Fiat Tipo: de “hot-hatch” a primeiro carro nacional com Airbag

O Tipo foi lançado na Itália em 1988 e importado de lá oficialmente pela Fiat nacional a partir de 1993, ano de seu lançamento em nosso mercado. O primeiro veículo de importação oficial por uma montadora com fábrica no Brasil, tinha como trunfo o espaço interno generoso, ergonomia e ótimo custo X benefício. A modernidade de seu projeto era evidente em suas linhas, responsáveis por um baixo coeficiente aerodinâmico (Cx) de apenas 0,31. Tinha porta-malas bom para os padrões da época, capaz de carregar 246 litros de bagagem.

Inicialmente, o Tipo vendido por aqui tinha só duas portas (Foto: Fiat/divulgação)

Inicialmente vendido na configuração de 3 portas, a versão “i.e” tinha motor 1.6 com injeção eletrônica single-point com 82 cv de potência a 5750 rpm e 13,3 kgfm de torque a 3000 rpm. Seu desempenho era apenas aceitável, graças aos 1.130 kg de sua carroceria. Fazia de 0 a 100 km/h em 15 segundos e atingia 161 km/h de velocidade máxima, com médias de 9,41 km/l de gasolina na cidade e 14,09 km/l na estrada. Seu tanque de combustível tinha 56 litros de capacidade, bom para a época.

Quatro portas chegavam alguns meses depois como opcionais (Foto: Fiat/divulgação)

Gostoso de dirigir, o carro tinha reforços estruturais em seu monobloco para absorver melhor impactos dianteiros e laterais, bem como capotamentos, o que lhe garantia boa solidez estrutural, com poucas torções. Seu isolamento acústico lhe conferia um silêncio ao rodar acima da média, mas com o problema recorrente da tampa do porta-malas, estampada em plástico, que se tornava fonte de ruídos com o passar dos anos. Após algumas regulagens o silêncio voltava a imperar.

Bem equipado e com preço atraente, o Tipo foi um sucesso estrondoso já no primeiro ano (Foto: Fiat/divulgação)

Custando em setembro de 1993 US$17,000.00, equivalente a CR$1.631.490,00 (câmbio a CR$95,97), ou R$134.128,80 atuais corrigidos pelo INPC (IBGE), o modelo tinha como itens de série direção hidráulica, vidros elétricos, regulagem de altura do volante, regulagem de altura dos cintos dianteiros e limpador/desembaçador traseiro, encontrados em grande parte como opcionais nos veículos das marcas concorrentes.

Interior era funcional e bem montado (Foto: Fiat/divulgação)

Como opcionais estavam o ar-condicionado, banco traseiro bipartido, vidros verdes, teto solar, travas elétricas, pintura metálica e as 4 portas (oferecidas 1 mês depois do lançamento). Por ser bom de preço, se tornou um sucesso estrondoso, e já no primeiro ano o modelo vendeu exatas 8.850 unidades.

No ano seguinte, em 1994, foi lançada a versão SLX. Com um motor 2.0 8 válvulas de 109 cv a 5750 rpm e 16 kgfm de torque a 2750 rpm, o luxuoso hatch médio da Fiat fazia de 0 a 100 km/h em 11,39 segundos e atingia 187,2 km/h de velocidade máxima, registrando médias de 7,93 km/l de gasolina na cidade e 11,02 km/l na estrada. Seu consumo não era dos melhores, mas o desempenho impressionava àquela época.

Versão SLX 2.0 vinha com a missão de ser um carro mais completo e refinado (Foto: Fiat/divulgação)

Tinha acabamento esmerado esbanjando veludo e um isolamento acústico ainda melhor do que o 1.6, e já oferecia mais itens de série, como as 4 portas, molduras dos espelhos retrovisores e saias dos para-choques na cor da carroceria, calotas redesenhadas, faróis de neblina, luz de neblina traseira, vidros dianteiros elétricos com função one-touch para o motorista e travas elétricas, além de direção hidráulica, regulagem de altura do volante, regulagem de altura dos cintos dianteiros, vidros verdes e limpador/desembaçador traseiro.

Quatro portas eram de série no SLX 2.0 (Foto: Fiat/divulgação)

Como opcionais, o Tipo 2.0 podia ter ainda ar-condicionado, Airbag para o motorista, check-control, alarme, freios ABS, retrovisores elétricos, banco do motorista com descansa-braço e regulagem de altura, regulagem lombar dos bancos dianteiros, rodas em liga-leve e teto solar elétrico. Seu concorrente era o então recém-lançado Volkswagen Pointer, e o Fiat dava um banho em tudo no modelo da Autolatina.

