(Avaliação) Novo Kwid Intense: “ex-popular” da Renault melhorou, mas nem tanto


Dono atual do título de “carro mais barato do Brasil”, o Kwid já amadureceu depois de quase 5 anos de mercado nacional. Nesse período, a Renault foi acertando o carro de acordo com a pedida do consumidor, além de corrigir sérias falhas do projeto original indiano, como por exemplo os freios dianteiros a disco sólido, que superaqueciam quando muito exigidos. Hoje já são ventilados e mais eficientes que antes.

Por essas e outras que o pequenininho da Renault chegou em pleno 2022 de cara nova, melhorado pra todos os lados e com preços sempre acima dos R$60 mil, o que causou rebuliço e fez muitos o chamarem de “ex-popular”. Na época do lançamento em 2017, ele custava a metade disso. Mesmo mais salgado com o passar do tempo, ele aparentemente caiu nas graças do consumidor brasileiro depois de tanto preconceito e “torcidas de nariz”.
Reestilizado, ficou mais bonito, moderno e com aparência robusta, que casa bem com sua boa altura do solo (18,5 cm) e grandes ângulos de ataque e saída. É um carro ágil pra enfrentar a buraqueira urbana, passar sem medo por valetas e lombadas e até encarar um fora-de-estrada leve, com a ajuda também das suspensões bem calibradas.

Com elas, inclusive, o Novo Kwid garante conforto ao rodar e até dribla os velhos problemas do centro de gravidade alto, direção não muito precisa e combinação da carroceria estreita com pneus finos. Apesar de menos sentidas, as “passarinhadas” (zigue-zague involuntário do carro em pistas retas) acima de 100 km/h ainda existem, e ele requer cuidado nas curvas rápidas pela falta da barra estabilizadora dianteira, já que rola mais do que deveria.
Mas, considerando que é um carro de projeto bastante simples e que está na porta de entrada para o mundo dos automóveis, são defeitos toleráveis.

Um dos maiores pontos fortes do Kwid está na motorização, mesma de antes, mas melhorada. Econômico e robusto, o motor 1.0 SCe de três cilindros desenvolve 68/71 cv de potência e 9,4/10,0 mkgf de torque, que vem por inteiro aos 4.250 rpm, e está acoplado a um câmbio manual de 5 marchas com engates precisos e relações curtas. Mecânica elogiável na eficiência, mas ruidosa em todos os sentidos: desde pedal de embreagem até compressor do ar-condicionado, tudo ali faz bastante barulho e é sempre ouvido pelos ocupantes.

No uso, o subcompacto da Renault é um carro surpreendentemente ágil e esperto tanto em baixas quanto em altas rotações, conseguindo boas acelerações e ultrapassagens mesmo carregado. Na cidade ou estrada, com três ocupantes “grandinhos” a bordo, ele não desapontou. Quem não o conhecia e teve oportunidade de guiar chegou a ficar em dúvida quanto a cilindrada do seu pequeno motor (a clássica pergunta: “é 1.0 mesmo?”).
Dali, o único que prova que o Kwid é um legítimo “milzinho” é o consumo, claro que bem baixo: 12,2 km/l urbano e 14,8 km/l rodoviário, abastecido com etanol nos dois casos. Valeu a pena a adição do sistema Start&Stop nessa linha 2023, que diminuiu bastante o gasto de combustível na cidade, habitat natural desses carros pequenos.

Por dentro: mais do mesmo
De novo mesmo no interior do Novo Kwid, só o painel de instrumentos, agora digital e mais enfeitado, e tecidos dos bancos. A multimídia foi de 7” pra 8”, mas, curiosamente, continua com aquela mesma interface bem obsoleta de 2012, ou seja, só cresceu no tamanho da tela.

Isso não é de todo ruim, já que o visual se manteve, mas o nível de acabamento e encaixe das peças da cabine melhorou. Ainda é tudo bem simples, de acordo com o esperado em um subcompacto de entrada, mas está um pouquinho mais esmerado do que antes.
Além disso, a posição de guiar, mesmo sem ajuste de altura dos bancos e volante fixo (duas outras falhas, inclusive), é boa, o acesso aos comandos do painel é descomplicado e ergonomia dos bancos agrada, todos “bônus” em um carro simplório como o Kwid. O novo painel de instrumentos digital não é dos mais precisos, mas também oferece fácil leitura das informações.

