Chevrolet Opala, a história do fenômeno (Parte 2)

Nos 24 anos da história do lendário Opala, destaque especial deve ser dado ao tão famoso e falado motor 250-S. Esse propulsor, inteiramente baseado no 4.1 (ou 250 pol³), veio com a clara intenção de conter o brilho do lançamento do Maverick GT, que era equipado com um V8 5.0 (302 pol³) de cerca de 190 hp brutos, e dava ao novo lançamento da Ford no Brasil o título de um dos carros mais rápidos do mercado nacional. Esse fato era demonstrado até mesmo nas competições, onde os Maverick GT se davam muito bem.

Baseado no motor 4.1 tradicional (250 pol³), o 250-S tinha preparação exclusiva (Foto: reprodução/L’art de L’automobile)

Mas a GM não iria se calar diante do brilho de sua principal concorrente mundial com um produto de sucesso. Em 1973, a engenharia de motores da Chevrolet nacional trabalhou duro desenvolvendo o seu seis cilindros em linha. A receita do bolo era conhecida: Comando de válvulas especial, que permitia as válvulas de admissão e escapamento mais tempo abertas, taxa de compressão elevada, tuchos mecânicos ao invés dos hidráulicos e a alimentação por um carburador de corpo-duplo que permitia o motor respirar melhor. Além disso, o sistema de escapamento foi redesenhado para permitir melhor fluidez dos gases queimados. Com essas alterações, o motor 250 de 141 hp SAE passou a gerar 171 hp SAE na versão S (de Sport).

Mesmo distante dos números do V8 da Ford, o menor peso do Opala e um conjunto mais harmônico de suas suspensões fizeram dele um carro bem melhor que o Maverick V8 nas pistas de competição. E dependendo do circuito, os Opala chegavam até mesmo a serem mais rápidos com o motor 250-S. Para comprovar a eficiência desse novo motor, desenvolvido em 1973, ainda nesse mesmo ano a marca equipou alguns Opala SS com esse novo 4.1 mais brabo, oferecendo esses carros a cerca de 6 ou 10 pilotos brasileiros de destaque para que utilizassem o carro no dia a dia e dessem um retorno para a GM sobre a performance dos novos motores.

Quando o arquirrival Ford Maverick V8 foi lançado, a GM já contra-atacava com seu motor 4.1 250-S como opcional (Foto: Chevrolet/divulgação)

Assim, quando o Maverick V8 chegou ao mercado nacional, a Chevrolet já tinha o Opala SS com o opcional do motor 250-S e, assim, podia homologar o novo propulsor mais potente para as competições nacionais. Em 1976, o 4.1 250-S ele se tornou o motor padrão para os Opala SS-6 (antes eles eram feitos só sob encomenda). No final, essa versão ainda mais apimentada fez tanto sucesso que passou a ser o desejo de compra dos apaixonados por velocidade e, claro, marcou a história do sedan de luxo da GM como um dos motores nacionais mais lembrados dos anos 70 e 80.

O Opala SS marcou as décadas de 70 e 80 sendo o sonho de muita gente, e dando muita diversão aos seus felizes proprietários (Foto: Chevrolet/divulgação)

Dois anos depois, em 1978, o Opala batia a marca histórica das 500 mil unidades fabricadas em seus menos de 10 anos de lançamento, mas a grande mudança viria mesmo em 1980: esse foi o ano de mais uma reestilização do sedan de luxo da GM, que veio com o objetivo de manter as vendas em alta e conquistar a clientela do recém-aposentado Maverick (que durou cerca de 6 anos). O Opalão 1980 adotou linhas mais quadradas e parrudas na dianteira e traseira, deixando de lado aquelas curvas suaves e delicadas que tanto conquistaram o brasileiro. Foram mudanças polêmicas, que demoraram para cair no gosto do público, mas logo voltaram a agradar.

