(Avaliação) BYD Dolphin em detalhes: o elétrico mais vendido do Brasil tem sucesso merecido?

A BYD não investiu no Brasil por brincadeira, definitivamente. Fábrica comprada pra lá, novas tecnologias de baterias pra cá, e, no meio desse caminho, veio o Dolphin, elétrico que tem vendido melhor que muito nacional flex por aí. O maior motivo para seu sucesso, sem dúvidas, é a relação custo X benefício que lhe rendeu até alguns aplausos de quem assistia seu lançamento nacional, em São Paulo: o carro foi anunciado por R$149.800, preço que continua valendo até hoje.

Dando trabalho

Mas vamos ao carro. Ele continua mais falado que notícia ruim, ainda que, de ruim, esse carinha não tenha (quase) nada. Seu preço obrigou as rivais (Renault, JAC e Caoa-Chery) a baratearem seus compactos elétricos, que são menores, mais simples e enxutos que o BYD em todos os sentidos (leia aqui a avaliação do Kwid E-Tech e aqui a do E-JS1), enquanto até no visual, inspirado em um golfinho, seguindo a linha “marítima” da fabricante chinesa, o Dolphin tenha encontrado seus fãs. Tem quem goste, e quem não, até porque beleza é relativa, mas uma coisa é fato: é um carro moderno e discreto.

Concorrentes como o Renault Kwid E-Tech (esquerda) e o JAC E-JS1 (ao centro) tiveram que ficar mais baratos. Por coincidência, encontrei dois de seus principais rivais em um ponto de recarga (Foto: Lucca Mendonça)

Dono de linhas que casam bem elementos arredondados com partes mais “quadradas” por fora, internamente temos uma bela escola aos estudantes mais criativos de design: uma profusão de diferentes materiais (todos de boa qualidade, vale falar) e formatos, em um layout ainda bastante funcional. Isso de ousar sem perder a praticidade é uma das virtudes da BYD, desde os grandes como o Tan EV, até esses carros menores. E, com muito espaço para cabeça, ombros e pernas, os passageiros se acomodam como em um bom SUV.

Lembra um tanto o conceito do finado Fit, num esquema mesclando hatch, monovolume, minivan e até um tiquinho de crossover: o Dolphin vai além do Honda com assoalho totalmente plano e a posição de guiar mais baixa, porém ainda ereta, e que não cansa graças, entre outros, a comodidade dos apoios de braço da porta e console. Nem os maiores motoristas se incomodam com os bancos inteiriços, só que podem fazer falta os ajustes de altura dos cintos dianteiros, que são bastante altos em suas fixações originais.

Espaço de sobra

Mas, detalhes a parte, não dá pra contrariar a opinião alheia: o Dolphin é bastante espaçoso e confortável, com um chamativo vão entre a primeira e segunda fileira, teto alto e plano pra ninguém bater a cabeça, bancos com espuma de espessura correta (sem contar o bom posicionamento do assento e encosto da segunda fileira) e com uma sensação de espaço ampliada graças a generosa área envidraçada. Nesses casos, ter janelas grandes e de sobra conta muito: além do melhor bem-estar de quem viaja nele, o interior fica melhor iluminado e, de quebra, o motorista consegue enxergar melhor o trânsito.

Para as bagagens, outra boa notícia, já que os bons 345 litros do porta-malas conseguem dar conta das tralhas dos cinco ocupantes. É até um carro modular, dentro dos seus limites: rebatendo o encosto inteiriço do banco traseiro, foi possível acomodar duas bicicletas deitadas, uma em cima da outra, durante um dia da semana de testes. Nada mau.

Esmerado

Ao volante, aliás uma peça de ótima pega e com ergonomia elogiável, mesmo sendo limitado apenas pelo ajuste de altura, há muito silêncio no Dolphin. Um nítido bom trabalho da engenharia da fabricante chinesa, que não economizou nas mantas acústicas e nem na espessura dos vidros (o que faz uma tremenda diferença para o silêncio interno). Ter um carro elétrico barulhento, definitivamente, não é nada agradável, especialmente nos casos desse BYD, que já tem ganhado as ruas dos centros urbanos como carros por aplicativo de Uber, 99 e afins.

Para esse tipo de uso mais profissional, inclusive, ele serve como uma luva: é espaçoso, seguro, confortável, prático, cheio de porta-trecos, ainda que falte as saídas de ar-condicionado na parte traseira. Lá também há uma porta USB, no final do console central. Mas, se comparado aos demais hatches compactos do mercado, e até a alguns SUVs menores, ele supera a “concorrência” sem pestanejar, com vigor.

O Dolphin é um carro que não revoluciona na construção, e, mesmo com preço bastante atraente para os tempos atuais, não mostra economias aparentes de projeto. Basta dar uma volta em seu exterior para notar a boa montagem das peças da carroceria, sem recortes “porcos” de lata nem soldas aparentes e mal feitas. No interior, nada a reclamar: o acabamento é realmente esmerado, sem materiais de baixa qualidade ou rebarbas, por exemplo. Há partes macias em toda a parte de baixo do painel, assim como nas laterais de portas (inclusive onde o motorista apoia o corpo, próximo das colunas), e a decoração é de bom gosto, com partes cromadas e claras.

