VW Passat Nigéria: o brazuca para as terras africanas

Foto de capa: reprodução/Ateliê do Carro

O Passat tem uma história longeva, que remete aos idos de 1973 quando foi lançado na Alemanha. Modelo de porte médio chegou ao Brasil um ano depois, em 1974, dotado do eficiente motor VW BR 1.5, nas versões L e Standard, sempre na carroceria de duas portas. Dois anos depois a família cresceu com a chegada dos modelos de 3 e 4 portas, além das versões LM e LS. Em 1976, o desejado Passat TS, com motor VW BS 1.6 e desempenho bastante arisco, vinha com capacidade para encarar algumas versões de carros de maior cilindrada, como o Ford Maverick e o GM Opala.

De olho no exterior, a Volkswagen começou a produção da configuração de 5 portas em solo nacional, exclusivamente para exportação, e logo algumas unidades passaram a ser comercializadas na América Latina, Europa e até África.

Carroceria de quatro portas chegou depois como mais uma opção, mas o foco era o mercado externo (Foto: VW/divulgação)

Logo após o lançamento da versão LSE em 1978, a mais luxuosa de nosso mercado, algumas unidades foram destinadas ao mercado Iraquiano, mas ainda sem nenhum acordo de exportação oficial. No mesmo ano foi lançada a versão Surf, com apelo ao público jovem e acabamento básico. Em 1979 o nosso Passat ganhava em seu primeiro facelift, adotando a frente do Audi 80 comercializado no exterior entre 1976 e 1978, e aí suas vendas disparavam.

A partir de 1981, a Volkswagen do Brasil fechou acordo com a Nigéria e foram exportados para este mercado o Passat TS na versão de 4 portas, em substituição ao VW Igala (nosso VW Brasília), que era descontinuado na versão 4 portas, a única exportada para a África. Lembrando que, no ano seguinte, o Brasília saía de linha por completo no Brasil.

Primeiros Passat exportados para a Nigéria eram TS com quatro portas (Foto: divulgação VW)

Falando do tal Passat TS exportado, ele tinha externamente e internamente os mesmos detalhes da versão 2 portas nacional, e isso incluía as rodas, polainas, emblemas, o belo volante de 4 raios e 36 cm de diâmetro, o console com instrumentos como voltímetro e nanômetro de óleo, além de conta-giros no painel, acabamento esmerado, e carpete de 10 mm (ou 4 mm a mais que as outras versões), fora o ar-condicionado de série, um opcional raro por aqui, mas essencial para o clima africano.

Até 1982, o Passat “Nigéria” usava o motor BS 1.6, com 96 cv de potência SAE a 6.100 rpm (72 cv ABNT) e 13,2 kgfm de torque a 3600 rpm, permitindo ao carro acelerar de 0 a 100 km/h em 13,1 segundos, atingindo os 160 km/h de velocidade máxima. Nesta configuração, fazia médias de 9,0 km/l na cidade e 12,1 km/l na estrada, sempre com gasolina.

A partir de 1983, o TS Nigeriano adotou as evoluções da versão nacional como os 4 faróis retangulares, além do motor 1.6 MD-270. Este novo propulsor também tinha 72 cv ABNT declarados, mas sua potência máxima era atingida a 5.200 rpm, com 12,2 kgfm de torque a 2.600 rpm. Ou seja, a sensação de força vinha antes, tornando assim sua condução urbana mais confortável, exigindo inclusive menos trocas de marchas. Um pouquinho mais lento, o Passat 1.6 MD-270 para a Nigéria fazia de 0 a 100 km/h em 15,2 segundos, atingia 151 km/h de máxima e era mais econômico, conseguindo rodar 10,79 km/l na cidade e 14,94 km/l na estrada, também com gasolina.