As novas linhas, mais quadradas, demoraram pra cair no gosto do público consumidor. Mas logo conquistaram (Foto: Chevrolet/divulgação)

Também nessas mudanças de 1980 vieram as boas novas do motor 2.5 movido a álcool, que ganhava 8 cv e 2 mkgf de torque quando comparado com a versão a gasolina, além de novas suspensões com uma calibração diferente, o que melhorava significativamente a dirigibilidade e estabilidade do carro em curvas e manobras rápidas.

Outro pioneirismo do Opala: foi o primeiro carro nacional a vir equipado com rodas de liga-leve, exclusivas da nova versão Diplomata (Foto: Chevrolet/divulgação)

A cereja do bolo era a estreia da versão de luxo Diplomata, uma das mais lembradas pelos fãs do Opala, que marcou a estreia das rodas feitas em liga-leve pela Chevrolet no Brasil. Como curiosidade, seu interior não evoluiu junto com a carroceria, mantendo o mesmo visual de 1968, mas após muitas críticas da imprensa e público consumidor, a GM desenvolveu às pressas um novo painel, volante, instrumentos e laterais de porta, que chegaram só no ano seguinte (1981).

Bastante criticada por manter o velho interior dos anos 60, a GM correu e aprontou uma nova cabine para a linha 1981 do Opalão (Foto: Chevrolet/divulgação)

Mas as melhorias não paravam, e nos próximos anos o Opala ia recebendo mudanças pontuais aqui e acolá: chegava a ignição eletrônica nas versões 4.1 mais caras, o tanque de combustível era aumentado para melhorar o alcance do modelo, as versões 2.5 recebiam o inédito câmbio manual de 5 marchas (que viria no 4.1 somente na linha 1992) e, finalmente, as versões seis cilindros ganhavam a opção movida a álcool, mais potente e forte. Todas essas evoluções foram ainda na primeira metade da década de 1980, já que em 1985 ele ganhava leves retoques no seu polêmico visual quadradão.

Logo em 1985 ele já ganhava mudanças no visual, que incluíam as inéditas maçanetas embutidas e retrovisores fundidos em plástico (Foto: Chevrolet/divulgação)

Nessa segunda metade dos anos 80, outro Chevrolet que fazia bonito era o médio Monza, líder de vendas gerais do mercado nacional no triênio 1984/1985/1986. Vendo isso e percebendo que as linhas do sedan menor haviam conquistado o público consumidor brasileiro, a GM do Brasil decidiu colocar “um pouquinho de Monza no Opala”, e assim fez em 1988. Agora o Opalão tinha linhas frontais e traseiras mais curvadas e anguladas, além do novo local da placa de licença traseira, que descia para o parachoque como antes.

Motivada pelo sucesso do Monza, a GM preparou uma nova reestilização para o Opala 1988 (Foto: Chevrolet/divulgação)

Nesse mesmo período, as versões do Opala eram renomeadas e a gama estava maior, indo desde a básica L (Luxo, exclusiva para vendas diretas e frotistas), seguida da SL (Super Luxo, a mais barata disponível para o grande público), a intermediária Comodoro SL/E (De Super Luxo Especial) e, no topo da gama, a Diplomata SE (de Super Especial). A linha esportiva SS permanecia com suas variações de quatro e seis cilindros (SS-4 e SS-6, respectivamente). Foi também em 1988 que a ultrapassada transmissão automática de três marchas dava lugar a moderníssima caixa ZF de quatro velocidades, usada pelas grandes alemãs BMW, Mercedes-Benz e Audi.

Reestilizada na linha 1988 junto com a sedan, a carroceria coupé se despedia do mercado nacional em 1989 (Foto: Chevrolet/divulgação)

No ano seguinte a carroceria cupê saía de cena. Ela perdia espaço no mercado nacional pela crescente preferência do consumidor pelos carros quatro portas, além da queda nas vendas. Esse já era o início daqueles que seriam os últimos anos do Opala, mas nem por isso ele deixava de receber mais alguns aperfeiçoamentos, como por exemplo a adoção da maior taxa de compressão, bielas mais longas, novo carburador e coletor de admissão no motor 4.1, que ganhava 3 cv na versão a gasolina e 6 cv na versão a álcool (agora 121 cv e 141 cv, respectivamente). Essas melhorias também garantiram uma redução no consumo de combustível graças ao menor atrito interno do motor.

