Santa Matilde SM 4.1: um fora de série de sucesso nos anos 80

O SM 4.1 é um desses fora de série nacionais que tem uma bela história pra contar. Tudo começou em meados dos anos 70, quando o empresário Humberto Pimentel Fonseca, responsável pela Companhia Industrial Santa Matilde, que produzia vagões e implementos agrícolas, resolveu fazer um carro de bom desempenho e design exclusivo para uso diário. Foi um período em que o empresário amargou muito tempo na fila de espera de um Puma GTB, o que o levou a criar seu próprio carro.

Cansado de esperar seu Puma GTB ser fabricado, Humberto decidiu criar seu próprio carro, que foi desenhado pela filha de 19 anos (Foto: Santa Matilde/divulgação)

Tudo se encaixava: ele queria um carro exclusivo e tinha uma filha ainda jovem que adorava design automotivo. Diante do incentivo do pai, Ana Lídia Pimentel Fonseca, então com 19 anos, traçou as primeiras linhas do carro que a indústria do pai produziria. Em 1977, o carro foi mostrado pela primeira vez na Brasil Export 77, e, apesar da novidade causar alguma euforia no meio automotivo, a empresa Santa Matilde sentiu que o carro tinha que evoluir. No ano seguinte, em 1978, naquela edição do Salão do Automóvel, a versão finalizada do SM 4.1 foi finalmente apresentada e disponibilizada para venda ao público.

O carro foi apresentado oficialmente no Salão do Automóvel de 1978 (Foto: Santa Matilde/divulgação)

Assim como o Puma GTB, o SM utilizava toda a mecânica do Opala 6 cilindros, com motor 250 de 127 cv e 29 kgfm de torque máximo, e pesava pouco menos de 1.300 kg. Por dentro, o acabamento requintado ofertava ao seu feliz proprietário itens como ar-condicionado, direção hidráulica, levantadores elétricos dos vidros, além da forração em couro dos bancos. Um luxo para um esportivo fora de série da época. Em 1980, o esportivo produzido pela Santa Matilde deu mais um passo adiante: passou a ser oferecido com motor 250-S de 153 cv (ABNT), além das versões 4 cilindros a álcool (2.5 151 GM), que poderia ser aspirado ou turbo. Além dos novos motores, o SM 4.1 250 passou a ser oferecido também com o câmbio automático de 4 marchas herdado do Opala, o que tornou o esportivo ainda mais requintado para quem buscava conforto e visual exclusivo.

1984 surgia o SM conversível (Foto: Santa Matilde/divulgação)

Em 1984, a Santa Matilde, aproveitando o expressivo número de vendas, passou a oferecer o SM também na versão conversível, que utilizava o mesmo esquema de capota da Mercedes-Benz SL, com uma capota rígida e outra flexível em lona. Pesado, o desempenho do esportivo nacional era inferior ao do Opala SS-6: o carro acelerava de 0 a 100 km/h em cerca de 13 segundos e atingia uma velocidade máxima não muito superior aos 170 km/h. Se comparado a valores atuais, um desempenho próximo a de um carro popular 1.0, mas na época esse não era um valor assustador, pois correspondia ao de um carro de bom desempenho.

Apesar do grande 4.1 de Opala, o carro era pesado e lento (Foto: Santa Matilde/divulgação)

Infelizmente para esse carrão, a chegada do Gol GTi em 1988 e do Kadett GS em 1989, ambos com desempenhos bem superiores e custo bem mais baixo, fazia com que o consumidor da época desviasse o olhar do Santa Matilde e olhasse com mais interesse para os pocket rocket das multinacionais. No início dos anos 80 um SM 4.1 custava algo ao redor dos 20 mil Dólares da época, que se considerarmos a inflação do Dólar e do Real ao longo das décadas, podemos afirmar que o nosso esportivo custava cerca de R$250 mil atuais. Com esse valor, para que se tenha uma ideia, era possível comprar dois Opala na versão topo de linha Comodoro com motor 6 cilindros. Não era um carro barato, e aquele que desfilasse com um SM, podia se gabar de estar rodando com o carro mais caro de nosso mercado da época.

Caro, ele compensava com bastante luxo e era completo para a época (Foto: Santa Matilde/divulgação)

Em 1988, a fábrica parou de aceitar pedidos e produziu alguns carros até 1990, atendendo compras que já tinham sido feitas. No total, a Companhia Industrial Santa Matilde fabricou 937 unidades do SM em todas as suas variações. Nos anos seguintes, a Companhia se limitou a fornecer peças de reposição aos modelos já vendidos, além de aceitar encomendas de alguns poucos entusiastas do modelo. A última unidade definitiva foi feita em 1997 e já utilizava o aposentado motor 3.0 6 cilindros fabricado na Alemanha que equipava os Omega até 1993.

A produção em maior escala encerrou ainda no final dos anos 80, mas tiveram carros fabricados sob encomenda até 1997 (Foto: Santa Matilde/divulgação)

Uma curiosidade bastante interessante é que, no início dos anos 80, um SM foi levado para uma exposição automotiva em Paris, na França. Lá, um milionário empresário Norte-Americano ficou tão encantado e fascinado com o carro, que encomendou à Companhia Santa Matilde a fabricação de réplicas do lendário Ford Cobra. A empresa topou o desafio e produziu 57 unidades da tal réplica que, curiosamente, utilizava um motor Chevy V8 350, câmbio Dana de 5 marchas e eixo traseiro de Jaguar. Certamente, o SM pode ser considerado, assim como os Puma, um dos carros nacionais fora de série que marcaram nossa indústria automobilística

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Jornalista na área automobilística há 48 anos, trabalhou na revista Quatro Rodas por 10 anos e na Revista Motor Show por 24 anos, de onde foi diretor de redação de 2007 até 2016. Formado em comunicação na Faculdade Cásper Líbero, estudou três anos de engenharia mecânica na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e no Instituto de Ensino de Engenharia Paulista (IEEP). Como piloto, venceu a Mil Milhas Brasileiras em 1983 e os Mil Quilômetros de Brasília em 2004, além de ter participado em competições de várias categorias do automobilismo brasileiro. Tem 67 anos, é casado e tem três filhos homens, de 20, 31 e 34 anos.