Neste mesmo ano, o Tipo chegou a incomodar o Volkswagen Gol na liderança de vendas dos carros nacionais por vários meses, e de quebra, foi o primeiro importado a conseguir este feito, totalizando àquele ano 68.809 unidades comercializadas.

Em 1995, o modelo representava 55% das vendas do segmento, e a Fiat lançava o então melhor Tipo: Sedicivalvole, que, em bom português, significa Dezesseis Válvulas. Com um poderoso motor 2.0 16v de 137 cv a 6000 rpm e 18,4 kgfm de torque a 4500 rpm, a “Macchina” era valente. Fazia de 0 a 100 km/h em 9,95 segundos e atingia 213,8 km/h de velocidade máxima. Suas médias de consumo eram melhores que as da versão SLX, percorrendo 9,51 km/l de gasolina na cidade e 13,43 km/l na estrada, muito em grande parte à sua relação peso x potência e ao motor multiválvulas.

Tipo Sedicivalvole era mais esportivo com seu motor 16v de 137 cv (Foto: Fiat/divulgação)

Como itens de série, o Tipo Sedicivalvole (“Sedici” para os mais íntimos) tinha vidros verdes elétricos, travas elétricas, retrovisores elétricos, cintos de segurança traseiros laterais retráteis, regulagem de altura do volante, volante em couro, regulagem de altura dos cintos dianteiros, limpador e desembaçador traseiro, para-brisas degrade, faróis de neblina, luz de neblina traseira, rodas de liga leve e pedaleira esportiva.

Nos Sedici havia apenas carroceria de duas portas (Foto: Fiat/divulgação)

Sua lista de opcionais também era grande: Airbag para o motorista, pré-tensionador do cinto de segurança (!), alarme, ar-condicionado, bancos RECARO, bancos dianteiros com regulagem lombar, banco do motorista com regulagem de altura, teto solar elétrico e freios ABS.

Neste ano de 1995, o modelo se tornava um Hot-hatch, não pela excelente versão Sedicivalvole ou pelas 85.281 unidades vendidas (atrás apenas de VW Gol, Fiat Uno, GM Corsa e Ford Escort), mas sim por uma série de carros incendiados.

Carro virou um hot-hatch: não por ser esportivo, mas porque pegava fogo mesmo (Foto: reprodução/Revista Auto Esporte)

O que ocasionava o gravíssimo problema era uma mangueira de alta pressão que conduzia o fluído da direção hidráulica, instalada próximo ao coletor de escape. Na maioria dos casos, quando a direção era esterçada até o batente, a mangueira se rompia, despejando fluído inflamável no coletor e iniciando o incêndio. Em alguns casos, outros componentes próximos a ela ocasionavam a ruptura e, por consequência, o incêndio.

A Fiat, admitindo que o modelo tinha um problema crônico e que seria solucionado, agiu de forma responsável e convocou em 1996 pouco mais de 155 mil Fiat Tipo para um gigantesco recall. Em paralelo, a marca anunciava a produção do modelo em território nacional, com uma série de melhorias, incluindo a reposição dos componentes no sistema de direção assistida.

Agora nacional, o Tipo prometia resolver diversos de seus problemas (Foto: Fiat/divulgação)

Agora em versão única e feito em Betim (MG), o Tipo 1.6 MPI tinha 92 cv a 5750 rpm e 13,6 kgfm de torque a 3000 rpm, capaz de levar o médio nacional de 0 a 100 km/h em 13,3 segundos e aos 172 km/h de velocidade máxima. Graças a injeção eletrônica multiponto, as médias de combustível também melhoravam, percorrendo 9,2 km/l de gasolina na cidade e 13,03 km/l na estrada.

Tipo nacional tinha apenas emblemas e rodas diferentes do italiano no design externo (Foto: Fiat/divulgação)

Dentre os aperfeiçoamentos, o modelo era o primeiro veículo nacional a oferecer Airbag como opcional, em uma disputa que a Fiat cravou com a Chevrolet (esta alegando que o pioneiro teria sido o Vectra). A bolsa inflável era oferecida apenas para o motorista e vinha associada a outro item de segurança: o cinto de segurança com pré-tensionador, que “prende” ao banco motorista e passageiro dianteiro em caso de colisões.

Nada disso trouxe sua reputação de volta, e no ano de 1996 foram emplacadas apenas 14.374 unidades do Tipo. Em 1997 o desempenho em vendas era ainda pior, e o modelo saiu de linha após pífias 1.338 unidades vendidas de janeiro a maio, encerrando assim sua trajetória que teria sobrevida até o lançamento de seu sucessor, o Fiat Brava, em 1999.

Tipo nacional ficou cerca de um ano em produção. Sedicivalvole saiu de cena ainda em 1995 (Foto: Fiat/divulgação)
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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.