Citroën C3 Exclusive: o moderninho de 20 anos atrás

Lançado no Salão de Frankfurt de 2001, o Citroën C3 chegou em nosso mercado em maio de 2003 como um compacto premium, esbanjando tecnologia e carisma, para brigar principalmente com o VW Polo, mas também roubar vendas do Honda Fit, que havia chegado apenas um mês antes. Tratava-se de um modelo muito bem equipado, sobretudo se considerarmos as opções concorrentes da época, e tinha como vantagem o motor 1.6 16v de série para suas duas versões, a GLX (R$32.350,00 na época, R$126.367 atualizados pelo IGP-M) e Exclusive (R$36.590 em 2003, R$142.929 hoje). Com produção nacional em Porto Real (RJ), o C3, inicialmente, teria cerca de 15 mil unidades feitas por ano, em previsão da marca. Número modesto para o segmento, mas alto para a Citroën.

Focando em oferecer bons equipamentos, desempenho atraente e estilo que cativava, o Citroën agradou em cheio um mercado ainda carente de tecnologias. Tinha como seu público-alvo os jovens de classe média e alta entre 20 e 35 anos, solteiros ou recém-casados, mas encantou logo o público feminino que o via como um hatch versátil e bonito. Com posição de dirigir elevada, direção extremamente leve, assistida eletricamente (um dos primeiros com tal tecnologia), e suspensão macia, ele passava a ser o queridinho das mamães de família ou dos filhinhos abastados. Agradava também o público masculino, que, nas versões mais completas, tinham um veículo potente e dinamicamente agradável.

A versão Exclusive, então mais completa da gama, era extremamente repleta de conteúdo: tinha ar-condicionado (opcional na GLX), bancos em veludo com apoios de braço dianteiros (couro como acessório), painel de instrumentos digital, cluster multifunções no centro do painel (com informações do rádio e horário), banco e cinto de segurança do motorista com ajustes de altura, faróis de neblina, freios ABS com EBD e BAS (sistema auxiliar de frenagem que mantém a pressão na pinça de freio constante), faróis com regulagem elétrica de altura do facho, retrovisores com ajustes elétricos (opcional na GLX), travas elétricas (também a parte na GLX), vidros elétricos nas quatro portas com comando one touch e antiesmagamento, sem contar as duas bandejas atrás dos bancos dianteiros, perfeitas para lanchinhos da criançada durante as viagens.

Como opcionais, o C3 Exclusive podia ter ainda airbag para motorista e passageiro dianteiro (oferecidos separadamente), rádio com CD player, comandos de som próximos do motorista (curiosamente instalados na ponta da alavanca do limpador de parabrisas), além de belas rodas de liga-leve aro 15. Fruto de um projeto moderno, ele era um carro sempre dotado de itens interessantes de segurança e comodidade, a exemplo dos freios a disco nas quatro rodas, barras de proteção lateral nas quatro portas, portas traseiras com travas especiais para crianças, além da coluna de direção ajustável em altura e profundidade, o que fazia toda a diferença na sua condução.

O motor era o bom 1.6 16v EC5, disponível até hoje na linha C3, C4 Cactus e Peugeot 208/2008. Ainda movido apenas à gasolina (flex só em 2005) e feito na França, fornecia 110 cv a 5750 rpm e 15,6 kgfm de torque a 4000 rpm, permitindo que o hatch franco-fluminense, que não passava dos 1.080 kg, corresse até os 196 km/h, acelerando de 0 a 100 km/h em 9,8s. Números expressivos até hoje no mundo dos hatches compactos premium.

Seu consumo médio era de 8 km/l de gasolina na cidade e 13,5 km/l na estrada, que poderiam variar de acordo com a operação das 5 marchas manuais com escalonamento específico para o Brasil (primeiras três marchas encurtadas, 4ª e 5ª alongadas e um diferencial 12,5% mais curto, em prol do desempenho e também silêncio em maiores velocidades).