O novo visual, com quatro faróis quadrados mas ainda sem parachoques envolventes, também foi vendido por lá (Foto: reprodução/hpdopassat.com.br)

A partir de 1985, os Passat tipo exportação, quer seja para o Iraque ou Nigéria, adotaram novamente as evoluções do modelo nacional, como para-choques envolventes, novo tabelier, novo painel de instrumentos, além de um acabamento primoroso à la Santana, todo em veludo, fosse cinza ou vermelho. A versão destinada a Nigéria passou a ser oferecida apenas na opção de 2 portas, enquanto o modelo LSE Iraque permanecia só com 4 portas, mas as duas variantes continuavam com o mesmo bom acabamento.

Logo chegou a linha 85 por lá também, atualizada com o mais recente estilo do carro brasileiro. Aqui ainda uma unidade com quatro portas, antes da mudança para as duas portas de série (Foto: reprodução/@howfarng)

Comparado com o Passat LS Village nacional, o modelo destinado ao mercado nigeriano trazia alterações significativas como o radiador de cobre, pneus têxteis (de aço aqui, ou radiais), ventilador de 250W de potência, chapa de proteção do motor de série, para-barro e quatro ganchos de reboque (dois a mais que no modelo nacional). O ar-condicionado de série também era reforçado, bem como todo o sistema de arrefecimento do motor, tudo por conta do clima quente de lá.

Modelos mandados para lá tinham diferenciações no conteúdo e mecânica, mas nunca ganharam motor AP nem 5ª marcha (Foto: reprodução/Ateliê do Carro)

Por estratégia da Volkswagen do Brasil, os motores dos modelos tipo exportação não foram atualizados para a linha AP nacional (continuavam com os MD), facilitando assim o envio de peças de reposição para tais mercados. O mesmo valia para o câmbio, afinal os Passat Iraque e Nigéria continuaram usando o câmbio longo de 4 velocidades.

Motor MD-270 continuava lá para facilitar a manutenção e exportação de peças (Foto: reprodução/Ateliê do Carro)

Àquela época, a Volkswagen do Brasil lançou em nosso mercado o cultuado e então moderno motor AP-600, com 80 cv ABNT a 5.600 rpm e 12,75 kgfm a 2600 rpm na versão a gasolina, casado a um câmbio de 5 marchas – fora a versão a álcool com 90 cv a 5.600 rpm e 13,05 kgfm a 2600 rpm. O nosso modelo LS Village era mais simples, mas andava muito bem, e era melhor inclusive que a linha Gol.

Nos idos da segunda metade dos anos 80, a Nigéria enfrentava sérios problemas de cunho político e financeiro, impactando para a Volkswagen do Brasil no fornecimento dos veículos: não havia mais demanda. Com o excedente no pátio graças as baixas vendas por lá, a partir de junho de 1986 os Passat Nigéria passaram a ser destinados ao mercado nacional como edição especial.

Com os problemas enfrentados pela Nigéria, sobraram os carros para exportação nos pátios da VW brasileira. Decidiram vendê-los por aqui mesmo (Foto: reprodução/Ateliê do Carro)

Com muita resistência dos concessionários, o tal carro surpreendeu em vendas e houve até fila de espera, pois custava o equivalente ao nosso Passat LS Village, que tinha motor mais potente e câmbio 5 marchas, mas vinha menos equipado, com acabamento mais simples e sem o ar-condicionado sequer como opcional.

O Passat duas portas todo especial, antes destinado ao mercado Nigeriano, por aqui era identificado em sua nota fiscal como “Passat Carro do Mês” e logo ganhou o apelido de Passat Nigéria. Algumas unidades também foram identificadas nas notas como Passat Plus (este comercializado em 1984), ou Passat LS Village. Coisas de um Brasil com vários Brasis, sem sistemas integrados no DETRAN ou mesmo alinhamento com os concessionários. Ah, os anos 80…

Estima-se que apenas 277 unidades do Passat “Nigéria” duas portas foram vendidas no Brasil, o que o torna bastante raro em nosso mercado, ao contrário do modelo LSE, onde há o registro de milhares deles. No total, foram exportados mais de 221 mil Passat para este e outros países, fora as 676.829 comercializadas em nosso mercado. E se você tivesse em 1986 ou 1987, levaria um desses 0km para sua casa?

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.