Fiat Uno CS Top: a edição limitada que comemorou 1 milhão de Fiat fabricados no Brasil

A Fiat chegou no Brasil em 1976 e abalou o mercado com o 147, o primeiro modelo produzido pela marca por aqui entre 1976 e 1986, baseado no 127 italiano. A fabricante inovou mostrando que carro pequeno poderia ser grande, graças ao excelente aproveitamento de espaço interno, e seu maior predicado era a imbatível economia de combustível (importantíssima em tempos de crise do petróleo), aliada a uma excelente e até então inédita estabilidade. Essas e outras fizeram dele um carro que definitivamente entrou para história e mudou para sempre o jeito de se fazer automóvel no Brasil.

147 foi o primeiro Fiat nacional, e revolucionou o mercado brasileiro com seu projeto inteligente (Foto: Fiat/divulgação)

Em 1978 era lançado o segundo modelo da Fiat brasileira, o Pick-up, inaugurando um conceito que caiu nas graças dos brasileiros e que a marca é líder a anos, tendo inclusive a Fiat Strada como o carro mais vendido do Brasil em 2021 e 2022. Em 1979 chegava ao mercado o primeiro compacto premium, o Fiat 147 GLS, e, para o restante da linha, o primeiro motor a etanol do Brasil, com 1300 cilindradas.

Em 1980 a linha era renovada, e chegava o terceiro integrante: a perua Panorama, voltada para a família, em configuração de duas portas e um vasto porta-malas. No ano seguinte, usando a mesma plataforma, a família Pick-up crescia com a chegada do Fiat Fiorino, presente até hoje no mercado em sua terceira geração e até com um primo da Peugeot.

Em 1983, o Fiat 147 ganhava uma versão de luxo, chamado Spazio, com melhor acabamento, câmbio de 5 marchas opcional e o título de carro mais econômico do Brasil na versão 1050 a gasolina. No mesmo ano, vinha também o Fiat Oggi (“hoje”, em italiano), um sedan concorrente de VW Voyage, GM Chevette e Ford Escort. O três volumes também era construído a partir da plataforma do Panorama, e trazia as 5 marchas de série, 440 litros de capacidade no porta-malas e muito carisma. Hoje, ele é bastante lembrado por sua versão esportiva CSS.

Em 1984 era lançado o Fiat Uno. Um pouco diferente da versão Italiana de 1983, o carro brasileiro usava a suspensão traseira do seu antecessor 147 e acomodava o estepe junto do motor. Trazia como grande trunfo o espaço interno generoso para seu porte e soluções criativas, como cinzeiro deslizante no painel, limpador de para-brisas único e todos os comandos do painel próximos da mão, ativados por teclas, que facilitava o acesso para o motorista.

Considerado pelo próprio marketing da marca o “Carro de Gênio”, o Uno em 1985 foi pioneiro em oferecer o computador de bordo opcional, juntamente com o Prêmio, seu novo sedan que aposentava o Oggi. Um carro moderno, com linhas fluídas e um excelente espaço interno, que agradava em cheio, trazendo ainda a novidade do motor de 1500 cilindradas. Em 1986, veio a substituta da Panorama, intitulada Elba. Com o maior espaço da categoria, detinha também o maior porta-malas de todas as stations fabricadas no Brasil, desbancando as grandes como GM Caravan e VW Santana Quantum.

Para 1987, era a vez do Fiat Prêmio receber a opção de 4 portas, e uma versão de luxo com direito a ar-condicionado opcional, a CSL. A família Fiat crescia com novas versões, e inovações, quando, também em 87, vinha o Uno 1.5R, que tinha roupagem e desempenho dignos de esportivos. No ano seguinte, era a vez da estreia da Fiorino pick-up e Baú em nova geração. Maiores, usavam a plataforma da Elba, e suas lanternas traseiras.

O modelo Pick-up era visto com frequência na porta de faculdades, boates ou mesmo na praia, e era competente para carregar fardos de feno, tonéis de leite ou material de construção. Um veículo multiuso. E não parou por aí: para 1989 a Fiat lançava a Elba CSL e o Prêmio CSL, topos de linha equipados com um novo painel, mais moderno e exclusivo.

A picape era multiuso, servia para o lazer e trabalho (Foto: Fiat/divulgação)

O Uno CS Top

Com tantas novidades, a fabricante italiana se aproximava da marca de 1.000.000 de unidades produzidas na planta de Betim/MG, e preparou uma versão especial para comemorar este marco, com o lançamento do Fiat Uno CS Top. Externamente, usava as mesmas calotas, faróis de neblina, e pintura cinza na parte inferior da carroceria dos CSL, além da identificação da versão especial em adesivo “TOP” junto à logotipia “Uno CS”. Nos para-lamas, trazia a inscrição “1500”, demonstrando que, diferente das versões CS convencionais, o modelo especial tinha o motor Fiasa 1500, mais potente.

Falando dele, era o confiável 1.5 a gasolina de 82 cv de potência a 5.200 rpm e 12,8 kgfm de torque a 3.500 rpm. Graças ao câmbio de cinco marchas bem acertado, com a 1ª e 2ª curtas vindas do Uno 1.5R, fazia de 0 a 100 km/h em 12,88 segundos, números respeitáveis àquele tempo. Já a 3ª, 4ª e 5ª marchas eram mais longas, iguais as dos irmãos Prêmio e Elba CSL, e garantiam ao Uno CS TOP uma boa velocidade máxima de 161,5 km/h. Mesmo ágil, ele era econômico, com médias de 10,20 km/l na cidade e 14,75 km/l na estrada.

Por dentro, preservava o mesmo painel e volante da linha Uno CS, mas com instrumentação mais completa, dotada de hodômetro parcial, marcador de temperatura, conta-giros, check-control de luzes, além dos elogiados comandos sempre à mão, iluminados em um belo tom de verde.

Seu interior trazia padronagem dos bancos exclusiva, com tecido cinza e laterais em courino, além dos encostos de cabeça vazados da linha 1.5R. O mesmo tecido forrava os forros de porta, que tinham descansa-braço e porta-trecos. Trazia também retrovisores externos com regulagem interna manual, vidros verdes, limpador e desembaçador do vidro traseiro, vidros laterais basculantes, alças de teto para os passageiros e relógio digital junto ao retrovisor interno, que tinha sistema antiofuscante manual.

Poucas unidades sobraram para contar história, e achar um destes preservado hoje em dia é quase impossível. Digo “quase” pois o modelo das fotos, do Leonardo Oliveira, de São Paulo/SP, foi preservado em seus 34 anos de vida, tendo apenas um retoque no paralamas dianteiro e uma pintura geral.

Com atuais 446.725 km rodados, mantém motor e câmbio originais, e tem potência suficiente para deixar qualquer Gol 1.0 três cilindros para trás na estrada. De itens diferentes do original, recebeu os cintos de segurança vermelhos, vindos da linha R, os emblemas laterais “1.5 i.e.” (os originais “1500” serão instalados em breve) além da cobertura de couro no volante, com o objetivo de preservar o acabamento original. De resto, trata-se do mesmo Uno CS TOP que saiu da concessionária nos idos de 1989, com suas características originais.

Com 1.000 unidades fabricadas no total em 1989, de acordo com os dados da frota nacional do DENATRAN ainda existem 979 deles registrados em 2023. Por essas e outras, é certo que o Uno CS TOP é a versão mais rara do carro queridinho da Fiat no Brasil.

Veja o comercial de lançamento da versão especial, estrelado pelo então ator Global Marco Ricca:

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.