Fusca conversível, Polo Sedan conversível, Fox conversível, Virtus conversível: os carros “presidenciais” da Volkswagen no Brasil

Como boa fabricante do “carro do povo”, a Volkswagen tem um histórico poderoso de associações com líderes e políticos, e isso vale inclusive para o Brasil. Por aqui, vez ou outra, o presidente da república do momento (em exercício) vai em visita a uma de suas fábricas, quer seja para anunciar investimentos ou novidades, ou então em datas comemorativas e marcos históricos. E, para não fazer feio, a fabricante alemã coloca sua engenharia para trabalhar e criar algum carro bem especial para transportar o tal ilustre visitante. Eventão!

Normalmente, esses veículos desfilam pela fábrica carregando o presidente, o vice, ou algum membro importante do governo que esteja junto na visita. Acenos, cumprimentos e poses para fotos exigem que o tal carro (por um momento) presidencial seja conversível, e preferencialmente importante dentro da linha da marca. Não à toa, a VW já escalou dois Fusca (em 1959 e em 1993), um Polo Sedan (2003), um VW Fox (2005) e, agora, mais recentemente, um Virtus 250TSI para a nobre função de transportar os presidentes.

O primeiro evento do tipo aconteceu em 1959, mais precisamente no dia 18 de novembro daquele ano, quando Juscelino Kubitschek compareceu a inauguração da primeira fábrica da Volkswagen do Brasil, na beira da Via Anchieta, em São Bernardo do Campo. Na ocasião, JK, junto de parceiros de governo e chefões da VW, desfilaram em diferentes Fusca conversíveis pela fábrica. No total, quatro carros foram utilizados na cerimônia, e não se sabe praticamente nada do paradeiro deles até os dias de hoje.

Já nos anos 90, em agosto de 1993, sendo mais exato, foi a vez de Itamar Franco passear de Fusca conversível pelas instalações da VW nacional. Aquele evento marcava o reinício da produção do Besouro, que estava fora de linha desde 1986, e só voltou por um programa que reduzia os impostos de carros com motor a ar de até 1.6 litro (justamente sua configuração). Para tal ocasião, dois carros sem teto foram construídos, ambos na configuração mais “moderna” do Fusca: um azul claro, que foi comprado por Itamar e hoje é peça de seu memorial, e outro branco, integrante do acervo histórico da VW do Brasil.

Passados dez anos, em março de 2003, o então presidente Lula era o líder em exercício, e foi para a fábrica da Anchieta a fim de comemorar os 50 anos da Volkswagen no Brasil. O esquema foi o mesmo: passear pela fábrica, cumprimentar os funcionários, conversar com os líderes da empresa, conhecer as instalações e discursar. A “bola automotiva” da vez foi um Polo Sedan, que era uma novidade no portfólio da marca, e um dos carros mais modernos de produção nacional da época. O três volumes, transformado em conversível, tinha elementos da versão mais cara da época, com motor 2.0, e um exclusivo interior em couro claro. Único, e pintado de preto, ele é outro que repousa no museu da VW nacional.

Não passou muito tempo para outro evento do tipo acontecer: em maio de 2005, Lula voltava as instalações da Volks, mas agora para comemorar o marco de 15 milhões de carros da marca feitos no Brasil. Junto da então primeira-dama Marisa Letícia, eles transitaram pela fábrica em um VW Fox prata descapotável, todo decorado e com quatro portas, rodas de liga especiais, faróis de longo alcance e maçanetas pintadas na cor da carroceria. Aproveitando o lado modular do Fox, a engenharia da VW ergueu o assoalho do banco traseiro, que foi substituído por dois assentos individuais, iguais aos dianteiros, onde se acomodaram Lula e sua então esposa. Hoje, esse Fox faz companhia ao Polo Sedan e ao Fusca Itamar 1993 no museu Garagem VW.

O quinto e último “showcar conversível” (como a VW chama esse tipo de carro adaptado), é um VW Virtus 2024, que transportou o atual presidente Lula em uma volta pela fábrica da Anchieta há poucas semanas. A unidade, pintada de azul metálico, mescla elementos das versões Highline e Exclusive, mais caras, e é movida pelo moderno motor 250TSI (1.4 turbo, 150 cv e 25,5 mkgf), e tem transmissão automática de seis marchas. O motivo da última visita foi o anúncio de grandes investimentos da VW no nosso país, com a criação de híbridos flex e outras novidades, até 2028 (R$16 bilhões no total).

O nome oficial do sedan conversível é Virtus Cabrio, e, na prática, o projeto ficou bastante interessante: conta com interior escurecido, rodas de aro 18 com pintura diamantada (emprestadas do esportivo Polo GTS), um acabamento usando peças especiais nos pontos de corte da lata do teto, e, embora tenha perdido os cintos de segurança (sem contar os airbags de cortina, removidos juntos do teto), ganhou uma barra de apoio sobre os bancos dianteiros, que serve para os “visitantes” se segurarem e também para minimizar as torções da nova carroceria conversível. Outros reforços foram feitos ao longo do carro, mas sem alterações na plataforma básica MQB (entre-eixos ou bitola, por exemplo).

Além dos encostos de cabeças trocados nos bancos dianteiros (os grandes deram lugar a dois menores, aparentemente os mesmos do banco traseiro), o banco traseiro foi levemente afastado para trás, em direção ao porta-malas, com assento encurtado. A missão foi a de liberar mais espaço no assoalho traseiro, onde Lula e o atual vice-presidente Geraldo Alckmin foram em pé, posando para fotos e cumprimentando os telespectadores do passeio. Como o tanque de combustível do Virtus vai instalado sob o assento traseiro, ele acabou perdendo um tanto da capacidade, mas nada que comprometesse os poucos quilômetros percorridos pelo carro.

Desenvolvido em tempo bastante curto, cerca de 1 mês e meio, o Virtus Cabrio demandou energia, e usou e abusou da criatividade de cerca de 30 pessoas das áreas de desenvolvimento de produto e engenharia dentro da VW. A área de qualidade da fábrica também participou do projeto. Esse sedan conversível, que ganhou assinatura de quem ele transportou durante o evento em seu capô, também tem destino certo: será preparado para figurar entre as raridades do museu da fabricante no Brasil. Ainda bem!