Carros elétricos com autonomia reduzida pelo INMETRO. Como fica?
O INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia) começou 2023 mudando a vida dos carros elétricos. Se antes, para divulgar o alcance dos modelos, as fabricantes podiam se basear no chamado “ciclo WLTP”, uma padronização mundial de medida de alcance dos veículos elétricos, ou em ciclos regionais como NEDC (europeu) e EPA (norte-americano), agora deverão seguir as normas PBEV (Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular), do INMETRO. Esse é o mesmo programa que calcula os números de consumo divulgados pelo instituto.
Segundo a ANFAVEA (Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores), a tal padronização do PBEV já era prevista há algum tempo, e deverá ser oficializada nos próximos meses. A partir daí será adotada obrigatoriamente por todas as marcas em seus modelos eletrificados. O motivo, como disse a Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), é que o brasileiro ainda não está totalmente habituado a dirigir um carro elétrico aproveitando seu máximo de eficiência, como regeneração de energia ou melhores modos de condução.
Além disso, vale falar das particularidades do nosso clima, piso, terreno e por aí vai, que são diferentes daqueles encontrados no exterior, resultando em alcances diferentes e, algumas vezes, incomparáveis. O que muda nisso tudo? Assim que a portaria do INMETRO for oficializada, todas as fabricantes inscritas no PBEV deverão informar os novos dados nacionais de medição ao invés dos padrões usados no exterior. Os números do INMETRO são sempre menores, mas a porcentagem varia de carro pra carro.
Dentro da gama Volvo, por exemplo, há modelos que reduziram a autonomia em 27% (XC40 Recharge, que caiu de 418 para 305 km) e outros em 45% (XC40 Single Motor, indo de 420 para 231 km). A Nissan foi outra que já adotou as novas regras com o Leaf, que agora passa a ter alcance 33% menor (de 289 para 192 km). Ainda como dito pela ABVE, o objetivo com as novas regras é informar a situação mais desfavorável para um carro elétrico, ou mais ou menos algo como um “alcance no pior das hipóteses”.
Por outro lado, números menores de autonomia, um dos principais problemas dos elétricos, podem desestimular mais a eletrificação automotiva por aqui. Falando em vendas, em 2022 foram comercializados quase 50 mil veículos eletrificados no nosso mercado, dos quais quase 30,5 mil híbridos, mais de 10,3 mil plug-in e quase 8,5 mil 100% elétricos. No geral, o crescimento foi de mais de 40% com relação a 2021.
Lembrando que o método de cálculo de alcance em modelos elétricos pelo PBEV já existia, tanto que alguns modelos como Caoa-Chery iCar, BYD Tan e Renault Kwid E-Tech o utilizam desde seus lançamentos, mas ainda não era padronizado para o mercado brasileiro. E, sim, até esses carros que já divulgavam alcance no padrão INMETRO terão alcance 30% reduzido. Essa deverá ser a redução média de autonomia. Os testes e formas de medição são os mesmos, mas com resultados diminuídos.
Os híbridos, mistos de combustão e eletricidade, também passarão pelas mesmas mudanças, principalmente os de motor a gasolina. Tecnicamente nenhum carro mudará no powertrain: manterão o conjunto já encontrado hoje, com apenas uma autonomia declarada diferente. Ao longo do ano, outras fabricantes vão divulgar os novos dados oficializados pelo PBEV do INMETRO.
Opinião: certo ou errado?
Algumas fabricantes e outros órgãos ligados a automóveis não gostaram muito, já que tende a desencorajar futuros donos de elétricos com o alcance reduzido, além de, claro, colocar abaixo os argumentos de vendas dos modelos com maior autonomia (como os elétricos da Volvo). Por outro lado, há quem defenda que a padronização para o nosso consumidor, geografia e mercado era necessária, já que Europa ou EUA não refletem a situação de uso e clima brasileiro.
Pelos carros elétricos e eletrificados já avaliados aqui no Carros&Garagem, alguns modelos poderiam a superar os números do WLTP (como foi o caso do Volvo XC40 Recharge), isso nas melhores condições e evitando “desperdícios” como ar-condicionado. O Renault Kwid E-Tech, que já era padronizado pelo INMETRO, foi outro que se aproximou dos 298 km de alcance divulgado, assim como o Volvo XC60 Hybrid, que, declarado pela fabricante, consegue rodar até 78 km como um carro totalmente elétrico.
Já outros, como o JAC E-JS4, se mostrou “mais gastão” em nossos testes do que o divulgado. A marca fala em 420 km de alcance pelos padrões do NEDC, mesmo que tenhamos conseguido cerca de 360 km no uso real mesclando cidade e estrada. Com o BYD Tan EV, também padronizado pelo INMETRO em 437 km de alcance, nosso resultado real foi em torno dos 380 km, mas nesse caso com ar-condicionado ligado quase todo o tempo.
Tudo depende do ciclo divulgado oficialmente pela fabricante (por exemplo, o europeu NEDC tende a ser mais otimista que o WLTP, mundial), e diversos outros fatores como região de uso do carro (já que clima mais quente tende a aumentar o consumo de energia), peso do veículo (se está carregado ou vazio) e, claro, o bom e velho estilo de condução do motorista. Mais apressadinhos terão menor alcance.
Talvez os 30% de redução sejam maiores que o necessário e esperado, ainda mais em um momento de incentivo a eletrificação automotiva no Brasil. Já a padronização para uma situação “abrasileirada” vem bem a calhar, facilitando o entendimento do consumidor e o comparativo entre os modelos, além de se aproximar da realidade.