Em 1990, na virada da década, foi o ano do golpe de misericórdia contra o Opalão: a liberação da importação de carros. A partir daí, o consumidor brasileiro tinha acesso a modelos importados de todo o mundo, e, aí sim, o interesse pelo sedan de luxo da GM baixou vertiginosamente. Ao invés de um obsoleto Opala, o consumidor passou a procurar o modernismo dos sedans europeus ou asiáticos: BMW 325, Honda Accord, Toyota Camry, Alfa Romeo 164 e por aí vai.

Na tentativa de combater o sucesso dos importados, a Chevrolet preparou mais mudanças para o Opala 1991 (Foto: Chevrolet/divulgação)

Como último suspiro e tentativa de levantar o Opalão, a GM do Brasil providenciou mais uma reestilização para ele na linha 1991. Agora com parachoques envolventes em plástico e janelas inteiriças ao invés dos quebra-ventos, além de nova grade, faróis, lanternas, saias laterais, rodas e interior, o sedan de luxo da Chevrolet ainda conseguia ter lá sua exclusividade: era o único modelo com freios a disco nas quatro rodas fabricado no Brasil na época.

Para o ano seguinte, 1992, chegava o atrasado câmbio manual de 5 marchas nas versões 4.1. Essa seria a última novidade do Opalão, já que seu fim estava bem próximo: ele resistiu bravamente até abril de 1992, mais precisamente no dia 16 daquele mês. Para se aposentar em alto estilo, ele ganhou uma serie especial batizada de Diplomata SE Collectors, limitada em 100 unidades e repleta de mimos entregues aos seus exclusivos proprietários. Ao mesmo tempo, também no mês de abril de 1992, durante sua despedida, ele batia outra marca histórica: 1 milhão de unidades produzidas, agora contabilizando também sua perua Caravan. Entre idas e vindas, o momento era de comemoração pela marca do milionésimo carro, mas também de comoção pela despedida do Opala.

Ao mesmo tempo que comemorava sua milionésima unidade produzida, o Opala chegava ao fim da sua carreira de 24 anos (Foto: Marco de Bari/revista Quatro Rodas)

Foram 24 anos atendendo as necessidades de transporte de famílias brasileiras de todas as classes sociais, desde aqueles que compravam um Opalão 2.5 Standart até os mais abastados financeiramente com seus Opala seis cilindros topo de linha. Esse sedan de luxo da GM parece que foi feito sob medida para as famílias brasileiras dos anos 70 e 80, fato comprovado pelo seu sucesso por aqui.

Mas depois de mais de duas décadas de bons serviços prestados, muita história pra contar e uma grande legião de fãs, esse GM saiu de cena de maneira honrosa e com aplausos, sendo vitorioso desde o uso urbano até as pistas de competição, onde se destacou em várias categorias e até inaugurou a categoria Stock Car que estamos acostumados a ver hoje como o topo do automobilismo brasileiro. Sem dúvidas, o Opalão tem um posto de destaque reservado nas estrelas da indústria automobilística nacional.

Chevrolet/Divulgação
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Jornalista na área automobilística há 48 anos, trabalhou na revista Quatro Rodas por 10 anos e na Revista Motor Show por 24 anos, de onde foi diretor de redação de 2007 até 2016. Formado em comunicação na Faculdade Cásper Líbero, estudou três anos de engenharia mecânica na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e no Instituto de Ensino de Engenharia Paulista (IEEP). Como piloto, venceu a Mil Milhas Brasileiras em 1983 e os Mil Quilômetros de Brasília em 2004, além de ter participado em competições de várias categorias do automobilismo brasileiro. Tem 67 anos, é casado e tem três filhos homens, de 20, 31 e 34 anos.