(Avaliação) Fiat e-Scudo: vale a pena comprar um furgão 100% elétrico pra trabalhar? Descubra!

Possivelmente, melhor que os carros elétricos, são os furgões e caminhões elétricos. Esses trocam os poluidores e, geralmente, barulhentos motores a diesel pelo silêncio, suavidade e lado ecológico da propulsão elétrica, sem contar que, pelo menor custo de manutenção, acabam economizando uma boa grana das empresas e frotistas que os possuem. Só vantagens? Calma lá: além de custarem bem mais que seus equivalentes a diesel, para uma recarga eficiente, os utilitários elétricos também precisam de certo planejamento de uso. Não é uma brincadeira barata, mas, a longo prazo, ela acaba se diluindo nas economias com combustível e manutenção.

Antes, vamos falar um pouquinho do Scudo elétrico (sobre o turbodiesel já falamos aqui): é quase um carro de passeio com mais de 6 m³ de espaço no baú e que pode carregar mais de 1 tonelada. Por utilizar uma plataforma modular de carros de passeio, e ter esquemas de suspensões e freios bastante refinados, é um furgão com dirigibilidade excelente, e conforto digno dos melhores SUVs. Além da maciez e suavidade tradicionais dessa linha de furgões, é vantagem do elétrico ainda uma estabilidade bastante apurada (baixo centro de gravidade, pelo peso das baterias no assoalho), e sobra silêncio e bem-estar a bordo.

Além de não ter câmbio, para a alegria do pé esquerdo de quem dirige (assim cansa muito menos), o elétrico ainda brinda o motorista e mais dois passageiros com direção elétrica, vidros e travas elétricas, retrovisores com ajustes elétricos, ar-condicionado regulável em graus célsius, piloto automático, luzes de neblina, comandos de som no volante, multimídia touchscreen com conexões com celular, câmera de ré, acendimento automático dos faróis, sensor de chuva, freio de mão eletromecânico e até navegador GPS próprio. Em resumo, é muita comodidade e o menor esforço durante o trabalho.

Apesar disso, seu preço é bem maior que o da versão turbodiesel, e a autonomia cai pela metade (Foto: Lucca Mendonça)

Apesar dessas vantagens, e da alta força imediata, o Scudo elétrico demanda um investimento bem maior na hora da compra: R$334.990, contra R$207.990 de um similar turbodiesel. E, mesmo com a eficiência do modo de condução econômico e regeneração de energia configurável em frenagens e desacelerações, essa versão com baterias de 75 kWh dificilmente consegue rodar mais de 350 km com uma carga completa. Um Scudo furgão turbodiesel tem tanque grande e motor econômico, então dobra essa autonomia com facilidade: roda mais de 700 km/tanque.

Mas, pra quem trabalha com esses tais furgões comerciais, é muito importante também o quanto eles custam na hora das revisões, ou na hora de abastecer. Não adianta ter a van mais completa, confortável e prazerosa de guiar do mundo, se a cada manutenção, o proprietário tiver que deixar mais da metade dos seus lucros na concessionária. Também pouco vale um que bebe mais diesel que os caminhões grandes: assim, haja amizades com os frentistas de postos. Por isso, veremos na ponta do lápis os custos com manutenção, consumo, e se vale pagar a diferença dos R$127 mil entre Scudo elétrico e Scudo turbodiesel.

Começando pela manutenção, o elétrico segue o mesmo cronograma do turbodiesel, ou seja, com revisões programadas a cada 20 mil km. Como um motor elétrico de carro demanda serviços mínimos, praticamente nulos, e nos EVs não há câmbio, não há muito o que fazer nas revisões além de mexer nos pneus, freios e suspensões, além de pormenores como o filtro de ar da cabine. A diferença é gritante: segundo números do site do Grupo Sinal, um dos maiores concessionários Fiat de São Paulo, até os 100 mil km, um e-Scudo custa R$4.100 para ser mantido (R$664 pela 1ª, 2ª, 3ª e 5ª revisões, e R$1.444 pelo 4º serviço). Falando em custo por km rodado, são cerca de 4 centavos.

