GM Chevette Jeans: o ”xuxu” beleza

Em 1973 chegava ao Brasil a quarta geração do Opel Kadett, batizado por aqui de GM Chevette. Em época de regime militar, a Chevrolet brasileira mudou o nome do moderno automóvel a fim de evitar qualquer associação à patente militar. Lembrando que Chevette já denominava algumas versões do Kadett na Europa.

Kadett na Europa, o novo sedan da GM mudava de nome no Brasil, mas garantia seu sucesso (Foto: Chevrolet/divulgação)

Logo o GM fez muito sucesso pelo conforto, estilo e robustez, que foi comprovada com o passar dos anos, e com sua tração traseira, angariou fãs pela facilidade de uso em pisos difíceis, sendo um concorrente direto dos VW a ar, imbatíveis neste tipo de terreno, ou mesmo para manobras mais audaciosas e exibicionistas dos garotos aventureiros.

Um de seus pontos interessantes era a tração traseira, como no maior Opala (Foto: Chevrolet/divulgação)

Seu primeiro facelift foi apenas na dianteira em 1978, trazendo linhas mais fluídas e em compasso com os modelos mundo a fora. A traseira e o interior mantinham-se com as mesmas formas desde seu lançamento. Ainda em 1978, no Salão do Automóvel, uma nova versão: Chevette Jeans. Com revestimento dos bancos e acabamento interno em tecido Jeans azul (sim, o mesmo de calças e jaquetas), o modelo era destinado ao público jovem, que tinha feição pelo sedan e sua tração traseira.

Próximo a reestilização que trouxe nova frente, chegava o Chevette Jeans (Foto: Chevrolet/divulgação)

Usando um moderno motor 1.4 (para a época), o modelo recebia também carburador de corpo duplo com duplo estágio como opcional, sempre a gasolina. Assim, sua potência passava a 69 cv SAE a 5800 rpm (57 cv ABNT) e 10,1 kgfm de torque a 4100 rpm. Os Chevette com carburador de corpo simples tinham 1 cv a menos e 9,8 mkgf a 3.800 rpm.

Curiosamente, esse motor 1.4 desenvolvido pela Isuzu só foi usado no Chevette brasileiro. Na versão Jeans, poderia ter o bônus da carburação de corpo duplo (Foto: reprodução/L’art de L’automobile)

As respostas eram melhores ao pé do acelerador, e o modelo chegava a 100 km/h em 19,10 segundos, com velocidade máxima de 140,7 km/h, números bons para a época. Seu consumo era de 8,96 km/l na cidade e 13,51 km/l na estrada. Vale lembrar que o consumo rodoviário era aferido com média de 80 km/h, e a 100 km/h como é medido hoje, o modelo percorria 11,42 km/l. Esse Chevette Jeans era estável em curvas e frenagens, graças aos pneus radiais 175/70SR13 opcionais.

Consumo e desempenho eram bons para a época. Detalhe que, apesar de especial, na carroceria do Jeans só havia um adesivo exclusivo (Foto: Chevrolet/divulgação)

Com baixo nível de ruído para um carro dos anos 70, seu rodar era confortável. Tinha interior com bancos dianteiros altos e reclináveis com encosto de cabeça integrado e bolso falso imitando os de uma calça nas laterais externas. Outros bolsos, estes úteis, eram encontrados nos painéis das portas e atrás dos encostos dianteiros. Atrás o conforto era prejudicado pela falta de espaço para as pernas dos passageiros, problema nunca corrigido por limitações do projeto. Para combinar com o Jeans dos assentos e dos forros de porta, o painel do carro era preto, assim como o descansa braço das portas.

Bancos e laterais de porta forrados em jeans, inclusive com imitações de bolsos como os de uma calça, faziam par ao bom acabamento (Foto: Chevrolet/divulgação)

Seu acabamento era de excelente qualidade, e de série trazia, além do Jeans, piso acarpetado e fechadura na tampa do porta-luvas, freio de mão coberto por uma capa de napa que imitava couro, desembaçador, espelho retrovisor interno do tipo dia-e-noite, cinto de segurança de dois pontos (subabdominal) e limpador de para-brisas com duas velocidades.

Como opcionais, além do carburador de corpo duplo e pneus radiais já citados, trazia para brisas do tipo ray-ban (aquele com a faixa azul), vidros traseiros laterais basculantes, filtro de ar para a cabine, ar-quente, desembaçador térmico do vidro traseiro, acendedor de cigarros (!), rodas tipo esportivas em aço, servofreio e limpador do para-brisa com temporizador e esguichador elétrico, com comando na mesma alavanca de troca de facho dos faróis. Explico: nesta época, era comum o esguichador ser do tipo “bomba”, localizado próximo ao pedal de embreagem para acionamento com o pé esquerdo. Como as coisas mudaram, não?!

Dentre as cores disponíveis, o prata é possivelmente o mais comum, e também custava mais caro por ser tom metálico na época (Foto: acervo pessoal/Leonardo França)

Externamente, o sedan com interior de jeans não tinha muitas diferenças as demais versões da linha, e esbanjava simplicidade. Trazia sua logotipia “Chevette Jeans” em adesivo nos paralamas, pouco à frente das portas, para-choques pintados de preto e era totalmente desprovido de cromados. No catálogo, apenas três cores disponíveis: Branco Everest, Azul Iguaçu e Prata Diamantina metálico. A azul é a mais rara delas, mas, para a época, a de maior valor era a prata metálica.

Ao contrário do que muitos pensam, o Chevette Jeans não era uma edição especial, mas sim uma versão que foi fabricada de janeiro a dezembro de 1979, focando no público jovem. Com todos os opcionais listados, custava em abril de 1979 exatos Cr$111.643,70, ou R$116.528,21 de hoje de acordo com o índice IGP-DI (FGV). A GM não detalhava seus números de produção, e naquele ano foram fabricados 90.084 Chevettes, onde, de acordo pela própria fabricante, estima-se que 10% tenham sido Chevette Jeans, ou seja, cerca de 9.000 unidades.

Apesar do volante inclinado a esquerda, problema este também nunca corrigido no projeto original, o Chevette era muito agradável de dirigir e angariou fãs. Essa sua versão Jeans foi a mais descolada delas, em todos os sentidos.

 

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.