Calibrações

Como destaque, freios a disco bastante precisos e eficientes, bem como suspensões com calibração bastante macia para absorver ondulações do piso, só que sem comprometer o nível de estabilidade e segurança do carro. Molas e amortecedores com regulagem apurada assim já foram elogios no seu irmão maior Yuan Plus, porém, no Dolphin, o conjunto parece penar um pouco mais com nosso piso ruim. Com curso curto, os amortecedores podem bater seco dependendo do impacto (buracos, principalmente), e, no carro avaliado, com menos de 7 mil km, o conjunto dianteiro já produzia alguns ruídos. Por outro lado, além da solidez ao volante, seu raio de giro é pequeno, o que faz qualquer manobra, mesmo que apertada, mais fácil.

A direção elétrica, se comparada a de outros BYD anteriores, já está mais evoluída e atendendo os gostos do brasileiro (leve nas manobras e direto na condução), na mesma toada dos pneus. Falando nisso, é importante lembrar que o Dolphin pode até se aventurar em alguns off-roads por aí, como provam alguns vídeos e fotos de proprietários mais ousados colocando seus carros no barro pesado, porém ele não tem a melhor fórmula para isso: não é leve por conta das baterias, tem apenas 12 cm de altura do solo, um grande entre-eixos de 2,70 m, pequenos ângulos de ataque e saída e usa pneus totalmente urbanos, que são bastante macios, vale falar. Terra e barro não são os habitats dele.

Como anda e o quanto gasta

São 95 cv de potência que saem de um motor elétrico dianteiro do Dolphin, mas que brinda qualquer um com seus mais de 18 mkgf de torque imediato, o que é perfeito para arrancadas e ultrapassagens, por exemplo. Ele não é um carro para surpreender no desempenho (isso é tarefa da versão Plus com mais de 200 cv), por isso concentra suas forças na eficiência energética e menor consumo de eletricidade.

Missão do Dolphin de 95 cv não é ser esportivo, só que dá para se divertir a bordo dele (Foto: Lucca Mendonça)

Dentre os três modos de condução, no mais esperto, o Sport, o carro até arranca alguns sorrisos de quem está guiando pela força desde a menor pressão no acelerador, só que esse não é seu objetivo. Apesar disso, é certo que lento ele não é, tanto que consegue números similares de aceleração se comparado aos principais hatches compactos 1.0 turbo do mercado brasileiro, e até supera alguns SUVs compactos. Boa surpresa foi poder acelerá-lo até os 160 km/h, velocidade mais do que suficiente pra qualquer via brasileira. Ele não sofre com pouca máxima, como acontece com o JAC E-JS1 e seus 110 km/h, por exemplo.

Ele é mais rápido que alguns SUVs compactos e consegue viajar a até 160 km/h (Foto: Lucca Mendonça)

O Dolphin é um carro que consegue ser eficiente com os 45 kWh de capacidade das baterias, ainda mais no modo ECO, quando ele vai além do alcance pelo ciclo INMETRO (cerca de 290 km). Na verdade, ele chega a se aproximar mais do que informa o ciclo WLTP europeu (400 km). Apesar de o computador de bordo informar o consumo em kWh a cada 100 km, o que dificulta a conversão para o nosso padrão km/kWh, a média final, entre cidade e estrada, foi de aproximadamente 8,5 km/kWh (autonomia total de 381 km nesse ritmo).

Baixo consumo de energia, modo ECO de condução e só 0,30 de coeficiente de arrasto (Cx) permitem que o Dolphin vá bem além do alcance do ciclo PBEV nacional (Foto: Lucca Mendonça)

Em situações mais desfavoráveis para um elétrico, com calor escaldante, ar-condicionado ligado “no último”, modo Sport e quatro pessoas a bordo na estrada, as médias dificilmente baixaram de 6,5 km/kWh, o que, ainda assim, permitiriam que o Dolphin percorresse pelo menos 270 km. Por outro lado, em momentos de maior eficiência, deu para calcular um alcance de mais de 400 km, principalmente no uso urbano, onde a regeneração de energia ajuda. Ela, que é ajustável em dois níveis, poderia ser bem mais forte para reaproveitar melhor a cinética, inclusive. O nível mais forte ainda é discreto e sutil.

Porta de recarga fica do lado do passageiro dianteiro,
e a recarga não demora (Foto: Lucca Mendonça)

A recarga, até pelas baterias não muito grandes e com alta tecnologia, não costuma demorar tanto, e pode ser feita em fontes rápidas de até 60 kW (de 10 a 80% em 35 minutos, segundo a BYD). O mais usado durante os dias de testes com o carro foi a recarga em tomadas residenciais de 220V, com recuperação de 50% da carga em cerca de 9 horas, graças também ao carregador portátil eficiente que ele traz de série. Na situação de chegar em casa do trabalho e deixa-lo carregando durante a noite de sono, dia seguinte já é possível rodar pelo menos 130 km nas condições mais críticas. Ótimo!