Aliás, a suspensão do carro nacional também tinha outro ajuste: era 14 mm mais alta e com amortecedores dotados de stop hidráulico. O jogo de pneus, mesmo para as duas versões (Goodyear 185/60R15), era outra personalização para nosso país e suas vias esburacadas. Ainda assim, o modelo tinha excelente estabilidade, aguçada pelos bancos mais firmes e com maiores abas laterais (exigências do consumidor brasileiro à época). A Citroën falava ainda em um carro nacional mais silencioso, graças ao maior uso de materiais fonoabsorventes.

Por outro lado, mesmo com uma tropicalização extensa com o uso de 50 protótipos e mais de 500.000 km, a baixa durabilidade dos componentes da suspensão do C3 incomodava, com barulhos constantes de metal contra metal e baixa durabilidade dos batentes. Em alguns casos, era necessário substituir os tais batentes de 30 em 30 mil km. Assim como outros carros de projeto francês da época, e anteriores, o hatch sofria com nosso piso e condições de rodagem.

O C3 era um carro bastante moderno para 2003. Tinha painel de instrumentos digital eficiente, com velocímetro, hodômetro total e parcial ao centro, conta-giros em LED acima, e marcadores de combustível e temperatura, também digitais, dispostos em barrinhas nas laterais. Com a iluminação em tom laranja, era um charme, e contava com função “black panel”, permitindo que apenas informações essenciais permanecessem acesas caso o motorista preferisse (ideal para viagens a noite, por exemplo). Já a posição dos acionadores dos vidros elétricos, que não eram iluminados, era bastante incômoda: ficavam no console central.

Outra primazia do C3 para o mundo dos hatches da época era o que a Citroën chamava de multiplexagem, com menor uso de fios e conexões para os sistemas do carro (cerca de 30% a menos), e apenas três redes elétricas independentes para o veículo todo, controladas por vários módulos e bastante eletrônica embarcada, o que, na teoria, facilitava os diagnósticos e reparos de possíveis problemas do carro. Foi um dos primeiros do segmento a contar ainda com limpadores de parabrisas com função de intermitência variável automática (trabalham de acordo com a velocidade do carro), e corte automático de todos os equipamentos elétricos e eletrônicos depois de 30 minutos com o motor desligado.

E, para a época, convencia o uso da direção com a assistência elétrica ao invés da hidráulica. Lembrando que, assim como nos carros atuais, no Citroën ela já era variável de acordo com a velocidade, deixando o volante macio e leve nas manobras, e mais rígido e preciso na condução. Além dos freios com sistema ABS e distribuição eletrônica da força de frenagem, o C3 estreou na categoria a tecnologia de assistência em frenagens de emergência (caso o sistema detectasse um movimento de frenagem rápida do motorista, podia aplicar força adicional nos freios para ajudar na desaceleração do carro). Outra modernidade interessante era a ativação automática do pisca-alerta em desacelerações fortes, sinalizando os demais veículos que seguiam o C3 na via.

Sua construção, moderna para a época, já previa “praticidades” em caso de colisões (sua frente era projetada para minimizar os danos em choques de baixa velocidade), sem contar a maior preocupação com a segurança dos ocupantes: mais de 40% dos aços do carro eram de alta-resistência, o que lhe garantiram boas notas em testes de colisão mundo afora. Na Europa, airbags laterais e até de cortina, sem contar o controle eletrônico de estabilidade (ESP), eram oferecidos em versões superiores, mas tais itens nunca chegaram aos carros daqui. Ainda assim, para o mercado automotivo brasileiro do início dos anos 2000, era um carro bastante evoluído e moderno.

Seguindo na linha do tempo, o C3 logo recebeu motor 1.4 (inicialmente importado a gasolina, depois nacional a gasolina e por último nacional flex), tendo inclusive a opção da versão Exclusive equipada com ele a partir de meados de 2005. Em 2008, toda a linha sofreu seu primeiro facelift, com nova grade, para-choques novos e novas rodas/calotas, além de outras mudanças menores. Em 2010, atingiu o recorde de vendas no país, com 39.930 emplacamentos, enquanto para 2011 vinha o famigerado câmbio automático de 4 marchas (AL4) como opcional para os 1.6 16v topo de linha. Depois, na linha 2013, veio a nova geração, totalmente inédita, mas usando a mesma base PF1 de antes. Dela, eu falarei mais pra frente…

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.