da noite para o dia, mas são desenvolvidas com passos que apesar de parecerem passos de formiga, nunca param sua caminhada rumo ao desenvolvimento.

O turbocompressor em carros de produção, por exemplo, surgiu em 1962 com o Oldsmobile F-85 Turbo Jetfire, depois o Chevrolet Corvair Turbo em 1965, mas com mais expressividade nos anos 70, com o BMW 2002 Turbo em 1974 e o Porsche 911 Turbo no ano seguinte, além dos tradicionais Saab turbo da época. Mas sempre buscando alto desempenho sem considerar o consumo de combustível.

Primeiro carro com turbo de produção em série: Oldsmobile F-85 Turbo Jetfire (Foto: Oldsmobile/divulgação)

Quando é que você poderia imaginar um pacato popular de família utilizando o recurso do turbocompressor pra agilizar ultrapassagens e economizar na hora de abastecer? Pois bem, o nome disso é evolução.

Quem, como eu, teve a oportunidade de dirigir um Porsche Turbo 1975 e dirige hoje, por exemplo, um VW Jetta GLI, sabe do que eu estou falando. No Porsche, o motor não tinha tanta força nas baixas e médias rotações, mas quando o tal turbo entrava, você tomava um soco nas costas e o esportivo saía em uma aceleração assustadora. O carro não era nem um pouco amigável de ser dirigido, principalmente nos dias de chuva ou em locais com aderência menos favorecida.

O cara atrás do volante precisava entender muito da arte de pilotar. Em contrapartida, um Jetta GLI equipado com motor 2.0 turbo, com injeção direta, produz cerca de 230 cv (115 cv por litro), mas com uma docilidade que uma vovózinha de 80 anos seria capaz de dirigi-lo com total segurança e facilidade, impressionando até os mais assustados passageiros. Para corroborar o que digo sobre evolução, o Porsche Turbo 1975 tinha motor 3.0 de 260 cv, ou 86,6 cv por litro.

Num Jetta são mais de 115 cv/litro, contra 86 do Porsche: evolução (Foto: VW/divulgação)

Foi isso que a engenharia de nossa indústria fez ao longo desses 40 anos: tornou a tecnologia, antes só aplicável em esportivos, em algo que beneficia ao mais comum dos consumidores. Hoje, por exemplo, temos o motor 1.0 turbo de 3 cilindros utilizado no Virtus/Nivus/T-Cross, de 128 cv (álcool) com injeção direta de combustível, comandos de fase variável na admissão e no escapamento, que junta parâmetros distantes como baixo consumo e alto desempenho.

Tecnologia e seus milagres: 1.3 turboflex da Stellantis já consegue quase 140 cv/litro (Foto: Stellantis/divulgação)

Lembrando que esse mesmo motor, quando utilizado no Polo, produz saudáveis 116 cv com uma economia de combustível que chega a assustar. Lembram-se do passo de formiga lá de cima? Pois bem, ela tanto caminhou ao longo desses anos, que chegou a resultados expressivos. Para isso serve a alta tecnologia: conciliar uma unidade compacta e leve a um alto desempenho, baixo consumo e, consequentemente, menores emissões de gases poluentes. Melhor, impossível.

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Jornalista na área automobilística há 48 anos, trabalhou na revista Quatro Rodas por 10 anos e na Revista Motor Show por 24 anos, de onde foi diretor de redação de 2007 até 2016. Formado em comunicação na Faculdade Cásper Líbero, estudou três anos de engenharia mecânica na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e no Instituto de Ensino de Engenharia Paulista (IEEP). Como piloto, venceu a Mil Milhas Brasileiras em 1983 e os Mil Quilômetros de Brasília em 2004, além de ter participado em competições de várias categorias do automobilismo brasileiro. Tem 67 anos, é casado e tem três filhos homens, de 20, 31 e 34 anos.