Recheio

A grande sacada do Dolphin é ter bastante conteúdo por um preço competitivo. Ele, por exemplo, não perde a enorme multimídia rotativa no centro do painel (marca registrada dos BYD), que já vem com Spotify e um bom navegador GPS conectado com a internet, similar ao Waze. Todas as luzes são em LED, os bancos tem acabamento que simulam couro, o painel de instrumentos é digital, assim como o ar-condicionado automático, que pode ser ativado pela chave graças a função de partida remota do motor elétrico, e essa versão de menos de R$150 mil já traz até câmeras 360º com função de visualização do carro em 3D. Muita coisa importante, e valiosa, já vem de série. Todos os itens estão depois da ficha técnica, mais abaixo.

Sucesso?

O tal do Golfinho da BYD tem motivos de sobra para vender o quanto vende. Novos tempos… (Foto: Lucca Mendonça)

Cada vez mais, o brasileiro quer ter um carro elétrico para chamar de seu. E, pelo bom custo X benefício, fora as outras vantagens contadas aí em cima, aliadas a rede de concessionárias BYD que cresce cada vez mais, bastante propaganda e vantagens no pós-venda, como 5 anos ou 100 mil km de manutenções preventivas gratuitas, não é difícil notar o motivo do sucesso do Dolphin no mundo dos elétricos. A concorrência que se vire. Ou melhor…já se virou.

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Ficha técnica:

Concepção de motor: elétrico, dianteiro, refrigeração líquida de baterias e propulsor, conjunto de baterias de lítio-ferro-fosfato instaladas no assoalho, capacidade de energia de 44,9 kWh
Carregamento: entrada Tipo 2, recarga via eletropostos (de cerca de 50min. até 03h30min., dependendo da força), wallbox (cerca de 03h30min.) e tomadas 220V (cerca de 20h00min). Regeneração de energia durante condução
Potência: 95 cv
Torque: 18,3 mkgf
Suspensão dianteira: independente, McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: eixo de torção com molas helicoidais
Direção: com assistência elétrica progressiva
Freios: discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira
Pneus e rodas: Chao Yang Radial RP76, medidas 195/60 e rodas de liga-leve aro 16
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,12 m/1,77 m/1,57 m/2,70 m
Porta-malas: 345 litros
Alcance: 400 km (ciclo WLTP) ou 291 km (ciclo PBEV)
Peso em ordem de marcha: 1.405 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 10,9 segundos
Velocidade máxima: 160 km/h (limitada eletronicamente)
Preço básico: R$149.800

Itens de série:

Chave presencial, Assistente de Frenagem Hidráulico (HBA), Sistema de Controle de Tração (TCS), Desaceleração Controlada para o Freio de Estacionamento (CDP), Controle Dinâmico do Veículo (VDC), Assistente de Partida em Subida (HHC), Frenagem Confortável (CST), Sistema de Limpeza de Disco de Freio (BDW), Freios Regenerativos Cooperativos Inteligentes, Controle de Cruzeiro (CC), Sensores de Estacionamento Traseiro, Câmera 360º panorâmica em HD, 6 Airbags, Cintos de segurança dianteiros com pré-tensionadores, Lembrete de Uso do Cinto de Segurança (todos os passageiros), Sistema eletrônico Antifurto, Sistema de Monitoramento de Pressão dos Pneus (TPMS), Modo de Condução Neve/ECO/Normal/Sport, Direção elétrica, Volante com ajuste manual de altura, Volante de 3 Raios multifuncional, Painel de Instrumentos LCD com 5”, Bancos com revestimento em material premium sustentável, Ajuste de altura do banco do motorista, Sistema ISOFIX de fixação de cadeirinha infantil, Espelho retrovisor interno com função antiofuscante manual, Parasóis dianteiros com espelho de beleza e iluminação, tomada 12V, 3 portas USB (duas dianteiras e uma traseira), Ar-condicionado automático digital, Sistema inteligente de purificação de ar, tela central flutuante rotativa de 12,8”, Faróis full LED, Grade dianteira com iluminação em LED, Luz de rodagem diurna em LED, Sensor crepuscular, Lanterna traseira de neblina, Brake light em LED, Lanternas traseiras em LED, Iluminação de leitura interna em LED, Vidros elétricos nas quatro portas (função Onetouch para o motorista), Espelhos retrovisores externos com ajustes elétricos e desembaçador, Luzes de poça nos retrovisores, Rodas de liga-leve aro 16, Antena tipo barbatana de tubarão, Freio de estacionamento eletromecânico, Função AutoHold

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.