Níveis de conforto e bem-estar a bordo são parecidos entre o elétrico e o turbodiesel, só que no e-Scudo não há câmbio, nem embreagem, e muito menos um motor a combustão fazendo barulho lá na frente (Foto: Lucca Mendonça)

No caso do turbodiesel, esse valor total mais do que dobra: chega aos R$9.556 (R$1.608 pela primeira revisão, R$1.820 pela segunda, R$2.536 pela terceira, R$1.984 pela quarta e R$1.608 pela quinta). São 9 centavos a cada km rodado, claro que eliminando o combustível (e eletricidade no caso da e-Scudo). Ao menos, as versões turbodiesel, importada do Uruguai, e elétrica, feita na França, podem usar o mesmo jogo de pneus, então esse é um gasto comum para toda linha Scudo. A grande maioria dos componentes de suspensão, direção e freios também é compartilhada nos dois furgões.

Agora, quando o assunto é encher o tanque, ou as baterias, ainda temos uma enorme diferença entre os gastos. Ainda dentro do período de 100 mil km, o mesmo que baseou as manutenções, podemos dizer que o Scudo elétrico é três vezes mais em conta na hora de “reabastecer”: considerando que, com cada carga completa, o furgão rode em média 300 km, e colocando na conta o preço médio nacional do kW (R$0,73), chegamos na casa dos R$20.000 finais (considerando 350 recargas completas). Já no turbodiesel, supondo que seu consumo seja de mais ou menos 10 km/l, e com o preço médio do diesel a R$6,00 o litro, no final, o dono precisará desembolsar quase R$60.000 nos postos (145 tanques cheios).

É óbvio que, dependendo do estilo de condução, o alcance ou consumo serão bem diferentes (vazias, a e-Scudo pode rodar até 350 km, enquanto uma Scudo Furgão turbodiesel consegue médias bem acima dos tais 10 km/l), mas a proporção não muda tanto. Não dá pra deixar de comentar que, no caso do elétrico, as paradas para recarga das baterias serão bem mais frequentes, e muito mais demoradas (pelo menos 45 minutos para 80%, isso nos eletropostos super rápidos), problema que se torna mais grave quando lembramos da infraestrutura ainda complicada para recarregar carros elétricos no Brasil.

Não tem pontos de recarga pra todo mundo, alguns não funcionam…enquanto, no furgão turbodiesel, qualquer posto minimamente decente pode abastecê-lo com diesel S-10 em 5 minutos ou menos. Para facilitar um pouco esse processo, a Fiat oferece de série no Scudo elétrico um carregador portátil residencial, daqueles para tomadas de 220V, que pode amenizar o problema. Só que a demora quando se usa esse método é certa: de 0 a 100%, são cerca de 45 horas!

Seus irmãos também elétricos da Peugeot e Citroën trabalham bastante por aí, especialmente na entrega de encomendas (Foto: Lucca Mendonça)

Dá para usar o furgão elétrico da Fiat como meio de transporte principal e recarregando nas tomadas residenciais tranquilamente, desde que não haja pressa. Com essa unidade prata avaliada por um mês, rodamos pouco menos de 2.000 km, entre cidade e estrada, com ela vazia ou cheia (móveis, almofadas, materiais para construção e outras tralhas), sem gasto algum com a recarga das baterias: tendo paciência, as baterias recuperavam suas energias na tomada 220V da garagem, com o carregador portátil. E, no nosso caso, graças as placas fotovoltaicas, a energia que o furgão “puxava” era recuperada com a tecnologia da energia solar.

Quando foi preciso pegar estrada (onde o furgão elétrico rende entre 230 e 290 km, dependendo do pé e do peso a bordo), um supermercado próximo oferecia um ponto de recarga sem custo algum, durante o período de compras. Bem mais rápido, ele não levava mais do que 3 horas para “abastecer” as baterias do furgão por completo, assim permitindo viagens maiores. Bingo! Se o caso fosse de uma Scudo turbodiesel, não tinha jeito: os quase 2 mil km seriam queimando óleo diesel, ao custo dos tais 6 Reais o litro, ou mais. Valeu a pena, e, no final do teste, a média total foi de 4,7 km/kWh, o que significa pouco mais de 350 km de alcance por carga nesse ritmo.

