Renault Clio Yahoo: o popular vendido pela internet que foi parar até nas concessionárias
A união entre carro e internet no Brasil surgia de verdade durante a virada do milênio: foi naquela época que começaram as vendas online de carros 0 km. As primeiras a entrarem para essa empreitada digital, Chevrolet com o Celta, Fiat com Mille e Palio Young, e Ford com o Fiesta Street, estrearam quase juntas no segundo semestre de 2000 e já estavam conseguindo bons resultados em um país onde mais de 97% da população brasileira ainda não tinha acesso à internet. A oferta de carros simples, compactos e baratos tinha uma razão: eram eles que os jovens, principais usuários da web na época, estavam buscando. Além disso, havia menos opções de escolhas na hora da compra online (cores, por exemplo).
Enquanto até a VW já estava vendendo aos navegantes da internet, ainda faltava uma: a Renault, que só deixou de perder tempo em meados de julho de 2001 lançando seu site próprio e o Clio Yahoo!, primeiro modelo da marca vendido pela internet. Criado a partir de uma parceria com o Yahoo!, o modelo estava disponível exclusivamente no site “www.clioyahoo.com.br”, criado e hospedado pelo provedor. Além de aposentar a versão RL 1.0 8v da qual derivava, a série Yahoo! trazia alguns diferenciais, a começar pelo preço: era oferecido a R$ 16.990,00 com frete incluso (hoje R$93.542,63/IGPM), versus R$17.190,00 (R$94.643,78 atuais) da finada RL.
Na época, esse Yahoo! era o popular mais caro vendido pela internet, superando Fiesta Street (R$13,6 mil), Palio Young (R$13,7 mil), Mille (R$12,1 mil), Celta (R$14,2 mil) e afins. Como tinha foco na praticidade da compra e era destinado a um público jovem, como universitários sem muitos recursos financeiros, as facilidades de compra atraíam: a entrada era, na época, de R$1 mil, com o restante financiado em até 48 vezes.
Ele surgiu ainda como linha 2001, trazendo motor D7D 1.0 8v a gasolina de 59 cv de potência a 5500 rpm e 8,3 kgfm de torque a 4250 rpm, garantindo ao hatch de pouco mais de 900 kg uma aceleração de 0 a 100 km/h em 18,2s, com máxima de 144 km/h, segundo dados de fábrica. Números bastante modestos, mas dentro dos padrões da época, e que garantiam baixo consumo de combustível ao Clio Yahoo!: 10,2 km/l na cidade e 16,9 km/l na estrada em testes da Quatro Rodas, ou 13,4 km/l urbano e 18,5 km/l rodoviário, pelos números oficiais da Renault. Esse 1.0, na origem, nada mais era que uma versão reduzida do 1.2 que equipava o Twingo francês.
Simples, o Clio de venda online tinha de série os apoios de cabeça traseiros, ar quente, vidros verdes, relógio e hodômetros digitais (total e parcial), rodas de aço aro 14 com pintura prateada, vidros verdes, console central com cinzeiro e acendedor de cigarros, além da pré-disposição para rádio, que incluía a antena, 4 alto-falantes e fios. A simplicidade estava na ausência de pintura nos parachoques e vidros com abertura manual, por exemplo, mas sua identificação era fácil graças aos adesivos resinados vermelhos com o nome da versão fixados na tampa do porta-malas e portas dianteiras.
A tal versão Yahoo! contava com apenas dois opcionais: ar-condicionado (R$1.990,00, cerca de R$11 mil atuais) e pintura metálica (R$490,00, convertidos para R$2,7 mil nos dias de hoje). Sua paleta de cores também era enxuta: Branco Sólido, Preto Nacré, Prata Boreal e Cinza Eclipse (essas três metálicas). Como curiosidade, o airbag duplo seguia também como item de série, mas, na hora da compra pela internet, o cliente podia removê-lo da lista de equipamentos, a fim de baixar o preço básico do carro.
Outra boa: suas rodas de ferro, fabricadas pela Borlem, eram também fornecidas para a VW, e aplicadas na linha Santana e nos Gol que utilizavam aro 14. Se cabe mais uma, aqui vai: cerca de um ano depois de começar as vendas do Clio Yahoo!, a marca passava a ofertar também o Kangoo Yahoo! e Twingo Yahoo!, em fórmulas parecidas com as do hatch, mas não como versões do catálogo. No caso do Kangoo e Twingo, eram oferecidas online suas versões normais de catálogo (RN e RT, por exemplo), e o pacote Yahoo! incluía apenas o frete grátis dessas unidades adquiridas pelo site da Renault.
Para quem não tinha internet em casa, a Renault até permitia que a aquisição fosse feita de forma online nas concessionárias da marca, sempre com o prazo de entrega que variava de 1 até 3 semanas, dependendo de onde morasse o comprador. O site dedicado tinha modo de visualização 360º do interior do carro, zoom e descrição para os principais equipamentos, e, quem fechasse o negócio, podia acompanhar o andamento do pedido até o carro chegar na concessionária escolhida para a entrega, tudo em tempo real.
O engraçado é que o modelo, que nasceu para ser comercializado apenas aos navegantes da web, se tornou mais “comum” na linha 2002, que chegou em abril daquele ano. Isso porque a versão Yahoo! agora estava disponível também na rede de concessionárias da marca, para o grande público, claro que custando um pouco mais: naquela altura do campeonato, online, seu preço já era de R$17.490, subindo para R$18.250 se o consumidor optasse por comprá-lo “presencialmente”, digamos assim. Como novidade, ela passava a contar de série com as calotas aro 14 Aquarius, que, até então, eram oferecidas apenas como acessórios aos proprietários.
É difícil saber até quando o Clio Yahoo! seguiu sendo oferecido, até porque a versão era cadastrada, nos Detrans e documentos, da mesma forma que sua antecessora RL 1.0 8v. A quantidade de unidades produzidas também é um mistério, mas, no lançamento, a Renault pretendia emplacar 4.200 deles até dezembro de 2001, o que equivalia a cerca de 15% de todos os Clio vendidos no mercado brasileiro. Se as metas foram atingidas, não se sabe, mas é certo que, depois, ele ganhou a companhia da versão RL 1.0 16v, já com um motor renovado de 70 cv. Mas essa é outra história…