(Comparativo) Chevrolet Montana vs. Chevrolet Tracker: onde acaba a picape e começa o SUV?
É inegável a esperteza da Chevrolet em colocar a Montana numa faixa de preço que brigue com Fiat Strada, Renault Oroch e Fiat Toro ao mesmo tempo. Isso sem falar na ideia de criar uma picape partindo da sua base modular mais moderna por aqui, a GEM, com componentes compartilhados com o Tracker, que já passa dos seus três anos de produção. Só que picape e SUV acabam, em parte das versões, se encontrando quando o assunto é preço.
Montana e Tracker: qual levar? onde um é diferente do outro? quais são suas semelhanças? E as virtudes de cada um? Por essas e outras que vale o comparativo, nesse caso colocando lado a lado a dupla compacta da Chevrolet. Nesse embate, o preço e versões são apenas detalhes, afinal a disputa é entre SUV e picape com a mesma mecânica.
A dúvida de qual levar é fácil de ser sanada. A Montana é a opção pra quem precisa, essencialmente, de uma caçamba, ou seja, uma opção bacana para se ter um carro multiuso: dá para levar tralhas lá atrás, mais cinco ocupantes na cabine. O Tracker dá perfeitamente conta do recado pra quem não pretende carregar nada além de pessoas e algumas bagagens que não sejam muito sujas, rústicas, ou que possam danificar o carpete do porta-malas do SUV.
Semelhanças, essas são várias e boas. Além da plataforma, que também serve ao Onix e Onix Plus, Montana e Tracker mais caros, bebem da mesma fonte quando o assunto é motorização: ambos usam o tricilíndrico 1.2 turboflex com duplo comando variável, acoplado ao câmbio automático GF6 de seis velocidades, que compartilham até das mesmas relações. A entrega é de 132/133 cv de potência e 19,4/21,4 mkgf de torque com gasolina/etanol, na ordem.
Apesar de um pouquinho áspero, em especial na picape, esse motor é dos mais quietos no funcionamento: pouco se ouve dele no uso comum. A transmissão também é bastante suave, mas não tão ágil e, dependendo, decisiva: é comum, em certas situações, ela oscilar constantemente entre duas marchas, como 5ª e 6ª no uso rodoviário, por exemplo. Esse detalhe também é mais comum na picape, mas, pelo menos, com o silêncio de motor e transmissão, não chega a incomodar.
Nos dois Chevrolet, a força do 1.2 turbo vem cedo, ao redor dos 2 mil rpm (com etanol são 2 mkgf a mais, que fazem bastante diferença), entregando bom desempenho e agilidade típica de um motor turbo, principalmente no uso urbano e em velocidades baixas/médias. Para o uso rodoviário, faz falta um modo manual mais intuitivo da transmissão, fora a opção de ativar uma opção Sport, daquelas que sensibiliza acelerador e muda o comportamento do câmbio. Mas andam bem, com consumo até interessante, em especial na picape. Comparando com a Renault Oroch e Fiat Toro, ambas 1.3 turbo, a Chevrolet é a mais econômica, embora tenha o menor tanque (44 litros).
Montana e Tracker, que não pesam muito, conseguiram médias similares no uso, sempre com gasolina: na cidade, 10,8 km/l com a picape e 12,1 km/l com o SUV (esse é 60 kg mais leve), enquanto na estrada a Montana chegou a cravar os 16,5 km/l (a picape é mais alta, com maior coeficiente de arrasto), inferiores aos 17,2 km/l medidos com o Tracker. Isso com a dupla levando apenas o motorista e um passageiro, nada mais: se lotados com os mais de 400 kg de carga máxima do SUV e 600 kg da picape, claro que vão beber mais.
Vários outros componentes mecânicos são os mesmos para picape e SUV, a exemplo do sistema de direção com assistência elétrica (leve, com comportamento rápido e bom diâmetro de giro para facilitar manobras), freios eficientes com discos só na dianteira (falta grave por suas faixas de preço, principalmente falando do Tracker), e suspensões com McPherson independentes na dianteira e o clássico eixo de torção na traseira (com calibrações durinhas de molas e amortecedores nos dois, especialmente no SUV). Basicamente, por baixo, são iguais.
As diferenças começam a aparecer no uso, afinal falamos de uma picape e um SUV: precisam ser diferentes, já que tem propostas distintas. O Tracker, um pouco mais confortável e suave, também permite um posto de condução mais baixo, mas os dois tem ajustes completos de volante e banco. A Montana, aliás, é mais altinha, mas, como tem menor área envidraçada, não ganha do SUV no quesito visibilidade.
Painel, console e laterais de portas da dupla são como variações de um mesmo conceito, com posição bem pensada dos comandos e elementos, principalmente na picape, que tem multimídia embutida e voltada para o motorista. E como geralmente acontece, o SUV Tracker é melhor no acabamento geral e uso de materiais da cabine, só que não espere nada tão esmerado: são pontos passíveis de melhora nos dois. Para a dupla, os bancos são grandes e confortáveis: mesmas peças, inclusive.
Onde o Tracker ganha de lavada é no espaço interno. Tem lógica, até porque parte da cabine da picape dá lugar à caçamba ali atrás, de 874 litros. Os dois são altos para não atrapalhar ocupantes de maior estatura (a Montana até mais, inclusive), e bons de largura da cabine, mas é no entre-eixos que a coisa pega: o espaço para as penas no SUV é nitidamente maior, quer seja na primeira ou segunda fileira, permitindo, por exemplo, que dois adultos com 1,85 m se sentem um atrás do outro sem muitos problemas.
Na picape já tem aperto, com o contraponto do banco mais altinho: assim, curiosamente, ela acaba tendo mais espaço para os pés dos passageiros traseiros do que o Tracker. A Montana também dispensa aquela posição de sentar estranha de outras picapes, que deixa os joelhos bem mais altos que a cintura: nisso ela se aproxima sobremaneira de um SUV, com maior anatomia. Só que a cabine encurtada, claro, precisa do sacrifício do encosto traseiro mais reto, na vertical: nada grave.
Comparar um porta-malas, nesse caso de pouco menos de 400 litros, com a caçamba da Montana é injusto, e nem faz sentido. Mas a picape tem recursos bem interessantes para fazer do seu espaço de carga uma espécie de “porta-malas provisório”, já que veta quase toda a entrada de água e poeira no compartimento traseiro. Só para a caçamba também são mais de vinte acessórios para personalização, desde tomada elétrica até capota rígida elétrica, passando por divisórias plásticas, prateleiras e caixas organizadoras. Bem prático numa picape.
Focando nas versões topo de linha, o SUV é mais recheado. Mas também mais caro: a Montana RS ronda os R$151 mil enquanto o Tracker Premier está na faixa dos R$161 mil. Só ele tem alerta de colisão, frenagem autônoma de emergência, sistema Park Assist (estaciona sozinho), retrovisor fotocrômico, sensores de estacionamento dianteiros, teto-solar panorâmico, painel de instrumentos colorido e com mais funções, apoio de braço para o banco traseiro e outros mimos. Lembrando que os carros das fotos são da versão RS do Tracker e Premier da Montana, ou seja, ao contrário do exemplo acima.
Entre semelhanças e diferenças, virtudes de um e de outro, Montana e Tracker trabalham de forma parecida em segmentos distintos. Praticidades que uma plataforma modular, uma mecânica atualizada (e competente), tecnologias construtivas e uma boa dose de engenharia permitem nos dias de hoje.