Tirando alguns outros percalços dos veículos elétricos, como a durabilidade das baterias a longo prazo (a Fiat dá garantia de oito anos só para elas), o descarte das acumuladoras depois do fim de vida útil do furgão, ou até mesmo os problemas com a origem difícil dos seus componentes (o lítio, por exemplo), é difícil argumentar contra as vantagens de se ter um Fiat Scudo elétrico a um igual turbodiesel. Porém…

São muitas vantagens da versão elétrica, só que, em alguns casos, o furgão turbodiesel pode ser mais interessante (Foto: Lucca Mendonça)

É mais indicado partir para um Scudo turbodiesel: se você realmente precisa rodar muito, e sempre, sem ter tempo de esperar uma recarga das baterias; se não quer investir tanto dinheiro em um veículo comercial elétrico desses (os turbodiesel são bem mais em conta, especialmente usados); ou se simplesmente prefira apostar na motorização tradicional, com câmbio manual e afins. A escolha vai depender dos gostos e necessidades, porque, para o bolso, recuperar a diferença de preço entre os dois furgões não é tão complicado assim.

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Ficha técnica:

Concepção de motor: elétrico, dianteiro, refrigeração líquida de baterias e propulsor, conjunto de baterias de íon-lítio instalado no assoalho, capacidade de energia de 75 kWh
Carregamento: entrada Tipo 2, recarga via eletropostos (de 1h30min. a 11 horas, dependendo da força), Wallbox (de 7 a 11 horas) ou tomadas 220V residenciais (cerca de 48h). Regeneração de energia durante a condução
Potência: 136 cv
Torque: 26,5 mkgf
Suspensão dianteira: independente, McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: independente, braço triangular arrastado
Direção: com assistência eletro-hidráulica progressiva
Freios: discos ventilados nas quatro rodas
Pneus e rodas: Michelin Agilis 3, medidas 215/65 e rodas de aço com calotas centrais aro 16
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 5,31 m/1,92 m/1,93 m/3,27 m
Baú: 6.100 litros
Alcance: 330 km (ciclo WLTP) e 289 km (ciclo PBEV)
Peso em ordem de marcha: 2.053 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 11,9 segundos
Velocidade máxima: 130 km/h (limitada eletronicamente)
Preço básico: R$334.990

Itens de série:

Luz de leitura dianteira individual, Protetor de cárter, Ganchos para amarração de carga na cabine, Apoio de braço para motorista, Sensor de chuva, Iluminação do porta-luvas, Entrada USB carregamento de dispositivos no painel, Porta objetos nas portas e painel, Compartimento abaixo do banco do passageiro, Freios Regenerativos, Para-sóis biarticulados, Faróis de neblina, Piloto automático, Tomada 12V, Indicador de manutenção do veículo, 3 Modos de Condução: ECO – Melhora a autonomia || Normal – Ideal para o uso diário || Power – Performance para cargas, Alerta do cinto de segurança do motorista e passageiros da frente , Painel de instrumentos “e-cluster 3,5 Matrix”, Banco do motorista com regulagem de altura, Banco do motorista com regulagem lombar, Computador de bordo, ABS, Freio a disco nas 4 rodas, Porta lateral corrediça, ESP – Controle Eletrônico de Estabilidade, 3 Assentos (1 motorista + 2 passageiros), Sistema de monitoramento de pressão dos pneus, Luz diurna de segurança – Day running lights (DRL), Luzes internas no compartimento de carga, Chave tipo canivete com telecomando, Faróis com regulagem elétrica de altura, Sensores de estacionamento traseiros, Freio de mão eletromecânico, Ar condicionado, Central Multimídia com tela de 7 com touchscreen, bluetooth, compatível com Android Auto e Apple Carplay, Câmera de ré 180º, Proteção interna lateral, Travamento central + 2 chaves com Telecomando, Luz interna no compartimento de carga com temporizador, Direção Eletro-hidráulica, Assistente de partida em rampa (Start Assist), Retrovisores externos elétricos, Porta-copos no painel, Piscas laterais , Tomada 12v no compartimento de carga, Apoios de cabeça dianteiros com regulagem de altura (3), Airbag duplo frontal com 3 pontos de proteção, Comandos de rádio no volante, Acendimento automático dos faróis por sensor crepuscular, 4 alto-falantes, Travamento seletivo do compartimento de carga, Portas traseiras com abertura 180°, Volante com ajuste de altura e profundidade, Terceira luz de freio, Cabo Modo 2 para carga de emergência (tomadas 220V), Vidros verdes, Antena no teto, Vidros elétricos dianteiros com one touch, Indicador de fadiga “Coffee Cup Alert”, Divisor em chapa entre a cabine e o compartimento de carga (superior + inferior), Placa protetora de baterias, Limitador de velocidade

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.