Dando sequência na série de carros inesquecíveis, não poderia faltar uma Ferrari. Tive carros no Brasil e tive fora também. E ter uma (uma mesmo, aqui é “La Macchina”, a máquina, os puristas da língua que me perdoem) é um privilégio. Eu, modéstia a parte, por falta de uma tive três: uma 456, uma 355 e uma 360. Não eram carros de uso, eram carros de venda, de negócio. Sendo assim, todo cuidado é pouco, pois geralmente esse tipo de veículo não tem seguro. E se quebrar, a brincadeira sai cara, muito cara.

Hoje vamos falar da 456 1995, preta e caramelo, que até o jogo de malas original Ferrari tinha no porta-malas. Malas especiais, com o logo “456GT” gravado nelas, feitas sob medida para os sortudos compradores da “Macchina”. O painel e os bancos forrados em couro da melhor qualidade (Connoly, o mesmo encontrado nos Rolls-Royce) e o famoso câmbio manual com a grelha, para passagem de marchas sem erro. É um carro espetacular, mesmo depois de mais de 25 anos.

A história desse modelo começa pelo desenho do Studio Pininfarina, que foi responsável pelo último modelo da Ferrari com faróis escamoteáveis. É um carro grande, com 4,73 metros de comprimento e 1,92 metro de largura, quatro lugares – embora os traseiros sejam bem tímidos, pequenos até para crianças – e tem algumas curiosidades extras, além dos faróis escamoteáveis e das malas sob medida. No para-choque traseiro, por exemplo, há um defletor de ar móvel, que em alta velocidade (a máxima dela gira em torno de 300 km/h), melhora o comportamento do carro, aumentando a carga aerodinâmica na traseira.

A cereja do bolo é o motor, de 5.474 cc, de aspiração natural (claro!), com doze cilindros em V de 60 graus, 48 válvulas, posicionado na dianteira, como todo grã-turismo que se preze, e excelentes 442 cv e 56 kgfm de torque. Estamos falando de um carro feito em 1995, mas lançado em setembro de 1992, no Salão de Paris, ou seja, números pra lá de respeitáveis. Esse motor merecia ficar no meio da sala de qualquer entusiasta, pois além do barulho espetacular, é realmente uma obra de arte.

Para chegar aos 100 km/h, partindo da imobilidade, eram 5,2 segundos. E aqui o jogo é bruto! Esqueça esse monte de eletrônica dos carros modernos: a alavanca é pesada e faz aquele barulho metálico, mostrando que tem um legítimo conjunto de engrenagens mecânicas trabalhando lá embaixo, e não sensores e módulos. Falando em caixa, o motor é dianteiro, mas a caixa, de seis marchas. fica disposta na traseira, ligada ao motor por um transeixo.
É um carro usável, dócil apesar da potência e do propósito, e, claro, chama muita atenção, e, quando passa, deixa babando qualquer um que entenda um pouco de carro. É uma Ferrari! Entre o lançamento e o fim da primeira fase da 456 (são duas) foram produzidas 1.548 unidades. Ou seja, também é um carro raro. A minha, essa preta, usei por muito pouco tempo, pois – como disse acima – era para um carro que peguei para negócio, então ela foi vendida logo depois. Uma pancada num carro desses custa um caminhão de dinheiro, e o carro, por ter poucas unidades rodando por aí (mesmo lá fora), se desvaloriza brutalmente. Deixou saudades. Quem sabe um dia não nos reencontremos?