Melhor espaço interno da categoria
Concorrendo unicamente com o Fiat Mobi, o Kwid ganha de lavada no quesito espaço interno e porta-malas. São 2,42 m de entre-eixos, explícitos pelo bom arranjo dos componentes internos (bancos estreitos, painel recuado e por aí vai), e ali cabem quatro adultos e uma criança sem muitos problemas. Todos têm direito à cinto de três pontos, encosto de cabeça e, atrás, fixação Isofix.

Os mais altos tem espaço de sobra também para a cabeça, e não encontram dificuldades de mobilidade interna nem para entrar e sair do carro. Com 1,87 m de altura, quem vos escreve ainda ficou com quatro dedos “de sobra” até encostar no teto na frente, nem se apertou durante uma viagem no banco traseiro.
Nesse ponto, o carrinho é muito bem resolvido considerando as pequenas dimensões de sua carroceria. Isso sem falar que o ótimo porta-malas de 290 litros quase briga de igual para igual com o de alguns hatches compactos premium. Maravilha!

Kwid Intense: vale a pena?
Custando cerca de R$68 mil, a versão avaliada Intense Biton é a urbana top de linha. Existe também a Outsider por um preço bem parecido, mas essa já tem apelo aventureiro. Considerando que, dentro da gama Renault, o Sandero 1.0 mais barato começa em R$80 mil, levar um Kwid Intense por R$68 mil é uma alternativa, digamos…menos cara.

Mas a verdade é que o Kwid melhorou e merece uma segunda chance daqueles que tanto o criticaram nos últimos anos. Longe da perfeição, ele, pelo menos, mostra sua evolução.
Ficha técnica:
Concepção de motor: 999 cm³, flex, três cilindros, 12 válvulas (quatro por cilindro), aspiração natural, injeção indireta de combustível, duplo comando de válvulas, bloco e cabeçote em alumínio |
Transmissão: manual de 5 marchas |
Potência: 68/71 cv a 5.500 rpm (gasolina/etanol) |
Torque: 9,4/10,0 mkgf a 4.250 rpm (gasolina/etanol) |
Suspensão dianteira: Independente, tipo McPherson |
Suspensão traseira: eixo de torção com molas helicoidais |
Direção: do tipo pinhão e cremalheira, com assistência elétrica progressiva |
Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira |
Pneus e rodas: Continental EcoContact 6, medidas 165/70. Rodas de liga-leve aro 14 |
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 3,68 m/1,58 m/1,48 m/2,42 m |
Porta-malas: 290 litros |
Tanque de combustível: 38 litros |
Peso em ordem de marcha: 820 kg |
Aceleração 0 a 100 km/h: 13,5/13,2 segundos (gasolina/etanol) |
Velocidade máxima: 152/156 km/h (gasolina/etanol) |
Preço básico: R$67.890 (carro avaliado: R$68.590) |
Itens de série:
Retrovisores com ajuste elétrico, Ar-condicionado, Banco traseiro rebatível, Apoio de cabeça traseiro central e laterais com ajuste de altura, Espelhamento de Smartphone, multimídia MEDIA Evolution com Android Auto® e Apple Carplay®, 2 airbags laterais, Cintos de segurança traseiros de 3 pontos, Sistema CAR – Travamento automático a 6 km/h, 2 Isofix, Freios ABS, Monitoramento da pressão dos pneus (TPMS), 2 airbags frontais, Controle eletrônico de estabilidade (ESP) com auxílio de partida em rampa (HSA), Luzes de circulação diurna em LED (DRL), Câmera de ré, Direção elétrica, Sistema Start&Stop, Indicador de troca de marcha, Câmbio manual de 5 velocidades, Volante de três raios, Retrovisores na cor preto brilhante, Roda de liga-leve aro 14″, Bancos exclusivos Intense